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Segurança Pública
Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Lucas Neiva
5/2/2024 | Atualizado 7/2/2024 às 16:41
Professor José Alves: "O Norte e o Centro-Oeste são onde o setor privado avança sobre terras públicas". Foto: UFRRJ[/caption]
Pesquisador da violência urbana, o sociólogo José Claudio Souza Alves, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), enxerga a questão de outra forma. Para ele, a explicação para a forte presença de deputados pró-armas em determinadas regiões está relacionada com a forte representação do agronegócio nessas bancadas. A facilitação do acesso a armas é uma das bandeiras de parlamentares ligados ao setor, sob a alegação de que não podem faltar meios para a defesa do direito à propriedade.
"O Norte e o Centro-Oeste são onde o setor privado avança sobre terras públicas, reservas indígenas, quilombos, comunidades ribeirinhas, entre outros. O capital grila terras, mata e se elege com essa bandeira. A maior intensidade da atuação na fronteira agrícola exige maior suporte político dadas as resistências locais, a dimensão espacial, o histórico de ocupação e a presença de terras indígenas demarcadas", aponta o professor.
No caso do Nordeste, onde a bancada da bala tem menos força, José Claudio considera que "o processo histórico de consolidação dos grupos dominantes" já se concluiu, não havendo mais uma disputa de interesses na proporção da verificada atualmente no cerrado e na Amazônia, áreas de expansão agrícola. Com isso, cai também a demanda por políticas de fomento ao uso de armas, segundo o sociólogo.
Alberto Fraga, porém, acredita que os nordestinos pagam um preço alto por darem menos importância à questão da segurança. "O Nordeste não tem a segurança pública como bandeira principal. Os exemplos estão aí: os estados mais violentos do Brasil estão no Nordeste. Lamentavelmente, muitos políticos não se elegem porque não fazem essa campanha direta com relação ao combate à violência", diz o deputado.
De fato, em 2022, quando foram realizadas as últimas eleições para o Congresso Nacional, as regiões Norte e Nordeste concentravam os índices mais elevados de ocorrências de homicídios por 100 mil habitantes, conforme divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Estudiosos em segurança pública, no entanto, consideram um disparate relacionar presença de políticos pró-armas no Legislativo com redução ou aumento da violência.
Alberto Fraga é o fundador e o atual presidente da Frente da Segurança Pública na Câmara. Foto: Zeca Ribeiro/Ag. Câmara[/caption]
A bancada da bala foi fundada em 2005 pelo próprio Alberto Fraga, então filiado ao PFL (atual União Brasil). Surgiu com o nome de "Frente Parlamentar pelo Direito à Legítima Defesa", reunindo 202 deputados contrários à proibição do comércio de armas de fogo no Brasil, tema de um referendo nacional realizado naquele ano.
Vitoriosa no referendo, na contramão do que indicavam tanto a experiência internacional quanto a quase unanimidade dos pesquisadores da área, a bancada também se posicionou como a principal força em defesa da revogação do Estatuto do Desarmamento. Parte de seus membros compreende o porte de arma como o exercício de uma liberdade civil. Outra parte, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores mais próximos, defende o amplo acesso a armas de fogo como uma política de segurança pública.
"Quer acabar com roubo de caminhões no Brasil? Bota um fuzil na mão de cada caminhoneiro", chegou a dizer Bolsonaro a jornalistas do Congresso em Foco, ainda antes de se eleger presidente da República.
Entre 2007 e 2010, a frente deixou de existir enquanto entidade formal. Mas seus integrantes históricos não pararam de se articular em torno de objetivos comuns. Suas pautas incluíam, além da bandeira armamentista, o recrudescimento da lei penal e a defesa de propostas legislativas do interesse dos policiais e dos militares.
Na legislatura iniciada em 2015, a bancada, agora rebatizada como "Frente Parlamentar da Segurança Pública", chega a ter 299 deputados, tendo como presidente o deputado Capitão Augusto (PL-SP).
Em 2017, a bancada conseguiu aprovar o projeto de lei que aumenta a pena para crimes cometidos contra policiais, bem como o estabelecimento de normas estritas para que presidiários tenham direito a saída temporária.
Com a posse de Jair Bolsonaro, em 2019, a Frente Parlamentar da Segurança viu pela primeira vez um de seus integrantes chegar ao posto mais alto da República. Entusiasta do armamento civil, Bolsonaro decretou uma série de políticas de flexibilização do acesso a armas de fogo, especialmente por meio do cadastro de Caçador, Atirador Desportivo e Colecionador (CAC), modalidade de porte de arma até então utilizada como atalho para compradores interessados. A bancada chegou a reunir 306 deputados durante o governo anterior.
Nesta legislatura, caiu para 260 o número de deputados integrantes da frente parlamentar. Por outro lado, o núcleo duro dela, formado por policiais (civis, federais e militares) e militares das Forças Armadas comprometidos com a agenda armamentista, chegou ao seu maior tamanho: são 44 deputados com essa origem. Esse núcleo atua de forma coordenada e preenche as principais funções na estrutura organizacional da bancada.
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