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EDUCAÇÃO
Congresso em Foco
15/10/2025 | Atualizado às 9:59
O Dia do Professor, comemorado nesta quarta-feira, 15 de outubro, é hoje uma das datas mais simbólicas do calendário nacional. Mais do que uma homenagem, ela carrega a história da própria educação brasileira, uma história que começa no Império, ganha força com o idealismo de professores no pós-guerra e se consolida graças à atuação de dois personagens fundamentais: Salomão Becker, o educador que idealizou a comemoração, e Antonieta de Barros, a pioneira negra da política e da educação autora da primeira lei no país que instituiu a celebração.
O ponto de partida está em 15 de outubro de 1827, quando o imperador Dom Pedro I assinou um decreto que criou o ensino elementar no Brasil. O texto determinava que "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras", regulando o conteúdo ensinado (leitura, escrita, aritmética e princípios morais) e fixando regras para a contratação e pagamento dos professores.
Foi o primeiro passo institucional do Estado brasileiro na educação. Por isso, a data ficou registrada como um símbolo da fundação do ensino público no país, ainda que, na prática, a rede escolar demorasse décadas a se consolidar. Mais de um século depois, esse decreto inspiraria os educadores que escolheram o 15 de outubro como dia de celebração da docência.
O professor Salomão Becker e o nascimento da celebração
A tradição de comemorar o Dia do Professor começou em 1947, na cidade de São Paulo. O autor da ideia foi Salomão Becker, professor de História e Filosofia no Ginásio Caetano de Campos, instituição-modelo do ensino público paulista.
Naquele ano, Becker percebeu que professores e alunos estavam exaustos no fim do segundo semestre. Propôs, então, uma "parada pedagógica" - um dia de descanso e reflexão sobre o ano letivo, com espaço para diálogo entre docentes, estudantes e pais. O dia escolhido foi 15 de outubro, em referência ao decreto imperial de 1827.
A proposta rapidamente se espalhou: escolas públicas e particulares de São Paulo adotaram a data, que passou a ser vista não apenas como um intervalo pedagógico, mas como um momento de valorização do magistério.
Salomão Becker era conhecido por sua visão humanista e inovadora. "Professor é profissão. Educador é missão", dizia. Filho de imigrantes judeus, dedicou sua vida à educação pública e à formação cidadã. Para ele, celebrar o professor significava celebrar o saber e o compromisso ético com o futuro. Sua iniciativa, nascida de um gesto simples, tornou-se uma tradição nacional. A comemoração, contudo, não estava prevista em lei.
Antonieta de Barros: a deputada negra que fez história
Pouco tempo depois, a celebração ganhou força política graças a uma mulher pioneira: Antonieta de Barros (1901-1952). Nascida em Florianópolis, filha de ex-escravizados, Antonieta foi professora, jornalista, escritora e a primeira mulher negra eleita deputada estadual no Brasil.
Defensora incansável da educação como instrumento de emancipação, ela fundou cursos para alfabetizar mulheres e pessoas pobres em Santa Catarina, além de escrever crônicas e artigos sobre igualdade racial e social.
Em 1948, um ano após a iniciativa de Becker em São Paulo, Antonieta apresentou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina o projeto de lei nº 145, que instituiu 15 de outubro como feriado escolar estadual em homenagem aos professores. O texto foi aprovado e sancionado, tornando-se o primeiro reconhecimento oficial da data no país.
Sua atuação foi decisiva: ela transformou uma ideia local em política pública, conferindo legitimidade e visibilidade nacional à comemoração. Ao fazer isso, Antonieta reafirmava sua crença de que "educar é libertar", e que o professor era o agente principal dessa libertação.
"Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços", afirmou após a aprovação de sua lei.
Antonieta foi eleita em 1934 deputada estadual por Santa Catarina, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós se elegeu deputada federal por São Paulo. Em 2023, o nome da catarinense foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Dos exemplo locais à lei nacional
A iniciativa se espalhou por outros estados e, em pouco mais de uma década, a celebração já estava consolidada em todo o país. Em 1963, o presidente João Goulart assinou o Decreto Federal nº 52.682, oficializando o 15 de outubro como o Dia do Professor em todo o território nacional.
O decreto determinava que as escolas promovessem solenidades e eventos "para enaltecer a função docente", estabelecendo também que a data seria feriado escolar - ou seja, com suspensão das aulas, mas sem efeito para os demais setores.
A partir daí, o 15 de outubro passou a integrar o calendário oficial da educação brasileira, consolidando um reconhecimento institucional e simbólico do papel do professor na formação da sociedade.
Um legado de luta e inspiração
Mais do que uma efeméride, o Dia do Professor expressa um reconhecimento histórico e político. É o resultado do gesto criativo de um educador idealista e da ação corajosa de uma mulher negra que abriu caminho num ambiente dominado por homens brancos. Salomão Becker transformou a valorização do professor em prática cotidiana, propondo um momento de reflexão dentro da escola. Antonieta de Barros levou essa ideia ao poder público, convertendo o reconhecimento em lei.
Celebrar o Dia do Professor é, portanto, revisitar a origem da educação no Brasil e renovar o compromisso de valorizar quem dedica a vida a ensinar. É lembrar que sem professores não há cidadania, ciência nem democracia.
A data também convida à reflexão sobre o presente: os desafios da carreira docente, os baixos salários, a falta de infraestrutura e o desrespeito crescente à profissão.
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