Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Colunas >
  3. José Dirceu: reforma tributária é chave para um projeto de ... | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News
LEIA TAMBÉM

José Dirceu

Quem defenderá São Paulo?

José Dirceu

Os perigos que nos ameaçam

José Dirceu

Lei do streaming tem que focar no produtor independente

José Dirceu

O sopro da democracia vem com Lula, Orsi, Petro e Boric

José Dirceu

Fim da escala 6x1 tem de ser nossa bandeira

impostos

José Dirceu: reforma tributária é chave para um projeto de desenvolvimento do Brasil

OPINIÃO | O momento histórico e a janela de oportunidade para o Brasil se desenvolver estão dados. Por José Dirceu

José Dirceu

José Dirceu

21/2/2024 | Atualizado às 21:25

A-A+
COMPARTILHE ESTA COLUNA

Foto: Towfiqu barbhuiya (via Unsplash)

Foto: Towfiqu barbhuiya (via Unsplash)
Creio que devemos colocar a reforma tributária necessária e urgente numa perspectiva histórica mundial e nacional. Quando falamos de reforma tributária falamos do quê? Da apropriação ou não de parte da renda nacional pelo Estado e governos, com o objetivo de manter a nação. Assim, dependendo do país, do regime e sistema de governo teremos diferentes centros de decisão sobre essa apropriação e, dependendo do período histórico, diferentes setores da economia e classes sociais penalizadas pelos tributos. E cada tributo tem sua função e destinação para determinada classe social  a depender da época e do objetivo do poder político. Os impostos e tributos são decisivos na evolução política histórica dos povos. Guerras e revoltas contra a elevação dos impostos, deflagradas não apenas por camponeses mas também pelas classes dominantes, eram a resposta ao arbítrio ou poder absolutista dos reis e impérios.   Foi o que ocorreu na Inglaterra no século 17 com o Bill of Rights, quando a coroa teve que submeter ao Parlamento seu poder absoluto e divino nas decisões sobre impostos. Sob pena de ilegalidade, além da proibição de impostos excessivos e de punições cruéis e incomuns. No Brasil, a derrama - cobrança de impostos atrasados pela Coroa portuguesa - deu origem à Inconfidência Mineira; e nos Estados Unidos, afundados em dívidas da guerra chamada dos sete anos, George III da Inglaterra impôs o monopólio de chá para a América, fixando um preço especial para os colonos que contrabandeavam aquele produto, além do imposto do Selo e do Açúcar, com o objetivo de garantir reserva de mercado consumidor da produção inglesa. Os colonos reagiram com a Festa do Chá (Tea Party), lançando ao mar o carregamento de chá de três navios da Companhia Britânica das Índias Ocidentais. Sempre há luta política e disputa social em torno da questão tributária sobre quem paga, quanto, de que forma e com que objetivo. As classes sociais reagem à apropriação de suas riquezas, renda e propriedade ou patrimônio, sejam proprietárias ou não, trabalhadores ou pequenos produtores, comerciantes ou prestadores de serviços. E os impostos podem ter diferentes fatos geradores, são pagos em moeda nacional por pessoas físicas ou jurídicas e podem ser municipais, estaduais ou federais, têm a forma de impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições especiais. O fator gerador dos impostos cobrados também é objeto de disputa política e social, pode concentrar ou distribuir renda se cobrado das classes que detêm renda, riqueza e patrimônio ou se cobrado sobre bens e serviços, de forma direta ou indireta, seja regressivo ou progressivo. Assim, o imposto de renda, riqueza e patrimônio é um imposto direto e pode ser progressivo, distribuindo renda. Já os impostos indiretos, por incidirem de forma geral com a mesma alíquota para todas classes, são regressivos e concentradores de renda. Os impostos podem, portanto, independente do seu destino, concentrar a renda nacional ou ser um fator de distribuir renda e ser destinado a serviços públicos universais gratuitos como saúde e educação, entre outros. No Brasil, ainda estamos à espera de uma revolução social. Um caminho que foi percorrido pela Europa desde o  século 19, quando fez uma revolução política, agrária e tributária para responder às revoltas camponesas e operárias, com o voto universal, o direito de greve e sindical, a distribuição de terras e a cobrança de impostos progressivos para sustentar um estado de bem estar social. Aqui, o o que tivemos foi um movimento na mão inversa com a Lei de Terras de 1850 que determinou o predomínio dos grandes proprietários de terra, ameaçados pela imigração e pelo fim do tráfico negreiro criminalizado pela Lei Euzébio de Queiroz. No final do século 19 tivemos a imigração em massa de europeus e a abolição da escravidão, mas não o acesso à terra pelos ex-escravos  ou pelos imigrantes. Ao contrário da maioria dos países onde os impostos incidem sobre a renda, riqueza e patrimônio, no Brasil eles são aplicados sobre os serviços e bens, são indiretos e regressivos, e não diretos e progressivos, levando a uma severa distorção que agrava ainda mais a natural concentração de renda do sistema capitalista vigente.

Juros, os vilões de sempre

Um país tem suas riquezas e classes sociais, uma determinada distribuição da renda nacional, que depende de como cada fator é remunerado: os salários, os aluguéis, juros e lucros, contados um e uma única vez. Ora se os juros são altíssimos, como no Brasil, quem detém o monopólio da poupança e do crédito cobrando juros se apropria mais da renda nacional. O lucro comparado com o salário é fator determinante para definir sua distribuição e os aluguéis, não só de imóveis mas de bens como a terra ou máquinas e equipamento, podem aumentar ou diminuir a renda desse item. Nosso sistema tributário, além de injusto, passa a ser irracional e contraproducente pois destina a um dos fatores -- os juros, que no fundo é o preço pelo aluguel do dinheiro -- uma participação excessiva. Se o lucro também não é taxado, aprofunda-se a desigualdade. E se os juros que incidem sobre os empréstimos para a produção, os serviços e o comércio são altos, eles expropriam parte da renda dos próprios capitalistas e de seu lucro. A questão dos juros é mais grave quando analisamos a dívida pública dos países e quem são seus detentores. Geralmente os donos da dívida pública dos países é uma parcela ínfima da população, cerca de 1% e a que já detém entre 25% a 30% da renda nacional. Se o juro real pago como serviço da dívida pública é altíssimo com no Brasil - na maioria dos países é negativo ou irrisório, mas não aqui - amplia-se ainda mais a concentração da renda. Sobre uma dívida pública de R$ 6 trilhões faz uma diferença brutal pagar 1% ou 5% de juros de seu serviço. Estamos falando de R$ 60 bilhões ou de R$ 3OO bilhões, dinheiro que é expropriado do orçamento federal ou obtido com novos endividamentos que só aumentam a dívida pública, num círculo vicioso concentrador de renda. Portanto, ao discutir a reforma tributária nosso objetivo maior deve ser taxar a renda, riqueza e patrimônio e inverter a pirâmide onde os ricos pagam menos impostos proporcionalmente que os pobres ou os trabalhadores e pequenos produtores; estabelecer impostos diretos e progressivos e não indiretos e regressivos; não taxar os investimentos, as exportações  a pesquisa técnico-científica, a inovação, os salários; sustentar a previdência social com um imposto específico sobre a riqueza e o consumo de luxo ou seletivo sobre produtos como o cigarro, a bebida etc. A reforma do IVA representa um avanço extraordinário, mas é preciso ter consciência de que um país tem suas riquezas e tem que decidir de onde extrairá recursos para acelerar o desenvolvimento e resolver sua desigualdade e pobreza. No nosso caso, temos quatro fatores a serem tributados: a agricultura, a mineração, o petróleo e o gás e a renda nacional. Como vimos, estamos mal na taxação da renda nacional com um sistema que concentra renda e não distribuiu. A agricultura não paga impostos e é beneficiada pelos subsídios do Plano Safra, pela pesquisa e inovação da Embrapa e pelo uso e propriedade de um bem nacional, a terra. Não é justo. As empresas e os proprietários agrícolas precisam pagar imposto de renda e sobre lucro e dividendos, pagar impostos sobre a aplicação no mercado financeiro e na formação de fundos off shore ou exclusivos, sobre lucro sobre capital próprio. A mineração outra fonte de tributação, sendo também a exploração de um bem nacional do subsolo, tem também ser tributada. Hoje é taxada via Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), de 6%, alíquota que precisa ser revista e majorada tendo em vista os lucros da Vale e do setor e  a necessidade de investimentos para a redução dos seus previsíveis danos ambientais. É na riqueza do petróleo e gás que devemos nos concentrar para criar um Fundo Soberano Nacional. É um gravíssimo erro não concentrar a tributação que se dá pela cobrança de royalties, participações especiais e bônus de assinatura pela exploração em campos de petróleo e gás. Esses impostos somaram R$ 110, 6 bilhões em 2023 (previsão), mas sua aplicação está dispersa. Os royalties são distribuídos para estados, municípios produtores e União. Há ainda os dividendos da Petrobras para a União por ser acionista majoritária da empresa. Temos ainda os impostos federais e estaduais sobre o petróleo e gás e os derivados, como o IRPJ, PIS Cofins, ICMS, mas o que interessa para o desenvolvimento nacional é aproveitar o crescimento da exploração do petróleo e gás para alavancar o investimento público nas áreas prioritárias de educação, inovação, infraestrutura, meio ambiente. Devemos aproveitar a bem sucedida experiência dos países produtores de petróleo nos últimos 30 anos - temos exemplos como os da Noruega e dos países do Golfo, caso da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes e do Catar - e criar uma fonte segura de financiamento como um Fundo Soberano Nacional a partir da renda que a União recebe dos royalties do petróleo e dividendos da Petrobras. Embora seja tema polêmico e quase proibido, a distribuição de royalties para estados e municípios precisa ser reavaliada.  Basta ver quanto arrecada cada cidade produtora e o seu estado frente a real necessidade social e econômica da população dessas cidades e de sua região frente às demais regiões do país. Há que se ter pelo menos uma imposição legal para a destinação desses recursos para as áreas prioritárias como saúde, educação, inovação, mobilidade urbana, saneamento, lazer e cultura e, particularmente, a criação de novas atividades produtivas ou de prestação de serviços para quando não existir mais esses royalties. O momento histórico e a janela de oportunidade para o Brasil se desenvolver e dar um salto educacional e tecnológico, produtivo e exportador, estão dados. Para aproveitá-los bem precisamos mudar radicalmente nossa estrutura tributária e de distribuição de renda, principal ponto de estrangulamento do crescimento do país. Não estou dizendo nenhuma novidade: a concentração de renda e os juros altos, agravados pela sonegação, elisão, renúncia, benefícios e isenções fiscais mal dimensionados, por um sistema tributário perverso e o serviço da dívida pública desenhado para os muito ricos são o câncer do país.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

economia juros impostos Reforma tributária

Temas

Governo Colunistas Coluna
COLUNAS MAIS LIDAS
1

Soberania

Império, vassalagem e traição

2

Crise

Deu tudo errado para os Bolsonaro

3

Democracia

Soberania não se negocia, não se vende e nem se renuncia

4

Justiça fiscal

Análise: Financiamento para o desenvolvimento global e nacional

5

Extrema-direita em crise

Trump, Epstein e o fim do silêncio

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES