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Lydia Medeiros
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Bastidores
18/7/2025 9:00
Quando foi derrotado nas eleições presidenciais de 2018, depois de obter menos de 5% dos votos no primeiro turno, o médico Geraldo Alckmin afastou-se da política e voltou ao ofício. Trabalhou como voluntário em hospitais do SUS, fazendo aplicações de acupuntura. A vida estava tranquila até que, no início de 2022, uma articulação comandada por Fernando Haddad o levou à chapa de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais, representando o PSB.
O vice-presidente, aos 72 anos, tem uma trajetória singular na política: vereador, prefeito de Pindamonhangaba, deputado estadual, deputado federal, vice-governador e quatro vezes governador de São Paulo. Antes da derrota de 2018, disputou a Presidência em 2006, numa campanha desastrada em que conseguiu ter menos votos no segundo turno do que no primeiro. A disputa espalhou para o Brasil o apelido criado por Paulo Maluf em 2002, o "picolé de chuchu". Para completar, Alckmin é anestesista: sabe fazer alguém dormir.
Alckmin sempre disse que o apelido não o incomodava e que seu estilo era aquele mesmo, mais discreto e menos "palanqueiro": "Eu acho que a população não quer um showman, ficar fazendo pirotecnia, espetáculo", disse na campanha de 2022.
As características que o eleitor transformou em memes são hoje um trunfo para o governo Lula. A voz quase monocórdia, a dicção cuidadosa, o perfil de político experiente, ponderado e aparentemente imune a arroubos ideológicos colocaram Alckmin no centro da grave crise gerada pelas tarifas impostas por Donald Trump aos produtos exportados pelo Brasil.
Lula escalou o vice para liderar um comitê de negociação com o governo americano. Nos últimos dias, Alckmin teve encontros com representantes empresariais. Recebeu elogios e até um "sonoro agradecimento" da agroindústria. Ele escuta os empresários, enquanto espera uma resposta do governo dos Estados Unidos sobre a proposta brasileira de negociação comercial.
A tarefa do "picolé de chuchu" é dura, mas sua atuação tem o mérito de tirar as paixões da sala de negociação. Coisa de anestesista.
Alckmin é uma espécie de curinga no baralho do governo Lula. As sucessivas hesitações e tropeços do governador paulista Tarcísio de Freitas na crise Brasil-Estados Unidos fizeram com que Alckmin entrasse no cardápio de opções de uma ala do PT, o chamado campo lulista, para eventual candidatura ao Palácio do Bandeirantes.
Tarcísio deu-se mal na tentativa inicial de negociar com os EUA. Não tinha mandato para isso e, ao mesmo tempo, entrou em rota de colisão com a família Bolsonaro. Ele continua sendo um refém eleitoral do ex-presidente.
Entre empresários de São Paulo, o estado mais afetado pelo tarifaço de Trump, tornaram-se inevitáveis as comparações entre o governador e o vice-presidente. Sobressaíram comentários sobre a inexperiência política de Tarcísio. Depois de abraçar Alckmin na vice de Lula em 2022, o PT poderá ter de patrocinar um movimento "volta, Alckmin" em 2026. Seria irônico porque ele governou São Paulo por duas décadas, sempre com a oposição ferrenha dos petistas.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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