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Golpes com crachá diplomático: o novo eixo da extrema-direita transnacional na América Latina

Articulações diplomáticas, fake news e lobby ideológico formam novo modelo de sabotagem a governos progressistas na região.

Gisele Agnelli

Gisele Agnelli

4/7/2025 10:00

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Nos novos laboratórios autoritários da extrema-direita global, os golpes chegam em jatinhos diplomáticos, fake news, domínio das mídias sociais, agrados e apoios às big techs, discursos antinarcóticos, resoluções parlamentares e articulações informais com congressistas estrangeiros, ou a melhor combinacao destes fatores, a depender do contexto local. A tentativa de desestabilização do governo Petro na Colômbia, revelada recentemente por gravações obtidas pelo El País, expôs um modelo de conspiração que já não depende do velho manual militar, mas opera sob a fachada de legalidade institucional e alinhamento ideológico internacional. Esse modelo, que cruza fronteiras com fluidez, encontra em figuras como Eduardo Bolsonaro, ainda legalmente nos Estados Unidos com passaporte diplomático brasileiro ativo, um dos principais vetores de exportação de estratégias desestabilizadores no continente.

No centro desse enredo, há um eixo cada vez mais consolidado entre parlamentares e ex-ministros latino-americanos ligados a governos de direita e a ala trumpista do Partido Republicano. O caso colombiano é emblemático. O ex-chanceler Álvaro Leyva, destituído por Petro após uma série de irregularidades, embarcou numa ofensiva transnacional para derrubar o presidente, buscando apoio de parlamentares como Mario Díaz-Balart e Carlos Giménez (Flórida), e tentando envolver até mesmo o secretário de Estado de Trump, Marco Rubio. A justificativa seria uma suposta "incapacidade" do presidente, combinada a um "acordo nacional" que incluía até o ELN e o Clan del Golfo, o que, em qualquer regime democrático, não passa de pretexto para golpe de estado.

A trama é reveladora porque não se trata de uma aventura isolada. Eduardo Bolsonaro, mesmo sem mandato parlamentar no Brasil desde 2023, continua circulando nos Estados Unidos com proteção diplomática ativa, passeando na Disney, participando de conferências como a CPAC, operando como elo entre a ultradireita sul-americana e figuras estratégicas do trumpismo. Seja lobby ideológico ou diplomacia paralela: Eduardo atua como mensageiro da nova internacional reacionária, impulsionando pautas que vão desde ataques a governos progressistas até projetos de "cooperação antiterrorismo" que servem, na prática, como alavancas para intervenções de seu interesse: derrubar um governo eleito democraticamente e/ ou fazer pressão internacional a favor de seu pai, a poucos passos da prisão.

Mesmo sem mandato, Eduardo Bolsonaro atua nos EUA como elo da ultradireita latino-americana.

Mesmo sem mandato, Eduardo Bolsonaro atua nos EUA como elo da ultradireita latino-americana.Flickr/Gage Skidmore

Um exemplo recente disso é o esforço da ala trumpista no Congresso americano para reclassificar o PCC (Primeiro Comando da Capital) como grupo terrorista internacional, uma medida que, se levada adiante, abriria caminho para que os EUA tratem a segurança pública no Brasil como tema de jurisdição extraterritorial. Recentemente parlamentares republicanos tentaram pressionar o departamento de Estado dos USA a incluir o PCC na lista de Foreign Terrorist Organizations (FTOs), mesmo sem consenso jurídico nem coordenação com o Itamaraty. O objetivo não é combater o crime organizado em si, mas criar um instrumento jurídico-político para envio de imigrantes ilegais ao Brasil sem o devido processo legal. Claro que a desculpa pode abrir uma retórica perigosa para mais intervenções, ou até mesmo para ser usado como instrumento de pressão para a política comercial (tarifaço ou chantagem aberta) de Trump sob o selo de "países com problemas de combate ao narcotráfico/ terroristas".

A estratégia se repete em relação ao Trem de Aragua, organização criminosa originada na Venezuela e usada como pretexto para deportações sumárias de migrantes da América Latina, especialmente de salvadorenhos e venezuelanos. Em muitos casos, pessoas são removidas dos EUA sem qualquer comprovação de vínculo com o grupo, com base apenas em perfis raciais, nacionalidade ou alegações vagas. A invocação da segurança como cortina de fumaça legitima práticas de exceção, enquanto desmonta os pilares do devido processo legal e os marcos humanitários internacionais.

O México, agora sob liderança de Claudia Sheinbaum, também está na mira dessa lógica. A nova presidenta enfrentou, já nas primeiras semanas de governo, um tarifaço imposto por Trump, sob a alegação de que o México não coopera o suficiente no combate aos cartéis. Canadá sofreu com a mesma narrativa, risível, pois o transporte de fentanyl na fronteira Canadá/ USA é estatisticamente irrelevante. Trata-se da mesma narrativa que o ex-presidente usou em 2019, mas agora elevada a um novo patamar: o uso econômico da guerra às drogas como arma de chantagem comercial e diplomática. Os EUA impõem sanções, travam exportações ou bloqueiam acordos em nome da segurança, quando, na verdade, o objetivo é impor obediência política e travar projetos soberanos na região.

Esse padrão revela este novo tipo de guerra híbrida: não apenas com fake news ou lawfare, mas com ações coordenadas entre congressistas de extrema-direita em diferentes países, estruturas diplomáticas paralelas (como no caso de Eduardo Bolsonaro), uso instrumental da luta contra o narcotráfico e mobilização de redes transnacionais de influência. Trata-se de uma guerra política, jurídica e cultural, travada com ferramentas institucionais, mas orientada por uma lógica de desestabilização dos governos que não se alinham à agenda autoritária, neo fascista local.

As instituições democráticas ainda não estão preparadas para responder a essa forma transnacionalizada de sabotagem.

É urgente construir novas alianças internacionais democráticas, capazes de responder à altura a esse novo tipo de ofensiva. Num mundo onde o multilateralismo está sendo posto à prova e uma nova ordem mundial se delineia, uma certeza: a necessidade criação de novos mecanismos regionais de defesa democrática que levem a sério o risco de golpes sem farda. O novo mundo que se desenha precisa pensar para além de fóruns e acordos comerciais, mas como trincheiras contra o autoritarismo globalizado.

Do contrário, veremos se repetir, em Bogotá, Brasília, Cidade do México o que já vimos antes: tentativas de golpes amparados por aparências legais, protegidos por mandatos parlamentares, assinados por lobistas com imunidade diplomática.

O nome da nova tática é cooptação institucional. E o único combate possível é união democrática internacional.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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