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Segurança pública

O Estado sob ameaça: o avanço silencioso de organizações criminosas na política

Facções ampliam influência eleitoral, econômica e institucional e já ameaçam a integridade das eleições e a soberania democrática.

Vicente Braga

Vicente Braga

3/12/2025 10:00

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A infiltração do crime organizado na política representa uma das mais graves ameaças já impostas à democracia brasileira. Se antes o poder paralelo limitava-se a controlar territórios e economias ilegais, hoje ele avança sobre o próprio Estado, almejando o controle institucional de decisões e recursos públicos. O fenômeno, que há poucos anos poderia parecer distante, já se manifesta com contornos concretos: facções com estrutura empresarial, financiamento sofisticado e representantes eleitos no Legislativo e no Executivo. É o cenário mais temido por qualquer sociedade — quando o crime deixa de ser um problema de segurança e se transforma em um ataque à soberania de uma nação.

Às vésperas das eleições de 2026, o tema assume dimensão ainda mais urgente. O pleito que se aproxima não será apenas uma disputa por projetos de governo, mas um teste de resistência institucional diante da crescente capacidade de infiltração do crime nas estruturas políticas. Em várias regiões do país, facções criminosas já influenciam campanhas, financiam candidatos e exercem pressão direta sobre comunidades inteiras, transformando o voto em instrumento de perpetuação do poder ilícito. O risco não é teórico: trata-se da possibilidade real de o Estado ser capturado por quem vive à margem da lei.

Nos últimos anos, multiplicaram-se os indícios de articulações entre grupos criminosos e lideranças políticas locais. A cooptação de candidatos, o uso de recursos de origem duvidosa e o controle territorial exercido por facções são fatores que comprometem a lisura do processo democrático. Em algumas localidades, o domínio exercido pelo crime sobre o cotidiano das comunidades se converte em capital eleitoral — quem controla o território controla também os votos. Assim, o poder paralelo se transforma em poder político.

Paralelamente, observa-se um movimento de inserção dessas organizações na economia formal. O recente caso de uma gestora financeira acusada de administrar recursos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) revela um novo estágio de sofisticação: a diversificação dos meios de lavagem de dinheiro e de reinvestimento em atividades aparentemente lícitas. O crime, agora, investe, empreende e lucra — e, ao fazê-lo, contamina o sistema financeiro e enfraquece os mecanismos de controle institucional. Quando o capital ilícito se mistura ao capital produtivo, as fronteiras entre o legal e o ilegal tornam-se perigosamente tênues.

Redes criminosas financiam campanhas, capturam territórios e buscam representação estatal, colocando 2026 sob alerta máximo.

Redes criminosas financiam campanhas, capturam territórios e buscam representação estatal, colocando 2026 sob alerta máximo.José Aldenir/Folhapress

A presença de representantes de facções em cargos eletivos é a fronteira final da degradação republicana. Quando o crime organizado se torna parte do poder público, rompe-se o pacto civilizatório que sustenta o Estado Democrático de Direito. A captura institucional — isto é, o domínio de órgãos e funções estatais por interesses criminosos — significa que decisões sobre segurança, orçamento e políticas públicas passam a atender a quem vive da ilegalidade. Nesse ponto, a sociedade deixa de ser protegida pelo Estado e passa a ser governada por ele sob a lógica do medo e da conveniência.

O "pior que pode acontecer" — a consolidação de um Estado capturado — não é uma hipótese remota, mas uma ameaça em curso. Combater esse processo exige mais do que operações policiais. Implica fortalecer os mecanismos de controle institucional, ampliar a transparência eleitoral, rastrear o financiamento de campanhas e garantir a responsabilização efetiva de agentes públicos que se associam ao crime. A integridade das eleições de 2026 dependerá da capacidade das instituições de resistirem a essa tentativa de cooptação.

Também é necessário um esforço coordenado de inteligência financeira e investigação patrimonial para cortar o fluxo econômico que sustenta essas organizações. O enfrentamento precisa alcançar o dinheiro, o poder e a influência — e não apenas a base operacional das facções. É preciso, sobretudo, recuperar a confiança social nas instituições, pois onde o Estado é fraco, o crime se apresenta como alternativa de poder.

O Brasil precisa compreender que o combate à infiltração criminosa na política é, antes de tudo, uma defesa da soberania popular. Permitir que o poder paralelo ocupe o espaço do poder legítimo é abrir mão da democracia. O fortalecimento das instituições e a vigilância da sociedade são, hoje, as barreiras que separam o Estado de Direito da barbárie institucional.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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