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As escolas de samba são terreiros na avenida. Carregam toda a filosofia de nossos ancestrais, porque pensamos com base em gente de todos os tempos

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2/3/2023 | Atualizado às 12:40

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Mulheres Negras em frente ao carro alegórico que representa a Rosa Maria Egípcia. Foto: Wagner Rodrigues

Mulheres Negras em frente ao carro alegórico que representa a Rosa Maria Egípcia. Foto: Wagner Rodrigues
Pensar em MODO DE VIDA a partir do samba nos leva ao compositor da Portela, Antonio Candeia Filho, autor de Filosofia do Samba, que tem como refrão Mora na Filosofia, morou, Maria... Morou Maria? Morou, Maria! Nele este poeta afirma que para cantar samba é preciso buscar memórias, porque cego é quem vê apenas onde a vista alcança. Candeia nos prova como o canto negro é uma construção musical e literária que necessita de estudos mais profundos, por mostrar respeito e honra aos ancestrais, se voltando para a constituição de família e de laços com o território. Como nos fala Muniz Sodré ,através de seus livros inúmeros e inspiradores, a leva de escravos na Bahia, constituída de sacerdotes, pensadores, filhos de reis e rainhas, precisavam se territorializar aqui. O terreiro de candomblé foi a solução encontrada. Ele representa uma forma de viver e de pensar. É esse culto que se transplanta para cá, diferente de África, porque se reterritorializa. Para a comunidade preta o pensamento atravessa o corpo. Consideramos o espaço, a música, a aglomeração . Precisamos de gente, de axé, do outro. Nossa cultura é de valorização dos filhos, do acúmulo de pessoas e não de bens. A ideia de Alegria vem de ala-asa, perder o chão, sendo harmonia perfeita, sintonia completa com o movimento da terra. A lógica do lugar se relaciona com o corpo, o espaço, a alegria. As escolas de samba são terreiros na avenida. Carregam toda a filosofia trazida por nossos ancestrais, porque pensamos com base em gente de ontem, de hoje e de amanhã. Reproduzem a família, valorizam o território, geram identidade e lidam com a alegria de viver. Meu encontro com Candeia vem de longe, já que participei da criação do Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de samba Quilombo,que foi criado em 1975 a partir das preocupações deste sambista com os rumos do carnaval e das escolas de samba que estavam se tornando glamourosas e mercadológicas em demasia. Candeia acreditava que era preciso preservar as tradições de base africana que formaram as bases das escolas de samba, preocupado com as interferências e decisões de figurinistas, coreógrafos, artistas plásticos e outros. Entendia a escola como um espaço para todas as pessoas que respeitassem as tradições, afirmando que nele todos podem colaborar, mas ninguém pode imperar. Assim , reuniu importantes sambistas como Paulinho da Viola, Nei Lopes, Wilson Moreira, Rubem Confete e outros, em sua casa , na Taquara, bairro do subúrbio carioca ,dando o pontapé inicial no GRANES Quilombo. Surge assim uma escola de samba e de arte negra como um quilombo de resistência e preservação da tradição africana, além de ser um centro de formação cidadã sobre a história do povo preto. As propostas filosóficas do Granes Quilombo se traduzem neste carnaval de 2023 nas memórias trazidas pelas escolas que homenagearam Zé Espinguela, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, os 100 anos da Portela, Lampião , nossas raízes africanas e a alegria de viver, Seguindo a estratégia da Rainha Nzinga de Angola, formar um quilombo era construir um espaço de terra onde pudessem professar a sua fé segundo seus ancestrais e pudessem se olhar como seres da natureza, diversos, mas absolutamente necessários, tais como o ar, a água, a terra e o fogo , energias indispensáveis à vida.. As escolas de samba representam isto, como afirma C andeia no seu Filosofia do samba. Se o dia nasce Renasce o samba Se o dia morre Revive o samba Para Candeia todos podem estar no universo do samba, sem distinção de cor, mas afirma em seu Dia de Graça: Negro acorda é hora de acordar Torne toda manhã dia de graça Negro não se humilhe nem Humilhe ninguém Todas as raças já foram escravas Também E deixa de ser rei só na folia e Faça de sua Maria uma rainha Todos os dias E cante o samba na universidade E verás que seu filho será Príncipe de verdade Colocar o pensamento de base africana presente no samba na Universidade é dar um passo à frente, reconhecendo outros saberes além dos existentes no mundo ocidental e tão presente em nosso país que conta com mais de 57% de sua população descendente de africanos. Para a comunidade do samba o pensamento atravessa o corpo e o toque da bateria se constitui num núcleo civilizatório que se projeta para todo o Brasil e o mundo. É a valorização do corpo presente, da formação de gente que precisa de gente para aprender e a olhar com outros olhos a sabedoria presente na oralidade que nos transmite conhecimento inédito em seus sambas-enredos e tambores, mostrando como os saberes do samba são formas de sentir, ser e estar no mundo, que permitem ao corpo se ampliar e ganhar novos espaços na sociedade e na globalidade em que vivemos. Não tem a cultura do pecado, nem se pauta numa dívida de paraíso. O bom é aqui e agora, numa lógica que se funda na alegria, na valorização do corpo presente e pulsante, ao som do tambor, levando outros corpos a dançar , possibilitando a todos o grande banquete da vida, forjando movimentos que permitem o pensar com outros corpos , sempre em profunda harmonia com o ontem e o amanhã. Muniz Sodré afirma que os mitos, as lendas e os contos populares são vias de acesso ao inconsciente de um povo. A lenda do Boi Bumbá, tão presente em todo o país aponta diretamente para o universo mítico da cultura afro-brasileira. para a fé e liberdade de ser, presente neste desfile de 2023. O Boi neste auto representa a resistência de descendentes de africanos e de povos originários para a preservação de sua identidade e de seus sonhos, que se revelam no Bumba meu Boi do Maranhão, nos Bois de Parintins, nos Bois de Mamão, enfim em de todos os lugares em que se encontrem o povo preto e indígena. Da mesma forma os enredos de 2023 se tornam protestos da comunidade preta já que mostram regras de coesão social da comunidade e a preocupação com a estrutura da personalidade de seus integrantes. É a valorização do corpo presente, da formação de gente que precisa de gente para aprender. O encontro traz alegria, faz a festa, permitindo a participação de todos, brincantes e assistentes. As escolas foram buscar em suas histórias e crenças a força para mostrar seus valores e sua fé na vida. Essa fé se revelou em sua capacidade de se comunicar e de transformar o mundo com caminhos e olhares novos que permitem crescimento e bom viver. Usando seus itans, histórias contadas pelos mais antigos, mostraram energias capazes de superar a dor e as dificuldades. Histórias como as de Madame Satã, Lampião e Rosa Maria Egipcíaca, que revelam novos pensares sobre a comunidade LGBTQI+, o cangaço ,a fé, os privilégios e preconceitos presentes em nossa sociedade. Uma Nova História Política do Povo Brasileiro, contada a partir de sua população se torna necessária. Os enredos das escolas de samba revelam tal fato. A presença de diversas imagens de São Jorge, o santo guerreiro, que também representa Ogum, orixá guerreiro, mostradas como verdadeiras obras de arte, demonstram a preocupação dos sambistas com a justiça e os direitos humanos. Os protestos solicitando escolas, atendimento de saúde, respeito a seus territórios e à sua fé foram constantes. Tivemos muita arte, muita alegria, mas , também, muita consciência das necessidades e direitos do povo. O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. Outros artigos do Olhares Negros
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