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A crise da democracia e os abacates de Neruda

"Quantos entre nós abririam mão de seus abacates para presentear nossos defensores da democracia?"

Ricardo de João Braga

Ricardo de João Braga

27/3/2025 | Atualizado às 17:13

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Allende e Neruda, o presidente e o poeta

Allende e Neruda, o presidente e o poetaArquivo/Fundação Allende

"Do Chile chegaram mensagens de centenas de amigos, conhecidos e desconhecidos, que me cumprimentavam pela minha oposição aos piratas internacionais em defesa de nosso cobre. Enviada por uma mulher do povo, recebi uma encomenda que continha uma cuia de mate, quatro abacates e meia dúzia de pimentões verdes.

Pablo Neruda, em seu livro de memórias "Confesso que vivi", afirma ter ficado tocado com o gesto dessa senhora simples do povo. À época o poeta, reconhecidíssimo e laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, servia como embaixador chileno em Paris sob o governo de Salvador Allende. Os abacates chegaram quando o governo nacionalizava o cobre, a principal riqueza natural do Chile, num momento de turbulência e dificuldade, como foi todo o governo de Allende.

Ao considerar hoje a crise da democracia, a confissão de Neruda descortinou para mim a profunda dificuldade sob a qual estamos. Ela é política, mas é profundamente social, cultural, espiritual até. O sistema político organiza as possibilidades de vida de nós seres humanos, nos mostra limites a algumas ações e abertura a outras, e assim molda o horizonte de chances: quem vai ser mais feliz, quem menos.

A senhora que enviou os abacates a Neruda enxergou nele e no governo ao qual servia um alargamento de seu horizonte de vida, provavelmente o resgate do sofrimento amplo e generalizado que a economia de enclaves primário-exportadores sob propriedade de ingleses e alemães impunha ao povo chileno há século, depois da exploração do período colonial.

A democracia, que consiste no mínimo compartilhado de regras civilizatórias, hoje sofre ataques agressivos, estridentes e muitas vezes mentirosos de pessoas e grupos que apenas desejam enfeixar o poder e sorver as delícias do príncipe (na exemplar expressão de Montesquieu sobre a essência do governo dos tiranos). Contudo, a defesa da democracia não pode se basear apenas no medo de que as coisas piorem (ainda mais!), ou em alguma fé em abstrações filosóficas.

A verdade brasileira consiste numa desigualdade gritante e em um sistema político que entrega muito pouco, uma elite política que não quer ouvir as ruas e lhe ilude com apenas um debate moral extremamente conveniente para as elites e para a manutenção de nosso estado de coisas. Talvez conjunturalmente parte dessa elite entenda-se ao lado da defesa da democracia, mas isso não é defesa de fato.

A democracia precisa entregar ao cidadão comum uma boa vida concreta. Aqueles que de fato preocupam-se com a democracia precisam entender que é preciso cuidar da vida das pessoas. Cuidar significa a prestação adequada de serviços públicos de saúde, educação, transporte, moradia, segurança. Precisam promover trabalho adequado para as pessoas, permitir que se desenvolvam nos estudos, no avanço cultural.Nossa sociedade tem os podres de rico, as autoridades encasteladas, os mentirosos demagogos, gente que faz funcionar muito mal nossa democracia, nosso sistema representativo. Os verdadeiros defensores da democracia precisam imbuir-se da missão de fazer a vida das pessoas menos sofrida, mais rica. Defender a democracia no Brasil consiste essencialmente em tornar as pessoas mais iguais.

A democracia se tornará inexpugnável quando o cidadão ordinário desse Brasil sentir que faz parte de uma comunidade onde há um nível mínimo de solidariedade, expressa em serviços públicos que o ajudem. Quando sentir que pode trabalhar com dignidade, cuidar de si e dos seus com o orgulho de missão bem cumprida. Essa é a mensagem que nossos defensores da democracia precisam ouvir e compreender.

A crise da democracia em nossa terra durará o tempo que a população sustente os podres de rico e as autoridades encasteladas em sua bela e predatória vida. Eu me pergunto quantos entre nós abririam mão de seus abacates para presentear nossos defensores da democracia. Creio que poucos. Se isso não mudar, a batalha restará sempre no fio da navalha, e o resultado periclitante.

O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.

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