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18/5/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:05

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[fotografo] PxHere [/fotografo]

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Emanuel e Jaci entraram na casa de Olurum em silêncio. É que eles não queriam interromper o canto que Oxalá dedicava a seu pai. Sabiam que encontrariam o orixá amigo em êxtase naquele anoitecer de sexta-feira. Sempre é assim no dia da semana em que ele frequentava os terreiros que requeriam a sua presença divina. Amava quando o terreiro - girando em roupas brancas ao som de atabaques e aderês - o saudava em cânticos coletivos: Èpa Bàbá! Não fora diferente naquela sexta-feira. Oxalá estava muito feliz, pois passara todo dia em um terreiro de candomblé na cidade baiana de Senhor do Bomfim. E assim os amigos encontraram Oxalá girando, dançando e cantando: Oní Sáà wúre Oní Sáà wúre Sáà wúr à?? Oní Sáà wúre o bé?è? rí o mó? Oní Sáà wúre Sáà wúr à?? Bàbá Oní Sáà wúre o bé?è? rí o mó?. E?e e Bàbá; Èpà Bàbá! Kíkí orin mímó? àwon Òrì?à! Axé! - Èpa Bàbá! Oxalá é o rei desse congá! - aplaudiu Jaci, também cantarolando. - Sejam bem-vindos, amigos! A casa é de vocês! - sorriu Oxalá. - Gostaram do cântico em louvor ao poder supremo de Olurum? - A letra é da etnia Kétu, não é? - perguntou Emanuel. - É sim, Emanuel - respondeu Oxalá, sorrindo. - A sua onisciência está afinadíssima. Conhece mesmo todas as línguas faladas no mundo. - Está em Gênesis 1:3 e João 1:3 que no princípio veio o Verbo, pois tudo foi formado pela Palavra poderosa de Deus - disse, enigmático, Emanuel. - Pena que os homens não mais falem a mesma língua, não é rapazes? - perguntou, reflexivamente, Jaci. - São quase sete mil línguas diferentes no mundo, algumas até em extinção. A comunicação é um instrumento tão importante para solucionar os problemas da humanidade e eles não conseguem se falar. - Mas nem sempre foi assim, amiga! - conformou-se Emanuel. - Você mesma sabe que no livro do Gênesis 11:1-9 encontramos a afirmação de que todos os homens e mulheres já falaram uma língua comum e exclusiva. - Verdade, amigo! - concordou Jaci. - É a história da Torre de Babel. Jeová castigou os homens com a multiplicação das línguas porque eles, ambiciosos e pretensiosos, queriam construir uma torre cujo topo penetrasse no céu. - Lá na China dizem que a divisão da língua original fez com que o universo se desviasse do caminho certo - suspirou Oxalá. - E eles têm razão. Como a humanidade pode caminhar sem conversar entre si sobre os rumos a seguir? - É mesmo uma questão complexa, Oxalá - refletiu Jaci. - Ao mesmo tempo que dificulta o diálogo, uma língua é também referência para um povo. Quando ela desaparece, desparace um pedaço da história, da cultura e da identidade desse povo. - O meu povo africano sofre muito com essa dominação linguística colonizadora - concordou Oxalá. - Os europeus impuseram as suas respectivas línguas quando exploraram a África. As línguas nativas foram criminalizadas ou acusadas de incultas, obrigadas a sobreviver na clandestinidade. - E eu não sinto isso na própria pele? - interrompeu Jaci. - Aqui a única língua oficial é a portuguesa, apesar de quase trezentas línguas nativas continuarem sendo faladas no Brasil. -  Eu tenho muita esperança de que prolifere aquela ideia de uma língua internacional, neutra e que sirva de segunda língua falada de todos os povos - opinou Emanuel. - Assim teríamos um instrumento de diálogo que preserva todas as línguas, histórias e culturas do planeta. -  Boa lembrança, Emanuel! - exclamou Jaci. - A ideia do Esperanto como língua que pertence a todos os povos e não às nações, é uma grande sacada. -   Imaginem como seria fantástico para a humanidade poder escutar as vozes dos povos nativos que têm sido massacrados ao longo do tempo - reforçou Oxalá. - E aprender com as suas experiências, histórias e vinculações com as coisas da natureza. -   A virtude do Esperanto é inquestionável - ratificou Emanuel. - Mas uma virtude que tem atraído os velhos inimigos que no passado construíram a Torre de Babel. -   Verdade! Os que só escutam as vozes arrogantes que são afinadas com as suas próprias mediocridades - lembrou Oxalá. - Exú tem se queixado muito de que esses transloucados se recusam a ouvir a voz da solidariedade, o grito de dor que consome o seu vizinho, a berro da fome que a ganância causou ou o brado dos que denunciam a desigualdade estrutural. -  Exato, Oxalá! - concluiu Emanuel. - Eles estão construindo uma nova Torre de Babel, agora para cultuar o Ouro devorador da língua falada com o coração. -  O culto à arrogância, à vaidade e à presunção dos que se julgam superiores a outros - arrematou Oxalá. - Estes seguem querendo impor a sua língua aos demais como se fosse um reconhecimento à sua superioridade econômica, social, cultural e racial. -  E não é por falta de comunicação nossa - constatou Emanuel. - Meu Pai inclusive já disse a eles que "não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes". -  Não foi em Salmos que se disse: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios" - complementou Jaci, acostumada com os textos cristãos. - Acho que chegou a hora calar essas vozes desumanas e não espiritualizas. > Veja mais textos da coluna Parábolas de Emanuel, Jaci e Oxalá O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. 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