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Algoritmos moldam comportamento e opinião sem transparência.

Beth Veloso

Beth Veloso

7/7/2025 15:00

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A coluna desta semana conecta três temas que parecem distantes, mas estão totalmente interligados: a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o Marco Civil da Internet, o debate acadêmico que tivemos no Compolítica sobre o impacto social das plataformas digitais e, pode acreditar, o casamento do bilionário Jeff Bezos em Veneza.

Pode parecer exagero, mas o que une tudo isso é a forma como a internet e as plataformas moldam nossas relações, nosso imaginário e até o jeito que a gente entende sucesso, felicidade e poder. Vamos entender esse fenômeno a partir da decisão histórica do STF, que agora responsabiliza as plataformas pelos riscos que elas mesmas ajudam a espalhar na sociedade.

Especialistas defendem regulação para limitar abusos e proteger direitos diante da coleta massiva de dados.

Especialistas defendem regulação para limitar abusos e proteger direitos diante da coleta massiva de dados.Ednei Cunha/Ato Press/Folhapress

Eu conversei com o Silvado Silva, que é professor da Universidade de Brasília e foi presidente da Associação Compolítica, que estuda a relação entre Comunicação e Política, e a minha questão foi: qual o papel que os pesquisadores atribuem às plataformas digitais na atualidade?

"Hoje nós temos muito mais intermediários. Nós vivemos através deles. Eles permeiam a nossa vida, a minha relação com o mundo e com outras pessoas. Os algoritmos determinam o que consideram relevante ou não relevante. Fluxos de informação como as fake news geram problemas sociais. E há várias dimensões do que a política de comunicações significa hoje", diz Sivaldo Silva."

A gente vive num ambiente filtrado. O que aparece no seu celular ou na sua timeline não é neutro, é resultado de algoritmos que definem o que você vai ver. Isso cria bolhas, distorce a realidade e faz com que discursos de ódio ou fake news se espalhem, se ninguém colocar limites.

E esse controle da informação se conecta ao imaginário social. Um exemplo? O casamento do Jeff Bezos, fundador da Amazon, em Veneza, na semana passada. Uma cerimônia luxuosa, ultra divulgada nas redes. Isso não é só fofoca. É a construção simbólica do empreendedor de sucesso, feliz no amor, bilionário, com poder global. Esse tipo de narrativa alimenta o espetáculo, o consumo, o desejo e, também, claro, o engajamento que as plataformas querem.

As pesquisas em comunicação também passam por aí, mas vão muito além, pois tratam de entender qual é o nosso lugar no mundo, como explica Sivaldo Silva:

"Por isso nós temos que pesquisar sobre isso, para sabermos como funciona. Há várias dimensões que a comunicação política hoje significa, e temos que entender o nosso lugar no mundo e como nós construímos realidades políticas e sociais. E como nós agimos em termos políticos, e os efeitos disso."

E, diante dessa construção de realidades e do papel das pesquisas e do debate público, como fica o cidadão, que vive no automatismo e muitas vezes não pensa ou age criticamente?

O conhecimento é a nossa principal ferramenta. Quando a gente estuda como as plataformas funcionam, como os algoritmos moldam o que a gente vê e sente, a gente ganha autonomia. É o que o Compolítica tem mostrado: é preciso entender a internet como fenômeno social, que afeta a política, o comportamento, a autoestima e a própria democracia.

Cidadão em busca de autonomia digital

Pra se ter uma ideia, o Digital News Report do Reuters Institute mostra que 56% dos brasileiros se informam principalmente por redes sociais. E isso concentra poder nas mãos de poucas empresas. A Amazon, por exemplo, que o Jeff Bezos fundou, hoje também é dona de serviços de nuvem que armazenam dados de governos, empresas e plataformas. Estamos falando de concentração econômica e tecnológica num nível sem precedentes.

Sivaldo Silva argumenta que a camada protetora desse poder é a falta de transparência, ou seja, de accountability, que garante que uma empresa tenha responsabilidade, preste contas e aja com transparência, conforme expõe o especialista:

"As pesquisas são úteis para entendermos essas relações, como o fato de não serem transparentes. Temos a coleta de dados e como eles nos empurram para questões que não sabemos. Há vários casos que mostram que desinformação e fake news geram problemas graves, inclusive mortes. O número de fake news aumenta quando há registro de interferência climática. É uma indústria da fake news, não é algo isolado. Também envolve comunicação e eleições, como se usa para moldar pensamentos com desinformação. Perceber isso é garantir que o cidadão tenha autonomia e compreenda os efeitos disso na sua vida cotidiana."

A gente vive uma crise de confiança e de autonomia, e isso foi muito debatido no Compolítica e nos votos dos ministros no STF sobre o Marco Civil. As plataformas controlam dados, manipulam o fluxo de informação e influenciam a política, como vimos na eleição americana de 2016 e no escândalo da Cambridge Analytica. Essa manipulação é invisível e profunda. Por isso a decisão do STF de responsabilizar as plataformas pelo conteúdo postado por terceiros é um marco, ainda que seja só o começo.

E agora esse debate avança para as novas tecnologias. Hoje já existe polêmica sobre a presença de sistemas de Inteligência Artificial como coautores de artigos científicos. Isso mostra como as fronteiras entre ciência, tecnologia e sociedade estão mais borradas do que nunca. A IA virou intermediária não só de informação, mas também da produção de conhecimento.

Sivaldo Silva alerta que o potencial dos sistemas e seus riscos ainda é desconhecido:

"São muitos problemas. Há 20 anos a internet não era quase nada. Estamos na pré-história dos sistemas de inteligência artificial. Elas são disruptivas e você não consegue mais sair delas. Há efeitos psicológicos que nos vinculam. Temos problemas políticos, sociais e de saúde. Pessoas que têm problemas por causa do uso de redes sociais. Temos que pensar qual o papel desses players, os limites que têm que ser impostos, garantir que essas empresas não violem direitos."

E com a IA se tornando parte da nossa vida e até da ciência, como colocar limites e garantir que esses players não violem direitos?

O desafio é gigante. Primeiro, a gente precisa de regulação forte, nacional e internacional. Segundo, mais transparência e acesso a dados para pesquisa. E, por fim, é essencial entender a ambivalência dessas plataformas: ao mesmo tempo que conectam, concentram poder; enquanto prometem liberdade, alimentam vícios e desigualdades, como explica Sivaldo Silva.

"O desafio é lidar com o conforto que esses sistemas geram e a dependência e coleta massiva de dados que esses aplicativos produzem. Essa conexão com base na economia da atenção é feita a qualquer custo. O desafio é pensar como o Estado pode criar regras regulatórias que limitem o poder das plataformas e preservem direitos, e que valha também para o poder público. Isso não pode ser negligenciado. O Estado tem o papel de garantir que isso tenha efeitos positivos a médio e longo prazo."

E pra fechar, como equilibrar o conforto que essas plataformas trazem com a dependência doentia que geram, como conciliar o direito à informação com a necessidade de controlar os abusos e a manipulação informativa?

A gente precisa sair do automatismo. Sim, as redes facilitam a vida, mas cobram um preço invisível: dados, manipulação, ansiedade, polarização, mortes. O Estado tem o dever de regular, mas o cidadão também precisa se informar e exigir direitos. Só assim a gente transforma esse ambiente digital num espaço que fortaleça a democracia, e não o contrário.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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marco civil da internet redes sociais algoritmo STF
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