Entrar
Cadastro
Entrar
Publicidade
Publicidade
Receba notícias do Congresso em Foco:
Coletivo Legis-Ativo
Não sabem perder: o comportamento infantil do parlamentar brasileiro
Coletivo Legis-Ativo
Coletivo Legis-Ativo
Coletivo Legis-Ativo
Coletivo Legis-Ativo
CPI DAS BETS
16/5/2025 18:04
A convocação da influenciadora Virgínia Fonseca para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a promoção de plataformas de apostas reacende um debate fundamental sobre os limites entre liberdade individual, responsabilidade pública e moralidade cívica em sociedades democráticas. Em uma democracia, o espaço público é, por definição, um território de pluralidade e contestação mas também de exigências normativas sobre o comportamento dos indivíduos que atuam como formadores de opinião.
A presença de Virgínia Fonseca na CPI tem significado simbólico. A influenciadora, que possui milhões de seguidores nas redes sociais, sobretudo entre adolescentes e jovens, foi chamada a explicar sua associação com plataformas de apostas que operam na fronteira entre o entretenimento e a exploração de comportamentos compulsivos. Nesse contexto, seu depoimento é menos sobre a culpabilidade legal e mais sobre o papel social que figuras públicas desempenham na normalização de práticas potencialmente nocivas à saúde financeira e mental de seus seguidores.
O vício em jogos e apostas, enquanto categoria comportamental e social, desafia as democracias modernas, sobretudo quando esse comportamento é estimulado ou promovido por figuras com grande capital simbólico. A glamurização das apostas em ambientes digitais transforma uma atividade arriscada em um estilo de vida aspiracional, descolando-a de seus impactos concretos sobre indivíduos vulneráveis. Isso é particularmente grave em um país como o Brasil, onde a educação financeira é precária e a ilusão da sorte fácil encontra terreno fértil.
A promoção desse tipo de conteúdo nas redes sociais esvazia o debate público ao deslocar a atenção das consequências sociais para o apelo emocional da experiência individual. Quando uma influenciadora como Virgínia Fonseca associa sua imagem a uma plataforma de apostas sem considerar os impactos de sua influência, testemunhamos uma forma de corrosão da ética pública. A ação, mesmo que legalmente permitida, pode ter efeitos colaterais profundos ao legitimar práticas que favorecem a dependência e a desorganização da vida cotidiana.
Mais do que um julgamento sobre uma pessoa específica, a audiência da CPI escancara uma contradição contemporânea das democracias de massa: a coexistência entre liberdade de expressão e um novo tipo de poder, difuso e privatizado, operado por influenciadores digitais. Se, por um lado, a democracia deve proteger a liberdade de expressão e de mercado, por outro, ela não pode abdicar da tarefa de proteger seus cidadãos sobretudo os mais vulneráveis dos efeitos de práticas publicitárias nocivas, ainda que essas se travistam de entretenimento ou autenticidade nas redes sociais.
A noção de moralidade cívica implica reconhecer que o exercício da influência, ainda que não institucionalizado, é um ato político. O "capital simbólico" acumulado por influenciadores como Virgínia Fonseca lhes confere poder de moldar valores, comportamentos e desejos. Em regimes democráticos, onde o poder deve ser constantemente legitimado pelo interesse público, o uso desse capital exige responsabilidade proporcional. Ignorar esse princípio é ceder a uma lógica de mercantilização radical da cidadania, onde tudo inclusive o vício pode ser transformado em nicho de mercado.
É legítimo que figuras públicas sejam chamadas a prestar contas quando suas ações têm repercussões sociais significativas. A CPI das apostas, nesse sentido, cumpre um papel pedagógico ao reforçar que a esfera pública digital não está fora do alcance da política nem da regulação democrática. Contudo, é preciso ir além da responsabilização individual e pensar em modelos institucionais capazes de enfrentar os desafios éticos que emergem na intersecção entre influência digital, consumo e saúde social.
Em tempos em que o vício é transformado em tendência e o lucro se sobrepõe ao cuidado com o outro, a democracia precisa ser relembrada de seu compromisso com a formação de cidadãos conscientes, e não apenas consumidores cativados. A moralidade cívica, longe de ser uma imposição moralista, é o elo que sustenta a convivência democrática, onde o direito à liberdade caminha lado a lado com o dever de responsabilidade.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]
Política Cultural
POLÍTICA BRASILEIRA
Não sabem perder: o comportamento infantil do parlamentar brasileiro
previsões políticas
Geopolítica e autoritarismo