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Paulo José Cunha
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12/2/2021 | Atualizado 10/10/2021 às 16:56
 
 
 Por ali passaram grandes e controvertidas figuras da vida política do Brasil, como Luís Carlos Prestes, numa de suas últimas viagens a Brasília. Ali, em plena ditadura, os jornalistas faziam uma vigília diuturna para manter acesa a chama da liberdade. Durante muito tempo, quando ainda não existia a TV Câmara, os chamados "repórteres de plenário" aguardavam a transcrição das notas taquigráficas em calhamaços de papel levados ao Comitê para redigirem suas matérias.
Um enorme escaninho com várias divisões, na parede de trás da sala, cada uma com o nome de um veículo de imprensa, recebia as laudas datilografadas, que eram buscadas por motoboys e levadas às redações, onde eram transcritas e transmitidas por telex às sedes dos principais veículos de imprensa do Brasil, como o Jornal do Brasil, a Tribuna da Imprensa, o Estado de Minas, o Correio da Manhã, o Correio do Povo e os que ainda hoje estão no batente, como o Estado de São Paulo, a Folha, O Globo e o Correio Braziliense, entre outros.
Quando assumi a presidência do Comitê, uma limpeza acabava de ser feita no local. E por pouco não foi parar na lixeira uma relíquia daqueles tempos heroicos. Ao perceber um servidor da limpeza carregando um cesto com as plaquetas que identificavam os escaninhos dos antigos veículos, inclusive de revistas que marcaram sua época como O Cruzeiro, Manchete, Visão e Fatos e Fotos, perguntei se podia me dar de presente aquele "lixo". Ele riu e me deu. Guardo até hoje, com muito carinho, aquele pedaço do tempo que ia sumir para sempre. Pretendo doá-lo um dia a quem saiba dar àquelas plaquetinhas o valor que merecem.
Naquele tempo, com o ouvido nas caixas de som de cada mesa, de onde se acompanhavam os discursos, os jornalistas não apenas batucavam as notícias nas máquinas de escrever, ou gravavam nas cabines de áudio suas matérias e comentários. Também e principalmente, nas pausas de respiro, entre goles de café, trocavam ideias, argumentavam, formavam opinião, confrontavam pontos de vistas e, sobretudo... conviviam.
Até hoje aquele espaço está impregnado do ar puro da camaradagem e do calor das amizades que ali se criaram e se fortaleceram. Ali conspiramos contra os governos militares. Ali desenvolvemos estratégias para driblar a censura, como o jornal Cidade Livre, bancado pelo Sindicato dos Jornalistas, onde publicávamos as matérias vetadas pelos censores. Aquele Comitê tem história, tem cheiro e gosto de história.
O Brasil que lia e lê os jornais, que ouvia e ouve as rádios, que assistia e assiste aos noticiários da televisão e que acompanha atualmente as notícias em tempo real pelos sites e blogs sabe em primeira mão das posições e das opiniões de seus principais líderes políticos por causa da posição estratégica daquele Comitê no edifício do Congresso.
Ele não está ali por acaso. Quando Niemeyer decidiu que o Comitê ficaria exatamente ao lado do plenário, e não em um porão qualquer, estava dizendo, na linguagem da arquitetura, que a imprensa - os olhos do povo - tinha de ter um espaço privilegiado de onde pudesse acompanhar cada passo dos que decidem os destinos do país. Foi uma decisão bem próxima à que tomou quando desenhou aquelas duas torres do Congresso Nacional, as mais altas da cidade, como a proclamar que o poder mais alto é o poder... do povo.
Retirar o Comitê de Imprensa da Câmara do lugar que hoje ocupa, ao lado do Plenário,  é atitude que guarda o ranço do mais abjeto autoritarismo. Até porque autoridades existem para ser entrevistadas, confrontadas, cobradas, exigidas. A proximidade do Comitê com o Plenário cumpre essa função. Se as autoridades preferem se esconder e não conseguem admitir que a prestação de contas à imprensa faz parte dos cargos que ocupam, então não são dignas de ocupá-los.
Os lugares guardam e preservam a história. E um pedaço grande da história do Brasil moderno passou por aquele Comitê. Não é saudosismo lutar pela sua preservação.  É apenas um ato de respeito à história política do Brasil.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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Por ali passaram grandes e controvertidas figuras da vida política do Brasil, como Luís Carlos Prestes, numa de suas últimas viagens a Brasília. Ali, em plena ditadura, os jornalistas faziam uma vigília diuturna para manter acesa a chama da liberdade. Durante muito tempo, quando ainda não existia a TV Câmara, os chamados "repórteres de plenário" aguardavam a transcrição das notas taquigráficas em calhamaços de papel levados ao Comitê para redigirem suas matérias.
Um enorme escaninho com várias divisões, na parede de trás da sala, cada uma com o nome de um veículo de imprensa, recebia as laudas datilografadas, que eram buscadas por motoboys e levadas às redações, onde eram transcritas e transmitidas por telex às sedes dos principais veículos de imprensa do Brasil, como o Jornal do Brasil, a Tribuna da Imprensa, o Estado de Minas, o Correio da Manhã, o Correio do Povo e os que ainda hoje estão no batente, como o Estado de São Paulo, a Folha, O Globo e o Correio Braziliense, entre outros.
Quando assumi a presidência do Comitê, uma limpeza acabava de ser feita no local. E por pouco não foi parar na lixeira uma relíquia daqueles tempos heroicos. Ao perceber um servidor da limpeza carregando um cesto com as plaquetas que identificavam os escaninhos dos antigos veículos, inclusive de revistas que marcaram sua época como O Cruzeiro, Manchete, Visão e Fatos e Fotos, perguntei se podia me dar de presente aquele "lixo". Ele riu e me deu. Guardo até hoje, com muito carinho, aquele pedaço do tempo que ia sumir para sempre. Pretendo doá-lo um dia a quem saiba dar àquelas plaquetinhas o valor que merecem.
Naquele tempo, com o ouvido nas caixas de som de cada mesa, de onde se acompanhavam os discursos, os jornalistas não apenas batucavam as notícias nas máquinas de escrever, ou gravavam nas cabines de áudio suas matérias e comentários. Também e principalmente, nas pausas de respiro, entre goles de café, trocavam ideias, argumentavam, formavam opinião, confrontavam pontos de vistas e, sobretudo... conviviam.
Até hoje aquele espaço está impregnado do ar puro da camaradagem e do calor das amizades que ali se criaram e se fortaleceram. Ali conspiramos contra os governos militares. Ali desenvolvemos estratégias para driblar a censura, como o jornal Cidade Livre, bancado pelo Sindicato dos Jornalistas, onde publicávamos as matérias vetadas pelos censores. Aquele Comitê tem história, tem cheiro e gosto de história.
O Brasil que lia e lê os jornais, que ouvia e ouve as rádios, que assistia e assiste aos noticiários da televisão e que acompanha atualmente as notícias em tempo real pelos sites e blogs sabe em primeira mão das posições e das opiniões de seus principais líderes políticos por causa da posição estratégica daquele Comitê no edifício do Congresso.
Ele não está ali por acaso. Quando Niemeyer decidiu que o Comitê ficaria exatamente ao lado do plenário, e não em um porão qualquer, estava dizendo, na linguagem da arquitetura, que a imprensa - os olhos do povo - tinha de ter um espaço privilegiado de onde pudesse acompanhar cada passo dos que decidem os destinos do país. Foi uma decisão bem próxima à que tomou quando desenhou aquelas duas torres do Congresso Nacional, as mais altas da cidade, como a proclamar que o poder mais alto é o poder... do povo.
Retirar o Comitê de Imprensa da Câmara do lugar que hoje ocupa, ao lado do Plenário,  é atitude que guarda o ranço do mais abjeto autoritarismo. Até porque autoridades existem para ser entrevistadas, confrontadas, cobradas, exigidas. A proximidade do Comitê com o Plenário cumpre essa função. Se as autoridades preferem se esconder e não conseguem admitir que a prestação de contas à imprensa faz parte dos cargos que ocupam, então não são dignas de ocupá-los.
Os lugares guardam e preservam a história. E um pedaço grande da história do Brasil moderno passou por aquele Comitê. Não é saudosismo lutar pela sua preservação.  É apenas um ato de respeito à história política do Brasil.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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