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Beth Veloso
Beth Veloso
Soberania digital
6/8/2025 15:00
O Brasil é o 10º maior mercado de tecnologia da informação no mundo, mas ainda depende massivamente das infraestruturas e soluções desenvolvidas por big techs estrangeiras.
A economia digital é o novo campo de disputa de poder global. Mas não basta ter empresas digitais. O desafio é desenvolver inovação local, garantir competitividade, e, acima de tudo, integrar a transformação digital aos nossos próprios objetivos de desenvolvimento.
Eu conversei com Andriei Gutierrez, presidente da Abes, a Associação Brasileira das Empresas de Software. A Abes traz uma extensa agenda regulatória que destaca a importância das políticas públicas para desenvolver um setor que hoje está concentrado nas mãos de grandes empresas, como as GAFAMs (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft).
De acordo com dados da International Data Corporation (IDC) analisados pela ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software), o investimento total em Tecnologia da Informação (TI) no Brasil atingiu US$ 58,6 bilhões em 2024, colocando o país na 10ª posição do ranking mundial de gastos em Software, Hardware e Serviços. Com crescimento de 13,9% em relação a 2023 - acima da média global de 10,8% -, o resultado demonstra a intensidade da digitalização no setor público e privado brasileiros.
Segundo Andriei, essa é uma batalha que não se enfrenta sozinho - é uma construção multissetorial.
"A gente tem promovido esse debate justamente para alavancar a competitividade das empresas brasileiras. A verdade é que a gente ainda não tem todas as respostas - e é por isso que esse debate precisa ser multissetorial. Precisamos pensar em como incorporar estrategicamente a economia digital ao desenvolvimento nacional. Trata-se de uma construção coletiva, que envolve governo, empresas, academia e sociedade para a inserção na economia global".
Segundo a Agenda ABES, precisamos de um Marco Legal da Cibersegurança, além de políticas públicas que incentivem inovação responsável e proteção dos dados, diz Andriei Gutierrez.
"A gente vem batalhando desde 2016 para estruturar uma agenda brasileira de transformação digital. Em 2018, conseguimos consolidar os primeiros marcos, ainda que aos trancos e barrancos. Desde então, estamos construindo uma governança institucional com o Comitê Interministerial de Transformação Digital - mas isso não basta. É fundamental haver diálogo contínuo com o Congresso Nacional para dar sustentação política e legal a essa agenda. E, nesse contexto, a cibersegurança é um tema urgente. Urgente mesmo. É uma pauta para ontem. Só em 2024, o crime digital movimentou cerca de R$ 340 bilhões no Brasil."
O Brasil está em posição estratégica, mas desigual na corrida global por inovação. Apesar de contar com um dos 10 maiores mercados de tecnologia da informação do mundo, ainda enfrenta gargalos estruturais que dificultam sua liderança ou autonomia no setor. E isso compromete todo o setor, especialmente na construção da nossa soberania no ecossistema digital, como explica Andriei Gutierrez.
"Quando a gente pensa em uma política soberana para a área digital - uma política pragmática, que mire na competitividade brasileira - não dá para repetir soluções do passado que já se mostraram ineficazes. A reserva de mercado, por exemplo, não funcionou. Hoje vivemos em um mundo digital totalmente diferente, baseado em computação em nuvem, inteligência artificial e redes distribuídas. Se impusermos barreiras equivocadas, vamos acabar perdendo mercado. Da mesma forma, também não faz sentido restringir indiscriminadamente o acesso a tecnologias estrangeiras. O que o Brasil precisa é de uma posição soberana, que assegure segurança jurídica tanto para as empresas quanto para os cidadãos. Mas isso deve ser feito de forma pragmática: dependendo do peso regulatório que se impõe, corre-se o risco de minar o acesso à tecnologia e comprometer a competitividade das empresas brasileiras."
O Brasil enfrenta quatro grandes gargalos na inovação tecnológica: 1) baixo investimento em P&D, investimos só 1,2% do PIB em pesquisa, muito abaixo de países líderes; 2) dependência tecnológica externa: pequenas empresas dependem de nuvens e API (Interface de Programação de Aplicações) estrangeiras; 3) desigualdade digital, com acesso à internet ainda desigual entre regiões e classes sociais e 4) ausência de marcos regulatórios modernos, com segurança jurídica e foco na competitividade, como a criação de um fundo garantidor para adoção de tecnologia em municípios e Pequenas e Médias Empresas (PMEs) e o estímulo ao desenvolvimento local de soluções tecnológicas, gerando uma sinergia entre empresas, universidades e setor produtivo.
O Brasil precisa incentivar a inteligência nacional e acreditar em si mesmo, a partir da criação de um programa robusto de criação de mestres e doutores, como faz a China, por exemplo. Sem isso, nada feito. Não poderemos falar em soberania digital.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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