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A democracia em julgamento: o caso Zambelli, dos feeds ao tribunal

Zambelli é exemplo de como redes sociais viraram trincheiras de desinformação, estratégia política e ameaça à democracia.

Coletivo Legis-Ativo

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Djiovanni Marioto

Djiovanni Marioto

10/6/2025 10:28

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A condenação e pedido de prisão da Carla Zambelli está intrinsecamente ligado às redes sociais e ao seu uso na Câmara dos Deputados e em toda a sociedade. A sua trajetória começou a se complicar na esfera eleitoral a partir da decisão do TRE-SP, ao qual ratificou a decisão de cassação do mandato da deputada por 8 anos, tornando-se inelegível até 2030. A condenação foi motivada pelo uso indevido dos meios de comunicação e abuso do poder político.

Durante as eleições de 2022, Carla Zambelli foi uma das principais articuladoras bolsonaristas nas redes sociais com diversas publicações contrárias à esquerda e disseminando fake news sobre o processo eleitoral. As ações da então deputada durante as eleições e seus desdobramentos subsequentes revelam um padrão de conduta que combinou a disseminação de informações inverídicas com atos de intimidação, culminando em graves consequências legais e políticas.

A propagação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas e o abuso de poder político tiveram um impacto direto na desestabilização do ambiente democrático e na erosão da confiança nas instituições eleitorais. O incidente de intimidação com arma de fogo na véspera do pleito de 2022, embora objeto de um processo criminal separado, reforçou a percepção de um comportamento que transcende a retórica política, adentrando o campo da ameaça física à ordem pública e à liberdade de imprensa em um período eleitoral crítico. Tais atos demonstram uma ação intencional de disseminar notícias falsas para corroer o processo eleitoral e atacar diretamente a democracia brasileira e suas instituições.

Reações ao caso Zambelli ilustram como as redes deixaram de ser espaço de debate para virar arquipélagos de guerra ideológica.

Reações ao caso Zambelli ilustram como as redes deixaram de ser espaço de debate para virar arquipélagos de guerra ideológica.Bruno Spada/Câmara dos Deputados

A decisão do TRE-SP a tornava inelegível, enquanto a condenação criminal e pedido de prisão pelo STF se tornou o gatilho direto para a perda do mandato atual. Adicionalmente, a decisão de Carla Zambelli de solicitar uma licença de 127 dias da Câmara dos Deputados, com a justificativa de tratamento médico, ocorreu em um momento de crescente pressão judicial. Embora apresentada como uma necessidade médica, o momento dessa solicitação, antes mesmo da decisão do Supremo Tribunal Federal de bloquear seus rendimentos, sugere uma manobra estratégica.

A licença pode ter sido uma tentativa de mitigar as repercussões financeiras e penais imediatas, como o bloqueio de seu salário, ou de criar um período de transição antes da inevitável perda de mandato que se encaminhava devido à condenação criminal. Essa ação também lhe permitiu deixar o país sob o pretexto de tratamento, possivelmente antecipando a ordem de prisão. Essa resposta tática demonstra uma tentativa de gerenciar a percepção pública e os impactos financeiros imediatos diante de uma escalada de pressão legal.

Este caso gerou uma intensa repercussão nas redes sociais provocando manifestações diversas tanto no parlamento, quanto na sociedade, refletindo a polarização política brasileira. Em monitoramento feito pelo Instituto Democracia em Xeque, entre os dias 12 e 16 de maio, sobre a condenação de Zambelli, houve a demonstração de uma predominância de publicações da direita (76%), lançando mão de narrativas sobre tentativas de silenciamento, perseguição política e abuso de poder, ao passo que a esquerda (22% das publicações) comemorou a condenação como um ponto primordial na responsabilização de atos antidemocráticos.

Quanto às publicações dos principais parlamentares nas redes sociais sobre o pedido de prisão de Zambelli na última semana, analisando cada espectro político, nota-se que a esquerda se mantém em tom de festa e alegria pelo pedido de prisão definitivo, frequentemente capitalizado sobre a situação, buscando reforçar a imagem de Zambelli como uma figura que atenta contra a democracia, centro de disseminação de fake news e que agora está foragida do governo brasileiro. As narrativas da direita se intensificaram sobre o ponto da censura, após as suas redes sociais e de seus filhos serem bloqueadas por ordem judicial em diversas plataformas, segundo ponto crescente foi da perseguição política acusando o Judiciário de estar perseguindo a população "conservadora" do Brasil.

Olhando para este caso, o que fica é o questionamento sobre qual é o papel das redes sociais. Um dia se foi criado por pesquisadores da comunicação política que as redes sociais poderiam ter o potencial de se tornar uma esfera pública habermasiana em conjunto com a ampliação da deliberação pública, sendo um ambiente propício para debates e construção de opinião. O que foi percebido ao decorrer dos anos, foi cada vez mais a criação de câmaras de eco, onde se conversava e discutia apenas com pessoas que tinham opiniões semelhantes às suas. Seguido pelo advento de seu uso em campanhas e mandatos políticos, para marcar o posicionamento de candidatos ou buscar uma aproximação com sua base representativa.

O outro lado da moeda nesse contexto vem da crescente disseminação de informações falsas e ataques a outros candidatos e a democracia propriamente dita, tornando-se uma espiral amplificadora de uma direita que tem cada vez mais domínio das novas tecnologias, seja por mensagens mais diretas e afetivas, ou por uma comunicação estrategicamente viral e coordenada ao passo que a esquerda mesmo utilizando primariamente as redes ainda carece de engajamento e massificação frente a personagens como é o caso do Nikolas Ferreira, um dos deputados com o maior engajamento nas redes.

O caso de Carla Zambelli, vai além da história de uma única parlamentar. Ele é um exemplo claro de como a arena digital reconfigurou a prática política e acentuou os riscos à democracia. A condenação não se deu apenas por atos isolados, mas por uma estratégia contínua que utilizou as redes sociais como vetor para desinformar, intimidar e, em última instância, corroer a confiança no processo democrático.

O papel das redes sociais está longe de uma esfera pública digital que ampliaria a deliberação, o que observamos é ampliação de ecossistemas de desinformação. As reações online sobre o caso ilustram perfeitamente a teoria das câmaras de eco: não há debate, mas sim, a amplificação de narrativas conflitantes e mutuamente excludentes. De um lado, a celebração da justiça como um freio a atos antidemocráticos; de outro, a construção de uma narrativa de vitimização e "perseguição política".

O que vivenciamos hoje, na verdade, é um cenário de arquipélagos digitais intrinsecamente conectados e isolados uns dos outros, movidos por polarizações, emoções e desinformação. Que ao fugir desse estigma em alguns breves momentos, apenas nos enfrentamos nas trincheiras dos debates digitais, falando para nós e os mesmos que sempre compartilharam dessas opiniões.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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redes sociais Carla Zambelli polarização condenação

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