Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
Informativo no ar!
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Entre o vício e a moralidade cívica: o polêmico caso das apostas | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News
LEIA TAMBÉM

Coletivo Legis-Ativo

Não sabem perder: o comportamento infantil do parlamentar brasileiro

Coletivo Legis-Ativo

PEC do fim da reeleição: dilemas e desafios à governança

Coletivo Legis-Ativo

Direita, esquerda e o Congresso no meio: quem ainda confia?

Coletivo Legis-Ativo

A percepção do eleitorado sobre a anistia do 8 de janeiro

Coletivo Legis-Ativo

Flexibilização da Lei da Ficha Limpa em debate

CPI DAS BETS

Entre o vício e a moralidade cívica: o polêmico caso das apostas

A audiência com Virgínia Fonseca escancara uma contradição contemporânea das democracias de massa.

Coletivo Legis-Ativo

Coletivo Legis-Ativo

Joyce Luz

Joyce Luz

16/5/2025 18:04

A-A+
COMPARTILHE ESTA COLUNA

A convocação da influenciadora Virgínia Fonseca para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a promoção de plataformas de apostas reacende um debate fundamental sobre os limites entre liberdade individual, responsabilidade pública e moralidade cívica em sociedades democráticas. Em uma democracia, o espaço público é, por definição, um território de pluralidade e contestação mas também de exigências normativas sobre o comportamento dos indivíduos que atuam como formadores de opinião.

A presença de Virgínia Fonseca na CPI tem significado simbólico. A influenciadora, que possui milhões de seguidores nas redes sociais, sobretudo entre adolescentes e jovens, foi chamada a explicar sua associação com plataformas de apostas que operam na fronteira entre o entretenimento e a exploração de comportamentos compulsivos. Nesse contexto, seu depoimento é menos sobre a culpabilidade legal e mais sobre o papel social que figuras públicas desempenham na normalização de práticas potencialmente nocivas à saúde financeira e mental de seus seguidores.

Virgínia Fonseca na CPI das Bets: empresária expôs marca de produtos e minimizou sua influência sobre apostadores.

Virgínia Fonseca na CPI das Bets: empresária expôs marca de produtos e minimizou sua influência sobre apostadores. Gabriela Biló/Folhapress

O vício em jogos e apostas, enquanto categoria comportamental e social, desafia as democracias modernas, sobretudo quando esse comportamento é estimulado ou promovido por figuras com grande capital simbólico. A glamurização das apostas em ambientes digitais transforma uma atividade arriscada em um estilo de vida aspiracional, descolando-a de seus impactos concretos sobre indivíduos vulneráveis. Isso é particularmente grave em um país como o Brasil, onde a educação financeira é precária e a ilusão da sorte fácil encontra terreno fértil.

A promoção desse tipo de conteúdo nas redes sociais esvazia o debate público ao deslocar a atenção das consequências sociais para o apelo emocional da experiência individual. Quando uma influenciadora como Virgínia Fonseca associa sua imagem a uma plataforma de apostas sem considerar os impactos de sua influência, testemunhamos uma forma de corrosão da ética pública. A ação, mesmo que legalmente permitida, pode ter efeitos colaterais profundos ao legitimar práticas que favorecem a dependência e a desorganização da vida cotidiana.

Mais do que um julgamento sobre uma pessoa específica, a audiência da CPI escancara uma contradição contemporânea das democracias de massa: a coexistência entre liberdade de expressão e um novo tipo de poder, difuso e privatizado, operado por influenciadores digitais. Se, por um lado, a democracia deve proteger a liberdade de expressão e de mercado, por outro, ela não pode abdicar da tarefa de proteger seus cidadãos sobretudo os mais vulneráveis dos efeitos de práticas publicitárias nocivas, ainda que essas se travistam de entretenimento ou autenticidade nas redes sociais.

A noção de moralidade cívica implica reconhecer que o exercício da influência, ainda que não institucionalizado, é um ato político. O "capital simbólico" acumulado por influenciadores como Virgínia Fonseca lhes confere poder de moldar valores, comportamentos e desejos. Em regimes democráticos, onde o poder deve ser constantemente legitimado pelo interesse público, o uso desse capital exige responsabilidade proporcional. Ignorar esse princípio é ceder a uma lógica de mercantilização radical da cidadania, onde tudo inclusive o vício pode ser transformado em nicho de mercado.

É legítimo que figuras públicas sejam chamadas a prestar contas quando suas ações têm repercussões sociais significativas. A CPI das apostas, nesse sentido, cumpre um papel pedagógico ao reforçar que a esfera pública digital não está fora do alcance da política nem da regulação democrática. Contudo, é preciso ir além da responsabilização individual e pensar em modelos institucionais capazes de enfrentar os desafios éticos que emergem na intersecção entre influência digital, consumo e saúde social.

Em tempos em que o vício é transformado em tendência e o lucro se sobrepõe ao cuidado com o outro, a democracia precisa ser relembrada de seu compromisso com a formação de cidadãos conscientes, e não apenas consumidores cativados. A moralidade cívica, longe de ser uma imposição moralista, é o elo que sustenta a convivência democrática, onde o direito à liberdade caminha lado a lado com o dever de responsabilidade.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected]

Siga-nos noGoogle News
Compartilhar
COLUNAS MAIS LIDAS
1

Política Cultural

Lei do streaming tem que focar no produtor independente

2

POLÍTICA BRASILEIRA

Não sabem perder: o comportamento infantil do parlamentar brasileiro

3

previsões políticas

Golpe de 8 de janeiro. Eu já sabia...

4

ISENÇÃO DO IR

O papel central do relator no projeto do Imposto de Renda

5

Geopolítica e autoritarismo

A direita, a esquerda e o diabo no meio do redemoinho

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES