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Beth Veloso
Beth Veloso
Sociedade conectada
10/9/2025 | Atualizado às 14:37
As redes sociais têm sido chamadas de espaços de conexão, mas também já receberam rótulos de redes antissociais ou associais. Elas prometem proximidade, mas será que cumprem essa promessa? Ou, ao contrário, acabam intensificando o sentimento de solidão?
O ser humano é social. Nossa espécie sobreviveu formando grupos, compartilhando estratégias, criando proteção coletiva. Mas será que a interação mediada por telas preserva essa essência?
Essa lembrança da evolução é fundamental: o convívio presencial não é acessório, é constitutivo. Quando trocamos isso pelo digital, algo essencial se perde.
O médico neurologista Ivar Brandi se debruçou sobre o tema da solidão na era moderna e traz insights preciosos sobre o mundo em que vivemos e como nos preparar para essas mudanças de comportamento e de estar no mundo. Ele começa colocando em questão o conceito de "rede social".
"O Jonathan Haidt, no livro dele, sobre a geração ansiosa, ele coloca que as redes sociais podem ser chamadas de redes antissociais ou redes associais. E tem diversos fatores que nos permitem afirmar que as redes sociais, elas não substituem, de maneira alguma, a socialização real, a socialização presencial, face a face, né? E um ponto muito importante também da gente colocar é que nós somos animais, seres sociais, né? A força da espécie humana, a existência nossa como uma espécie animal se deve à nossa capacidade de formar grupos sociais, à capacidade de lutar contra os predadores, de fugir em casos de ameaças naturais e de ter pessoas em grupos sociais, líderes em grupos sociais que nos protegeram ao longo da evolução."
Se a comunicação face a face traz nuances invisíveis - pausas, gestos, silêncios - como se comporta a comunicação digital?
A comunicação digital reduz essas camadas. Ficamos apenas com palavras e imagens editadas, muitas vezes distantes do que realmente sentimos.
Há também o tempo e o corpo como elementos da socialização. No mundo digital, tudo se torna fragmentado e assíncrono. A ausência de presença física altera a qualidade do encontro. Por isso, essa sensação de vazio, de espera, de não preenchimento, que gera uma enorme ansiedade.
Ivar Brandi explica as razões dessa sensação de inadequação.
"Uma delas é que a socialização nas redes sociais é uma socialização assíncrona, né? Uma socialização síncrona como a socialização no mundo real. Então, eu posto algo na rede social e horas depois, minutos ou meses, semanas depois, alguém vai lá e comenta. A socialização das redes é uma socialização descorporificada. Não há a interpretação da linguagem corporal, a interpretação das pistas faciais, da prosódia, do silêncio, que são informações muito relevantes na socialização real, na socialização face a face."
Então eu não posso dizer que as redes sociais são contraindicadas para intermediar as relações humanas?
Não é a rede social que afasta as pessoas, mas o seu uso inadequado exacerba a solidão.
Também é preciso diferenciar solidão de solitude. A solitude é buscada e pode ser fecunda. A solidão, ao contrário, é sentida como carência. O ponto central talvez não esteja na rede em si, mas em como a utilizamos - e em quem a utiliza, como explica Ivar Brandi.
"Nós podemos falar que o uso inadequado das redes sociais exacerba a solidão. Se a gente lembrar, por exemplo, do período da pandemia, quando nós estivemos afastados, trabalhando em casa, restritos em casa, a rede social, as redes sociais permitiram o vínculo social, permitiram ter contato com familiares, permitiram o exercício da empatia, da compaixão e diversas outras atividades até mesmo a educação à distância. Portanto, o uso inadequado das redes sociais acentua a solidão e principalmente nas pessoas mais vulneráveis, idosos, pessoas em situação de vulnerabilidade, em minorias, migrantes, que fazem o uso inadequado e que vinculam a socialização apenas na socialização virtual, neste caso, a uma acentuação desse sentimento de solidão."
Outro aspecto que me preocupa é o funcionamento das redes, pois o que parecia apenas uma escolha individual - ver o que nos agrada - revela-se como um mecanismo poderoso de reforço através dos algoritmos. É isso, Beth Veloso?
As redes nos conectam, mas também nos isolam. O neurologista Ivar Brandi lembra que alguns pontos já são indiscutíveis e um deles tem relação com a exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais. Para ele, a rede social não é lugar para a criança e para a adolescente. Rede social é assunto de gente séria, de gente adulta, de gente responsável. Então, a regulação, a proibição e a regulamentação do acesso dos adolescentes é um ponto indiscutível. A exemplo do PL 2628, de 2022, que foi aprovado e será sancionado em breve pelo presidente da República.
Idosos, migrantes, pessoas em situação de vulnerabilidade sofrem mais nesse processo. Precisamos de leis, sem dúvida, para corrigir essas distorções, e de educação midiática digital para entender o que está por trás dos algoritmos das redes sociais.
Confira a entrevista em vídeo:
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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