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MÍDIA
Congresso em Foco
9/8/2023 7:10
A segunda era do programa "A Tarde é Sua", de Sônia Abrão. Em suas redes sociais, a jornalista Hildegard Angel havia pedido a exumação do corpo de Gal Costa. Abrão resenhou a opinião acrescentando a sua. O vídeo, visto 117 mil vezes, teve 133 comentários, 4,4 mil reações e 98 compartilhamentos.
Já a postagem do texto original feita pela "piauí", não sendo um vídeo, não tem o dado de visualizações. Teve 522 reações, 83 comentários e 82 compartilhamentos. A diferença nos volumes de participação do público tende a indicar que esse post teve menos audiência do que os outros.
Pelo critério do volume de audiência, as opiniões do "Melhor da Tarde" e da Sônia Abrão teriam direito a remuneração maior pelo Facebook do que o trabalho da "piauí", cujo repórter passou dias apurando para contar direito a história.
Pelo critério do conteúdo original, as emissoras sempre podem argumentar que não republicaram o texto da "piauí" e que seus comentaristas contratados produziram conteúdo próprio a respeito - no caso, as suas opiniões sobre o tema do trabalho original.
Como o caso da reportagem sobre Gal, há muitos outros. O Google News está repleto de publicações que vivem de repetir o que outras estão falando sobre os assuntos do momento. Todo dia, em todas as editorias. Muitas empresas têm verdadeiros "setoristas de Twitter" para transformar em notas curtas o que pessoas públicas dizem nas redes sociais. Dependendo da definição, isso também conta como original.
As melhores publicações atuais, que produzem muito material jornalístico de interesse público, não produzem conteúdo em grande quantidade. Tendo equipes pequenas, preferem produzir material relevante sobre assuntos inéditos, em vez de procurar alguma coisa para dizer sobre cada assunto que ganha tração nas redes sociais.
Essas publicações também tendem a ter baixa audiência, porque conteúdo de interesse público dificilmente caça tantos cliques quanto a última paquera de uma celebridade ou a mais nova frase infeliz dita por algum político. Ao mesmo tempo, é justamente o trabalho dessas publicações que mais precisa de apoio financeiro para manter a independência.
O peso que as "big techs" ganharam na distribuição do conteúdo jornalístico, porém, direcionou muitas empresas de comunicação - inclusive as grandes que passaram décadas construindo uma reputação pela qual zelar - no sentido de caçar clique com a mesma desfaçatez que qualquer site que viva de plagiar conteúdo alheio.
É por isso que temos visto tanto jornalismo declaratório, tanta fofoca de celebridades (de tantos famosos de quem nunca ouvimos falar) e tanto colunismo escandaloso. Caça-se cliques até nos obituários, hoje em dia. Quanto mais gritante for o conteúdo, mais chance tem de caçar cliques nas redes sociais e na busca.
Deve haver critérios claros para a remuneração do conteúdo, com certeza, mas levar em conta apenas a quantidade tende a premiar o sensacionalismo.
O critério puramente quantitativo já foi comparado ao do serviço de "streaming" Spotify, outra famosa "big tech". Embora ele tenha em sua base de dados quase toda a história da música mundial, a fatia do leão na remuneração vai para os poucos artistas mais populares do momento. Dados de 2020 mostram que 90% das audições iam para apenas 1% dos artistas incluídos na plataforma. Eles geralmente são vinculados a gravadoras que pagam à plataforma - ou renunciam à receita de parte dos seus royalties - para incluir suas músicas em playlists promovidas. É o que antigamente se chamava de "jabá". Além disso, já foram relatados casos de empresas contratadas para simular roboticamente altos volumes de audições de um artista, fraudando os números de audiência para que ele pareça ser mais popular do que é (e melhorando suas condições de negociação com a plataforma).
Com as notícias, dependendo da plataforma, uma empresa que tenha recursos disponíveis pode pagar para impulsionar conteúdo, aumentando seu alcance e visualizações. Esse impulsionamento, se entrar no cálculo da remuneração, gera incentivos completamente alheios ao interesse público. E aliena ainda mais as publicações independentes, gerando o que o historiador da ciência Robert Merton observou no meio científico e chamou em 1968 de "efeito Mateus": quem mais tem mais recebe.
Seria muito importante que um projeto assim viabilizasse financeiramente a produção de reportagens de interesse público e barrasse publicações que produzem conteúdo enganoso, os famosos sites de "fake news". Como o critério atual não leva em conta qualquer elemento de qualidade do conteúdo (o que é de fato difícil de legislar), isso não está contemplado.
Por isso, é preciso levar em conta outros fatores, como a produção de conteúdo local - muitos sites caçadores de cliques, mesmo quando espalhados pelo interior do Brasil, vivem de plagiar e glosar qualquer assunto que esteja em voga, pouco melhorando a informação de interesse direto de onde vivem - e a diversidade das equipes que produzem o conteúdo. É preciso valorizar as publicações sem fins lucrativos e as que vivem do apoio voluntário dos seus leitores. É importante valorizar as que produzem jornalismo de interesse público e mantêm seu conteúdo aberto, sem restringi-lo apenas a seus assinantes - o que empresarialmente é um modelo legítimo, mas em termos de políticas públicas merece discussão. Na equipe, é necessário levar em conta a proporção de repórteres, mais do que a de colunistas ou editores, pois são esses profissionais que apuram informação original.
E sobretudo é preciso transparência. Se as big techs tiverem de abrir detalhadamente quanto pagaram a quem por quantas visualizações do quê, isso permite fazer comparações e avaliar o quanto a política de pagamento por direitos autorais atende ou deixa de atender ao interesse público.
Um ambiente de informação sensacionalista dá espaço para que a classe política também suba cada vez mais o tom, pois nele quem não apela desaparece. Já vimos o resultado de algo semelhante. Se além de tudo houver incentivo financeiro, o sensacionalismo vai reinar e carregar a desinformação de carona.
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