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Congresso em Foco
22/7/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 17:34
Mas a lei em vigor beneficia também ocupantes de áreas maiores, permitindo a regularização de até 2.500 hectares. A diferença é que para esses ocupantes os critérios para a legalização são mais rígidos. E não poderia ser diferente, pois é de amplo conhecimento o fato que a questão da terra na Amazônia é marcada pela violência, pela invasão de terras indígenas, das áreas protegidas, pela expulsão de famílias pobres, pelo desmatamento e saque da natureza; e pelo assassinato de lideranças sindicais, indígenas, ambientalistas, religiosas e defensores dos direitos humanos.
É justamente para evitar que pessoas e grupos de poderosos associados a tais crimes sejam premiados que a lei estabelece critérios e procedimentos de verificação que não podem ser dispensados, como pretendia a MP 910 e agora pretende o projeto de lei do deputado Zé Silva.
A legislação vigente assegura ao governo a base jurídica que lhe permite adotar todos os meios necessários para avançar na regularização fundiária estabelecendo, inclusive, a vinculação entre as políticas fundiária e ambiental. O PL 2.633/20, ao permitir de forma facilitada a titulação de áreas com passivos ambientais, rompe com esse vínculo e abre as portas para novos desmatamentos nas áreas regularizadas.
Estudo recente divulgado pelo Projeto MapBioma revela que 99% do desmatamento no Brasil é ilegal. Outros estudos já apontaram que o desmatamento aumentou em áreas tituladas pelo Programa Terra Legal. Esses estudos alertam de que a regularização fundiária sem articulação com políticas ambientais pode favorecer a expansão de atividades que destroem a floresta.
Por isso, o que a Amazônia precisa é de um de um projeto de desenvolvimento que ao mesmo tempo utilize e preserva a natureza na sua integridade, não apenas as florestas. Um projeto que vinha sendo construído nas últimas décadas e que o governo Bolsonaro interrompeu querendo abrir caminho para a boiada passar, como defendeu o ministro Salles.
A alegoria utilizada pelo ministro para exaltar sua obra de desmonte da legislação ambiental - e incentivar seus pares para que façam o mesmo em cada pasta - representa também o compromisso do ministro e do governo Bolsonaro com os setores mais arcaicos do agronegócio do país empenhados em subjugar a Amazônia sob a marcha da pata do boi, o modelo de ocupação predatório de outrora.
Essa marcha está em curso, comandada por Nabhan Garcia e sua tropa, da qual Salles não passa do porteiro colocado à frente da comitiva para abrir a porteira da devastação. Tudo isso sob a tutela e cumplicidade da ministra Tereza Cristina, chefe direta do primeiro e beneficiária dos malfeitos do segundo. Uma ministra de dupla face que à luz dos holofotes faz o discurso contra o desmatamento e nas sombras do Ministério da Agricultura projeta a expansão da fronteira agrícola sobre novas áreas do Cerrado e da Amazônia, sem um plano que de fato evite mais desmatamento.
A Amazônia e o povo amazônida não merecem o destino a que estão sendo conduzidos por esse governo. É urgente ampliar no parlamento e na sociedade o debate em torno de um projeto que recoloque a Amazônia na vanguarda da reconstrução do país, resgatando as conquistas das últimas décadas e avançando em outras frentes. Há muito acúmulo nesse sentido, inclusive no âmbito do Congresso Nacional. Devemos nos empenhar para definir uma pauta afirmativa que contribua com o projeto desejado, refutando ao mesmo tempo as propostas que vão na sua contramão.
Se a Amazônia que queremos for um lugar de justiça social e bem-estar do seu povo, liberto dos conflitos fundiários e da ganância de uma minoria que hoje, como ontem, se apropria da terra e da natureza em detrimento do bem comum, a primeira tarefa a cumprir é lutar para que o PL 2.633 não prospere.
*Nilto Tatto (PT-SP) é deputado Federal .

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