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Paulo José Cunha

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7/12/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:56

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Presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto. [fotografo] Alan Santos/PR [/fotografo]

Presidente Jair Bolsonaro em frente ao Palácio do Planalto. [fotografo] Alan Santos/PR [/fotografo]

Perguntei ao morador de uma cidade do interior de Minas se o candidato em quem havia votado tinha sido eleito. "Sim", respondeu. E qual é o partido dele. "Não sei". Não sabe ou não se lembra?, insisti, baseado na conhecida amnésia eleitoral do brasileiro. "Não sei, nunca soube, não me preocupo com isso".

>STF barra possibilidade de reeleição de Maia e Alcolumbre; veja a íntegra dos votos

O diálogo ilustra com perfeição uma deformação que muitos analistas cometem ao avaliar os resultados da última eleição do ponto de vista de suas consequências no pleito nacional de 2022, no qual será decidida a sucessão de Bolsonaro na Presidência da República. Porque uma coisa são os alhos, outra são os bugalhos. Há uma diferença de fundo nas motivações que dirigem o voto numa e noutra eleição. E a principal delas é de natureza ideológico-partidária, que marca profundamente os pleitos federais, e quase não tem influência nos municipais.

Nos pequenos colégios eleitorais, onde se concentra o grosso do eleitorado brasileiro, o voto na eleição municipal tem por base muito mais uma simpatia pessoal pelo candidato associada à expectativa de que ele consiga resolver os problemas da comunidade. A filiação partidária e a inclinação ideológica pesam pouco. Por isso aquele morador do interior de Minas me confessou que esse detalhe não tinha importância para ele. Uma semana antes do primeiro turno, o professor de marketing político Marcelo Vitorino comentou, numa entrevista, que "em 15 de novembro, há uma grande chance de o eleitor ser mais pragmático na escolha, olhando com mais atenção para os candidatos e candidatas com maior reputação e credibilidade para lidar com questões relacionadas ao emprego e à renda, à recuperação da economia local (...)". Nem tocou na motivação ideológica.

Bolsonaro não foi o grande derrotado 

E ela é decisiva, sim, mas nas eleições para cargos federais. A não ser em grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte ou Porto Alegre, onde prevalecem as diferenças ideológicas entre os candidatos por conta de uma visão quase "federal" dos problemas locais. Nos pequenos colégios eleitorais - os municípios do Brasil profundo - a preferência é decidida a partir de critérios paroquiais. Não à toa o país parou diante da televisão para acompanhar a apuração em São Paulo, onde o azarão de um pequeno partido de esquerda, chamado Guilherme Boulos, conseguiu, com perdão pelo trocadilho, embolar o segundo turno e quase tocou com a mão o trinco da porta da prefeitura paulista. Da mesma forma, no Rio de Janeiro, o eleitor mandou Crivella pra casa muito mais por ter feito um péssimo mandato de prefeito do que por ter recebido o apoio de Bolsonaro. Portanto, apesar da euforia de parte da esquerda, Bolsonaro não foi o grande derrotado nessas eleições. Continua sendo um candidato forte e competitivo. Os extremismos é que levaram uma surra. Enquanto a direita moderada saiu fortalecida. E ela tende a pender para a extrema direita, se necessário. Jamais para a esquerda, mesmo moderada.

Portanto, devagar com o andor. A provável desunião das esquerdas, cujas idiossincrasias e vaidades não contribuem para o fechamento de acordos que viabilizem um nome competitivo para enfrentar Bolsonaro, é a maior ajuda que pode ser dada para que o capitão garanta a permanência de suas nádegas naquela poltrona do Palácio do Planalto.

Bolsonaro já percebeu que a radicalização do discurso, o confronto pelo confronto e as declarações estabanadas, destinadas exclusivamente a afagar seu grupo de apoio não ajudam no seu projeto de reeleição. Essa postura parece que ficou pra trás. Já faz algum tempo que não diz uma daquelas bobagens de repercussão interplanetária. Apesar do pavio curto, há algum tempo o capitão vem calibrando as declarações para não ferir as suscetibilidades do centro ideológico, onde vai amarrar o cabresto de sua égua. Este centro é o principal ponto de referência por duas fortes razões. A primeira é que o radicalismo a qualquer custo já não tem o poder de atração de alguns anos atrás, quando o grande adversário era o PT, partido que não conseguiu emplacar nenhuma prefeitura nesta eleição e continua chorando as pitangas no ombro de Lula, em vez de se reposicionar, se auto avaliar, fazer um bom mea culpa, curar suas feridas e se recriar como opção de oposição viável e confiável. A segunda é que, deste centro ideológico é que poderá sair um candidato capaz de oferecer risco à reeleição de Bolsonaro. Um azarão tipo Hulk, um Anastasia, uma Simone Tebet, um ACM Neto, um João Dória desses. Bolsonaro anda preocupado com isso, tanto que vem estreitando os abraços com o centrão. Alguém já deve ter buzinado no ouvido dele que terá de fazer mais da velha política, que renegou lá no início do mandato. E que, para neutralizar a aventura de algum outsider ou mesmo de algum nome conhecido, vai ter de gastar saliva, tinta de caneta e fazer concessões inimagináveis aos partidos de centro, a fim de mantê-los minimamente domados e sob controle.

Se não tiverem juízo, o capitão vai lustrar a botas 

Bolsonaro é uma toupeira política, disso ninguém duvida. Mas ninguém se iluda: ele é ambicioso e sabe que, se o sapato apertar, vai buscar a ajuda de estrategistas profissionais, e não da tropa de áulicos amadores inexperientes de que sempre se cercou desde que subiu aquela rampa. Por isso, para enfrentá-lo, a esquerda consequente e não extremada tem apenas dois caminhos. Ou abre mão das enormes vaidades de seus principais líderes - Lula, Ciro, Dino, Boulos etc. E constrói com renúncia e em consonância com o interesse público uma candidatura de oposição viável, uma união das "forças democráticas", na expressão de Levitz e Ziblat em "Como as Democracias Morrem". Ou vai ter de ranger os dentes e segurar o tranco operando a política dentro do que o chanceler de ferro alemão Otto Von Bismark pregava: a arte do possível, e não a arte utópica "do ideal". Se insistir na perseguição do "ideal" não tendo construído a candidatura viável de esquerda, tanto o santo e seus fiéis cairão por terra no meio da procissão. Se nada disso ocorrer, a esquerda vai terminar sentada no meio-fio, chorando as mágoas. E xingando de longe, enquanto Bolsonaro estará lustrando as botas para subir novamente aquela rampa.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]. >Mais textos do autor
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