Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Como as emendas impositivas podem interferir no sistema eleitoral
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
Antônio Augusto de Queiroz
ISENÇÃO DO IR
13/5/2025 15:38
A escolha do deputado Arthur Lira como relator do projeto de reforma do Imposto de Renda (PL 1087/2025) não foi um mero acaso, mas uma decisão estratégica que reflete o peso político do parlamentar e seu papel central na condução da matéria. Como ex-presidente da Câmara e figura de ampla influência, Lira detém não apenas o conhecimento do pensamento médio da Casa, mas também a capacidade de articular maiorias, minimizando riscos de rejeição. Seu histórico sugere que, embora possa negociar ajustes no texto, dificilmente permitirá que o relatório seja derrotado, consolidando-se como peça-chave no desfecho da votação.
Isso, entretanto, não significa que o relator irá negar a isenção proposta pelo governo ou desfigurar completamente o projeto. Significa que ele promoverá modificações e ajustará algumas das fontes sugeridas para compensar a renúncia decorrente da isenção do imposto de renda das pessoas que recebem até R$ 5.000,00. Sobre isto, inclusive, seu próprio partido já apresentou uma proposta alternativa, que também não será acatada integralmente.
Nesse contexto, a dinâmica da disputa não se dará necessariamente entre governo e oposição, mas entre o relator e o Executivo. Caso haja divergências, a tendência é que a posição de Lira prevaleça, mesmo que isso signifique o apoio de parte da oposição e o afastamento de setores da base governista. O parecer do relator, portanto, torna-se o principal referencial para antever o resultado final, já que sua capacidade de articulação e influência supera as tradicionais divisões partidárias. A negociação direta com ele será mais decisiva do que qualquer estratégia de convencimento individual dos demais parlamentares.
Outro aspecto relevante é o controle que o relator exerce sobre o processo legislativo, evidenciado pela sua interferência na composição da comissão especial. O fato de o deputado Agnaldo Ribeiro, que foi relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária, figurar como suplente, e não como titular, não é um detalhe menor: reflete a preferência ex-presidente da Casa por atuar soberano, sem dividir protagonismo. Essa postura reforça a centralização do processo em suas mãos, afastando possíveis competidores pela liderança do tema. A comissão, nesse sentido, tende a operar menos como um colegiado deliberativo com ampla liberdade e mais como um espaço moldado por sua influência.
Além disso, a experiência prévia na presidência da Câmara confere ao relator um trunfo adicional. Conhecedor das regras e dos ritos processuais, Lira pode acelerar ou retardar a votação conforme seus interesses, usando prazos e manobras regimentais para pressionar o governo ou obter concessões. O calendário da matéria, portanto, estará subordinado às suas prioridades, e não necessariamente à urgência do Planalto. Essa autonomia fortalece sua posição nas negociações, já que o Executivo depende de sua colaboração para evitar entraves.
Por fim, a escolha de um relator com tal perfil sinaliza que a reforma do IR, mesmo tendo um plano de trabalho que pretende ouvir vários especialistas, será menos um debate técnico e mais uma disputa política de alto nível, mediada por um ator com poder para definir os termos do acordo. Se o governo quiser avançar, precisará ceder em pontos sensíveis, pois o relator não apenas opinará, mas decidirá os contornos da proposta. Em última instância, o projeto que chegar ao plenário será, em grande medida, aquele que Arthur Lira considerar viável, um reflexo claro de como o poder legislativo, em certos momentos, se concentra nas mãos de poucos.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Temas
Eleições e território
Serviços públicos
Política global