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Luiz Carlos Mendonça de Barros
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Luiz Carlos Mendonça de Barros
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Trump: mudanças radicais e perigosas para a economia mundial
Luiz Carlos Mendonça de Barros
Luiz Carlos Mendonça de Barros
ECONOMIA INTERNACIONAL
5/5/2025 9:05
No dia 2 de abril, em uma cerimônia repleta de símbolos patrióticos nos jardins da Casa Branca, o então presidente Donald Trump anunciou ao mundo a criação de um novo e sofisticado sistema de tarifas sobre as importações americanas. A medida, divulgada como um gesto de libertação econômica, atingiu uma extensa gama de parceiros comerciais e foi apresentada como resposta às perdas sofridas pela indústria norte-americana ao longo das últimas décadas.
Trump se colocou como o porta-voz de uma parcela significativa da população que se sentia abandonada por um sistema internacional de comércio que, segundo ele, sacrificou empregos industriais em nome da globalização. É possível entender a origem desse discurso: setores inteiros da indústria americana especialmente o automotivo perderam competitividade e foram transferidos para países com custos menores, gerando desemprego e devastando comunidades operárias nos Estados Unidos.
Durante sua campanha eleitoral, Trump prometeu reverter esse processo. Já se esperava que seu governo adotasse medidas protecionistas, mas poucos analistas imaginavam a intensidade das tarifas anunciadas. No chamado Dia da Libertação, o presidente revelou taxas que, em alguns casos, superavam os 50%. A surpresa foi geral até mesmo os economistas mais pessimistas previam no máximo tarifas de 10% sobre o preço CIF das importações.
O problema não está apenas na surpresa, mas nas consequências práticas e econômicas dessa política. Nas semanas anteriores, analistas e economistas alertaram para os riscos de se adotar um sistema tarifário agressivo em uma economia altamente dependente de cadeias globais de produção. A crítica principal era clara: haveria um colapso no sistema logístico e industrial americano, que exigiria ao menos três anos de investimentos pesados para reconstituir uma matriz insumo-produto nacional minimamente viável.
Nesse cenário, os Estados Unidos estariam sujeitos a um duplo choque: de oferta e como consequencia inflacionário. Com a alta dos custos de importação, os insumos usados na produção interna encareceriam rapidamente, pressionando os preços dos produtos finais e alimentando a inflação. Os modelos econômicos projetados antes do anúncio trabalhavam com aumentos moderados ninguém considerava tarifas de 25% ou mais.
Se o choque econômico inicialmente previsto já era alarmante, os números absurdos apresentados por Trump em uma tabela exibida diante das câmeras transformaram o chamado Dia da Libertação em um verdadeiro dia de pânico. Na manhã seguinte, com a abertura dos mercados, a euforia deu lugar à turbulência: as ações em Wall Street despencaram até 20%, e bolsas ao redor do mundo seguiram o mesmo caminho. O dólar americano, símbolo do poder norte americano e ancora de estabilidade da economia global, desvalorizou-se mais de 10% frente a outras moedas internacionais.
Esse pânico foi rapidamente levado ao presidente pelo secretário do Tesouro. Um plano de emergência foi articulado para evitar que a derrocada dos mercados se transformasse em um colapso sistêmico semelhante ao de 2008. Três dias após o Dia da Libertação, a Casa Branca anunciou a suspensão, por 90 dias, da aplicação das tarifas mais agressivas. Em seguida, vieram várias alterações pontuais nas medidas, especialmente em relação à importação de veículos, peças e componentes de mercados estratégicos.
A lição foi clara, embora aparentemente pouco assimilada: em um mundo interconectado, o protecionismo isolado e abrupto pode ser mais destrutivo do que curativo. Reverter décadas de globalização com decretos tarifários pode satisfazer o discurso político, mas ignora a realidade complexa das cadeias produtivas, do comércio internacional e das consequências sistêmicas da desorganização econômica.
Mas o caos evitado com o adiamento da entrada em vigor do quadro de tarifas mostrado com empáfia por Trump no dia da libertação certamente voltará caso a Casa Branca não volte atrás de forma difinitiva em sua política de tarifas. Quando escrevo esta coluna a queda nos índices das principais ações americanas negociadas em Wall Street estão ainda com uma queda média de pouco menos de 10% em relação ao dia da vitoria de Trump em 2024.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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