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Exposição
27/8/2025 14:00
A sociedade brasileira precisa enfrentar, com a seriedade que o tema exige, o fenômeno da adultização de crianças e adolescentes. Trata-se de uma prática que ultrapassa o mero comportamento cultural: é uma ameaça direta à proteção da infância, ao direito ao desenvolvimento saudável e ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que o Brasil se comprometeu a atingir até 2030.
O problema não é exatamente novo, mas se torna cada vez mais urgente. Permitir - ou até incentivar - que crianças sejam expostas a responsabilidades, comportamentos e imagens próprias da vida adulta, muitas vezes impulsionadas pelas redes sociais, normaliza um ciclo de exploração, evasão escolar e vulnerabilidade a abusos.
O Relatório Luz da Agenda 2030 confirma este cenário alarmante: metas como a de erradicar o trabalho infantil (ODS 8.7), acabar com o abuso e exploração de crianças (ODS 16.2), assegurar educação inclusiva e de qualidade (ODS 4.7) e eliminar a violência contra meninas (ODS 5.2) estão longe de serem cumpridas. A adultização não é um fenômeno isolado, mas o sintoma de falhas graves na gestão pública, na regulação digital e no apoio às famílias.
Não se pode ignorar que, em muitos lares, o sucesso virtual de filhos pequenos é visto como solução financeira imediata. O exemplo de uma menina de 12 anos com centenas de milhares de seguidores no TikTok mostra como a linha entre infância, trabalho e exposição sexualizada se funde, criando uma perigosa normalização. O que para alguns é "sonho de fama" ou "empreendedorismo digital" representa, na verdade, trabalho infantil, exploração da imagem e violação de direitos.
A responsabilidade, no entanto, não é apenas das famílias. Falta regulação clara sobre o conteúdo digital envolvendo menores, regras para a economia de influência infantil e mecanismos de proteção automática em plataformas. O Congresso Nacional tem um papel importante para garantir marco regulatório e recursos em prol de programas de qualidade para viabilizar a educação digital, alfabetização midiática, restrição de publicidade dirigida a crianças e desenho seguro das redes sociais por padrão. O Estado como um todo deve liderar, mas empresas, escolas e as famílias também precisam assumir compromissos.
Se nada for feito, corremos o risco de não apenas falhar no cumprimento dos ODS, mas consolidar uma geração cuja infância se esgota diante das telas. Quando uma criança é tratada como adulto para gerar lucro, todos perdemos.
A adultização, na vida real e nas telas, é uma escolha coletiva - a de permitir que a pressa, o consumo e a monetização substituam o tempo, o brincar e o direito de crescer em segurança. É preciso inverter este rumo. Não basta denunciar: é hora de agir com políticas públicas, fiscalização, cooperação internacional e sobretudo com coragem para dizer que infância não se negocia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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