Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
Informativo no ar!
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Colunas >
  3. A fantástica fábrica de salsichas e o imbróglio da PEC dos Precatórios | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News
LEIA TAMBÉM

Ricardo de João Braga

Golpe de 8 de janeiro. Eu já sabia...

André Sathler

Quando a câmara de compensação não compensa: a falência do sistema político

André Sathler

A saidinha da saidinha, e a lógica do encarceramento definitivo

André Sathler

Constituição: um grande tratado moral

André Sathler

O espírito do tempo

Farol Político

A fantástica fábrica de salsichas e o imbróglio da PEC dos Precatórios

Ricardo de João Braga

Ricardo de João Braga

Rudolfo Lago

Rudolfo Lago

André Sathler

André Sathler

17/12/2021 | Atualizado às 11:05

A-A+
COMPARTILHE ESTA COLUNA

 
A ideia em um segundo A aprovação da PEC dos Precatórios envolveu uma "tramitação criativa" no Congresso Nacional, com o seu fatiamento e promulgação do texto comum aprovado pelas duas Casas, e a transformação do texto restante em nova proposição, apensada a outra PEC, para evitar a necessidade de novamente passar por todos os trâmites. A inovação legislativa é ainda mais grave em se tratando do conteúdo da proposta.
 

Gambiarras legislativas

[caption id="attachment_526478" align="alignleft" width="262"] Bismarck dizia que é melhor não saber como são feitas as salsichas e as leis. Sobre as salsichas, seu conteúdo só interessa quem gosta de salsichas. Já quanto às leis... (Foto: Reprodução)[/caption] No filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates", crianças do mundo inteiro disputam um bilhete dourado para visitarem pessoalmente o lugar em que as guloseimas eram produzidas. Não há registro de histórias que contem sobre crianças disputando visita a fábricas de salsichas. Antes, como disse Bismarck, estadista alemão, é melhor passar longe delas, tanto quanto longe das fábricas de leis, que seriam suas análogas. A questão é que a forma como as salsichas são feitas importa apenas aos que as apreciam. Mas a forma como as leis são feitas afeta a todos os membros da sociedade.  O desfecho da PEC dos Precatórios, por sua vez, ganhou seu bilhete para figurar entre os exemplos dessas gambiarras que se aplicam no processo de feitura legislativa, que lhe rende a alcunha de gêmeo das salsichas. Resumidamente: no bicameralismo brasileiro, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) depende da aprovação das duas casas. Alterações em uma fazem com que tenha que voltar para a outra. Ou seja, se se tratasse da compra de um carro, Câmara dos Deputados e Senado Federal precisariam estar de acordo quanto ao fabricante, ao modelo, ao ano de fabricação, etc. No caso dos Precatórios, acordou-se a marca dos pneus e o tipo do motor. Separou-se o resto, deixando para ser comprado em outro momento.  Ressalte-se que se está tratando de um dos temas mais importantes do Poder Legislativo: o Orçamento público. O poder de decisão com relação ao Orçamento é um baluarte histórico da autoridade legislativa e marcou, no Reino Unido, o primeiro sistema democrático representativo moderno. O exercício do poder orçamentário sustenta todas as outras decisões legislativas e é um dos importantes reguladores do equilíbrio entre os Poderes.   

Incerteza e instabilidade 

[caption id="attachment_526486" align="aligncenter" width="750"] A forma como Pacheco e Lira fatiaram a PEC dos Precatórios compromete o processo legislativo (Foto: Lauriberto Pompeu/Congresso em Foco)[/caption] O vai-e-vem da PEC dos Precatórios foi acompanhado pelo vai-e-vem do mercado financeiro, simbolizado sinteticamente pelo índice Ibovespa. Essa entidade abstrata, o mercado, composta de miríades de investidores, faz seus cálculos buscando ampliar ao máximo a previsibilidade - afinal, ser capaz de prever um resultado futuro é elemento determinante nas decisões alocativas no presente. Quando aumenta a incerteza, o sistema fica instável. No caso, a colocação em suspenso do marco constitucional que rege as principais balizas orçamentárias do setor público é pura gasolina na fogueira da instabilidade.  Há expectativas que dizem respeito ao que o Congresso deveria fazer. Nesse caso, pode-se interpretar que o mercado sinalizou que entendia que o marco constitucional das finanças públicas, sintetizado na noção do teto de despesas, não deveria ser mexido, ainda mais precipitadamente. Há outras expectativas que dizem respeito ao como o Congresso deveria fazer. Clareza, legitimidade, segurança jurídica - são elementos a alimentar essa ordem de expectativas. A famosa legitimidade via procedimento enfatizada por tantos teóricos que abordam o processo decisório em democracias.  O que se viu foi completamente diferente, com a adoção de uma solução marota para a promulgação do mínimo necessário da PEC que pudesse garantir a folga que o governo tanto pleiteava, deixando-se o resto para um depois que não se tem como saber quando nem como.   

Qual é a importância dos procedimentos?

As regras (ou procedimentos) garantem uma definição mínima de democracia, pois estabelecem o como do processo democrático, isto é, o caminho a ser percorrido para se chegar à decisão política. A Constituição Federal, em seu art. 5º, prevê como direito fundamental o devido processo legal, observado o princípio do contraditório. Tal princípio fundamental traslada-se ao âmbito do processo legislativo sob a forma das regras regimentais, que propiciam, no seu modo próprio, o exercício do contraditório (debate da matéria na Casa Legislativa, com possibilidade de manifestação dos representantes dos diversos partidos, consubstanciando-se assim outro princípio fundamental da República Federativa do Brasil - o pluralismo) e a observância de um devido processo, o que inclui regras estáveis e vigentes e conhecidas a priori.  O Direito moderno retirou da suposta autoridade divina dos reis o fardo da sua validade, deslocando-o para os procedimentos formais de instauração do Direito, por meio dos quais os pressupostos universais são institucionalizados. Vale destacar aqui um trecho de Norberto Bobbio, em sua obra O Futuro da Democracia - uma defesa das regras do jogo: "O único modo de se chegar a um acordo quando se fala de democracia, entendida como contraposta a todas as formas de governo autocrático, é o de considerá-la caracterizada por um conjunto de regras (primárias e fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos".

A compulsividade da violação das regras fiscais

[caption id="attachment_526484" align="aligncenter" width="1647"] A Lei de Responsabilidade Fiscal foi marco importante para a conquista da estabilidade econômica brasileira (Foto: Divulgação/Instituto FHC)[/caption] O Brasil tem se mostrado compulsivo em criar regras fiscais para violá-las em seguida. Como nos programas de recuperação viciados, o país pega uma ficha a cada dia, para poder contar quantos dias ficou sem ter uma recaída. Na terapia individual, o símbolo é forte e ajuda a conduzir o processo de cura. No caso do país, o símbolo aponta para o desarranjo permanente de um Estado que não sabe nem como aprovar uma adequada legislação concernente às suas contas.  A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um marco importante e fundamental para o sucesso do Plano Real, o que muitas vezes é esquecido. Houvesse permanecido e sido obedecida em suas principais diretrizes, não haveria necessidade de qualquer regulamentação adicional. O que se viu, contudo, nos seus vinte e um anos de existência, foi que ela não inaugurou, de fato, um novo século nas finanças públicas brasileiras. Desobedecida, simplesmente, ou alterada formalmente, a LRF segue exangue, sujeita ao socorro de transfusões esporádicas - como a criação do teto dos gastos, por exemplo. Para se dar conta de regras que não foram cumpridas nada como novas regras.  Mostra-se estrutural no Brasil o conflito distributivo não resolvido. Gastos sociais, infraestrutura do estado, subsídios, demandas político-eleitorais, todos lutam por espaço num orçamento que não as comporta. Devemos lembrar que o Brasil foi um clássico na criação e no desenvolvimento de um processo inflacionário crônico a partir de 1946, algo estancado apenas no governo FHC no final do século. As raízes de um país visceralmente necessitado de inflação estão voltando à tona, e ao contrário do século passado, não surgem trazendo estradas, indústrias e uma nova capital. Renovamos nosso flerte com a estagflação. E assim o Brasil segue caminhando para o futuro no pretérito. TERMÔMETRO
CHAPA QUENTE GELADEIRA
A pesquisa do Instituto Ipec, divulgada esta semana, mostra a força no momento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Nos cenários testados, Lula obtém uma intenção de votos que ultrapassa em mais de dez pontos percentuais a soma de todos os demais candidatos, indicando uma chance de vitória ainda no primeiro turno. O anúncio da desfiliação de Geraldo Alckmin do PSDB pode ser o início do processo de formação de uma aliança ao centro, conferindo a Lula o parceiro conservador que ele precisaria para dissipar receios à direita à sua candidatura.

A pesquisa mostra também as dificuldades até agora de construção da chamada terceira via. Nos cenários pesquisados, a tentativa de terceira via da vez, Sergio Moro, do Podemos, aparece somente com 6% e 8%, respectivamente. O cada vez mais desidratado Ciro Gomes, do PDT, com 5% em ambos os cenários. E o governador de São Paulo, João Doria, mesmo depois de exposto pelas prévias do PSDB, pai da vacina Coronavac contra a covid-19, consegue a proeza de empatar em 2% com André Janones, do Avante. A terceira via segue até agora sendo tão somente uma ideia em busca de um nome que realmente a viabilize.

 
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Temas

Farol Político
COLUNAS MAIS LIDAS
1

Representação política

Qual deve ser o tamanho da Câmara dos Deputados no Brasil?

2

Educação

Aves, ovos e a crise da alfabetização

3

Autoritarismo

Harvard sob ataque: o pensamento como inimigo de Estado

4

Congresso

Marina Silva e a desconfiança no Congresso

5

Violência de gênero

Mulheres, Mansplaining e a Realpolitik no Brasil

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES