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Congresso em Foco
10/7/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:36
 
 
 Ana e Pedro são personagens hipotéticos, mas exemplificam o que muitos estudantes e suas famílias têm passado, preocupadas e confusas em relação ao ano escolar. Não é à toa: cada rede de educação parece atuar como um sistema independente e desvinculado dos demais. Exatamente por isso, há um forte consenso na comunidade educacional de que a busca por soluções no enfrentamento da pandemia estaria sendo muito mais célere e eficiente se o Brasil contasse com um SNE. Além de trazer maior clareza sobre as atribuições de cada nível de governo no quebra-cabeças da educação brasileira, o Sistema garantiria a existência de instâncias para a pactuação das ações tanto a nível nacional como dentro de cada Estado.
A retomada das aulas presenciais exemplifica a miríade de definições e providências para as quais os sistemas de educação estaduais e municipais precisam trabalhar juntos. A data de reabertura das escolas e a estruturação do restante do calendário escolar é um primeiro passo; sem ele, a desconexão inviabiliza a articulação de questões como transporte dos alunos, avaliação do que aprenderam ou deixaram de aprender durante o período de isolamento, a formação de professores e o acolhimento de toda a comunidade escolar para esse momento singular na história do país. Pode-se pensar, por exemplo, em professores que dão aula tanto na escola de Ana como na de Pedro: faz sentido que esses mesmos profissionais recebam duas formações e orientações curriculares, desarticuladas ou ainda pior, conflitantes? Como isso será tratado em um momento ainda mais delicado como o da retomada das aulas, assim que as recomendações sanitárias permitirem?
A aprovação do Projeto de Lei de Conversão da Medida Provisória 934 e os pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE) são passos importantes para orientar as redes educacionais, mas ainda assim, não dão conta da complexidade do nosso sistema federativo - e nem deveriam. A bem da verdade, apesar das possibilidades adicionais de configuração do calendário escolar criadas pelo Projeto de Lei e das diretrizes do CNE, na falta de um mecanismo de coordenação federativa na educação cada um dos 5.570 municípios e das 27 unidades da federação deve traçar seu próprio plano para enfrentamento da crise. Com sorte, alguns estados e municípios conseguirão se organizar para trabalhar conjuntamente. É algo compreensível, haja visto a enorme complexidade do momento e a restrição de recursos técnicos e financeiros nas secretarias.
Ana e Pedro são personagens hipotéticos, mas exemplificam o que muitos estudantes e suas famílias têm passado, preocupadas e confusas em relação ao ano escolar. Não é à toa: cada rede de educação parece atuar como um sistema independente e desvinculado dos demais. Exatamente por isso, há um forte consenso na comunidade educacional de que a busca por soluções no enfrentamento da pandemia estaria sendo muito mais célere e eficiente se o Brasil contasse com um SNE. Além de trazer maior clareza sobre as atribuições de cada nível de governo no quebra-cabeças da educação brasileira, o Sistema garantiria a existência de instâncias para a pactuação das ações tanto a nível nacional como dentro de cada Estado.
A retomada das aulas presenciais exemplifica a miríade de definições e providências para as quais os sistemas de educação estaduais e municipais precisam trabalhar juntos. A data de reabertura das escolas e a estruturação do restante do calendário escolar é um primeiro passo; sem ele, a desconexão inviabiliza a articulação de questões como transporte dos alunos, avaliação do que aprenderam ou deixaram de aprender durante o período de isolamento, a formação de professores e o acolhimento de toda a comunidade escolar para esse momento singular na história do país. Pode-se pensar, por exemplo, em professores que dão aula tanto na escola de Ana como na de Pedro: faz sentido que esses mesmos profissionais recebam duas formações e orientações curriculares, desarticuladas ou ainda pior, conflitantes? Como isso será tratado em um momento ainda mais delicado como o da retomada das aulas, assim que as recomendações sanitárias permitirem?
A aprovação do Projeto de Lei de Conversão da Medida Provisória 934 e os pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE) são passos importantes para orientar as redes educacionais, mas ainda assim, não dão conta da complexidade do nosso sistema federativo - e nem deveriam. A bem da verdade, apesar das possibilidades adicionais de configuração do calendário escolar criadas pelo Projeto de Lei e das diretrizes do CNE, na falta de um mecanismo de coordenação federativa na educação cada um dos 5.570 municípios e das 27 unidades da federação deve traçar seu próprio plano para enfrentamento da crise. Com sorte, alguns estados e municípios conseguirão se organizar para trabalhar conjuntamente. É algo compreensível, haja visto a enorme complexidade do momento e a restrição de recursos técnicos e financeiros nas secretarias.
 Compostas por gestores públicos da União, dos Estados e dos Municípios, as instâncias de pactuação do Sistema Nacional de Educação não só teriam legitimidade para o debate e a tomada de decisões, como a experiência de especialistas das três esferas, além da possibilidade de mobilizar recursos para uma resposta coordenada. Teria sido desenvolvida ao longo de anos uma cultura de trabalho articulado, continuado e suprapartidário. A oferta da educação em seus diferentes aspectos - diretrizes curriculares, organização e gestão de matrículas, formação de profissionais, avaliação, organização regional - se integrariam em um todo sistêmico. As redes educacionais realizariam respostas coordenadas e ganhariam eficiência nas ações; os gestores públicos buscariam e implementariam soluções para a crise de maneira conjunta. Tão importante quanto os exemplos acima, a institucionalização das instâncias do SNE evitaria a apatia flagrante do Ministério da Educação no apoio aos estados e municípios nas ações de enfrentamento à pandemia. Os pais de Pedro e Ana não teriam dúvidas sobre quando as aulas voltariam, as atividades e orientações para o ensino remoto seriam integradas e o calendário letivo seria definido conjuntamente pela Prefeitura e Governo Estadual.
Entretanto, a realidade se impõe e estudantes e suas famílias precisam de resposta. A sociedade como um todo está sendo duramente impactada pelos efeitos da pandemia e a capacidade de organização do setor público em todos os setores e níveis de governo está sendo testada diariamente. Na educação, a ausência de um Sistema Nacional de Educação impõe aos nossos estudantes e suas famílias um alto custo. Por mais que muitos gestores públicos liderem trabalhos incríveis neste momento, a estrutura de governança da educação não os ajuda.
No Congresso Nacional, uma série de projetos busca garantir recursos e organizar a oferta da educação durante a crise e na retomada das aulas presenciais. Com certeza apoiará a resposta de curto prazo do setor à crise; o avanço de pautas estruturantes, contudo, será necessário para o aprimoramento e solidificação do regime de colaboração federativa na Educação Básica. Uma delas é o Fundeb, que amplia os recursos para a Educação Básica e garante que eles sejam distribuídos às redes educacionais que mais precisam. A outra é, definitivamente, o Sistema Nacional de Educação.
A pandemia aprofundou as feridas da desigualdade que existiam no país e escancarou nossa incapacidade de articular respostas rápidas, coordenadas e efetivas na Educação Básica. Não há resposta à crise da covid-19 que não passe por melhorar a governança, a gestão e a pactuação das políticas educacionais no país. Precisamos alocar os recursos técnicos e financeiros de maneira mais justa e eficiente, priorizando o apoio aos entes federativos mais vulneráveis. À medida em que retornamos a um cenário estável, o Sistema Nacional de Educação precisa ser prioridade do Congresso Nacional e pautar um novo momento da educação brasileira. Não há outro caminho para garantir o direito à educação para todas as crianças e para a retomada do desenvolvimento econômico e social do país no cenário pós-crise. Que a situação crítica que nos encontramos sirva para aprendermos a não repetir o mesmo erro duas vezes.
*Guilherme Lacerda é economista pela Universidade de Indiana e secretário-executivo do Movimento Colabora Educação. 
**Lucas Hoogerbrugge é mestre em Educação pela Universidade de Stanford e gerente de estratégia política do Todos Pela Educação.
Compostas por gestores públicos da União, dos Estados e dos Municípios, as instâncias de pactuação do Sistema Nacional de Educação não só teriam legitimidade para o debate e a tomada de decisões, como a experiência de especialistas das três esferas, além da possibilidade de mobilizar recursos para uma resposta coordenada. Teria sido desenvolvida ao longo de anos uma cultura de trabalho articulado, continuado e suprapartidário. A oferta da educação em seus diferentes aspectos - diretrizes curriculares, organização e gestão de matrículas, formação de profissionais, avaliação, organização regional - se integrariam em um todo sistêmico. As redes educacionais realizariam respostas coordenadas e ganhariam eficiência nas ações; os gestores públicos buscariam e implementariam soluções para a crise de maneira conjunta. Tão importante quanto os exemplos acima, a institucionalização das instâncias do SNE evitaria a apatia flagrante do Ministério da Educação no apoio aos estados e municípios nas ações de enfrentamento à pandemia. Os pais de Pedro e Ana não teriam dúvidas sobre quando as aulas voltariam, as atividades e orientações para o ensino remoto seriam integradas e o calendário letivo seria definido conjuntamente pela Prefeitura e Governo Estadual.
Entretanto, a realidade se impõe e estudantes e suas famílias precisam de resposta. A sociedade como um todo está sendo duramente impactada pelos efeitos da pandemia e a capacidade de organização do setor público em todos os setores e níveis de governo está sendo testada diariamente. Na educação, a ausência de um Sistema Nacional de Educação impõe aos nossos estudantes e suas famílias um alto custo. Por mais que muitos gestores públicos liderem trabalhos incríveis neste momento, a estrutura de governança da educação não os ajuda.
No Congresso Nacional, uma série de projetos busca garantir recursos e organizar a oferta da educação durante a crise e na retomada das aulas presenciais. Com certeza apoiará a resposta de curto prazo do setor à crise; o avanço de pautas estruturantes, contudo, será necessário para o aprimoramento e solidificação do regime de colaboração federativa na Educação Básica. Uma delas é o Fundeb, que amplia os recursos para a Educação Básica e garante que eles sejam distribuídos às redes educacionais que mais precisam. A outra é, definitivamente, o Sistema Nacional de Educação.
A pandemia aprofundou as feridas da desigualdade que existiam no país e escancarou nossa incapacidade de articular respostas rápidas, coordenadas e efetivas na Educação Básica. Não há resposta à crise da covid-19 que não passe por melhorar a governança, a gestão e a pactuação das políticas educacionais no país. Precisamos alocar os recursos técnicos e financeiros de maneira mais justa e eficiente, priorizando o apoio aos entes federativos mais vulneráveis. À medida em que retornamos a um cenário estável, o Sistema Nacional de Educação precisa ser prioridade do Congresso Nacional e pautar um novo momento da educação brasileira. Não há outro caminho para garantir o direito à educação para todas as crianças e para a retomada do desenvolvimento econômico e social do país no cenário pós-crise. Que a situação crítica que nos encontramos sirva para aprendermos a não repetir o mesmo erro duas vezes.
*Guilherme Lacerda é economista pela Universidade de Indiana e secretário-executivo do Movimento Colabora Educação. 
**Lucas Hoogerbrugge é mestre em Educação pela Universidade de Stanford e gerente de estratégia política do Todos Pela Educação.

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Comissão debate isenção de registro para professor de educação física