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Alessandra Nilo
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Análise: Financiamento para o desenvolvimento global e nacional
Alessandra Nilo
5/10/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:06
Portanto, mesmo cortando recursos essenciais para a área social e de fomento à inovação e criatividade, a EC 95 não reduziu a dívida pública como prometido. Ao contrário, ela continuou crescendo. Tampouco afetou positivamente o déficit primário, o principal foco dessa emenda, mas foi eficiente em comprometer a capacidade de desenvolvimento nacional também em médio e longo prazos. Somos o quinto país mais desigual do mundo, mesmo sendo nono em tamanho do PIB e seguimos dependentes de volumes de exportação de produtos primários de baixo valor agregado, presos na armadilha das commodities, com políticas econômicas que se negam a investir em desenvolvimento humano e, assim, conseguir diversificar a matriz produtiva.
A primeira mudança necessária, hoje, passa pela própria nomenclatura. O orçamento para a área social não é, e não pode ser enunciado em discursos e narrativas, como gasto, pois é, de fato, um investimento com alto retorno, um meio para um país se tornar desenvolvido e se constituir uma nação inclusiva.
Hoje também é dia para lembrar que os projetos de lei para o orçamento federal de 2021 - PLOA e PLDO -, enviados pelo Executivo ao Congresso Nacional, continuam o caminho de retrocesso da agenda de direitos constitucionais, ampliando as lacunas de financiamento para a saúde, educação, segurança alimentar e assistência social, enquanto aumenta significativamente os recursos para os ministérios da Defesa (~2%), Segurança Pública (~3%) e Cidadania (~9%), sendo este um organismo puramente ideológico sem ações efetivas, como mostra o Relatório Luz 2020, com o desinvestimento em áreas estratégicas como o Bolsa Gestante e o programa de redução da violência contra a mulher.
As soluções existem. E elas baseiam-se em dados e evidências - é isso que mostra a coalizão de organizações da sociedade civil, a Direitos Valem Mais, que em parceria com economistas da academia e de instituições de controle e monitoramento público produziu uma nota técnica que demonstra quais os pisos mínimos necessários para quatro áreas essenciais para o desenvolvimento humano no Brasil. Apenas em saúde e educação a lacuna de financiamento é superior a R$ 80 bilhões, acelerando o afastamento do país do caminho dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da erradicação da pobreza e da redução das desigualdades. Ao concluir a leitura dessa nota certamente não sobram dúvidas de como a atual política econômica está sendo conduzida com má fé, parte de um desmonte e desarticulação institucional sem precedentes no período democrático, ignorando direitos assegurados pela Constituição Federal. Diante de tal quadro, cabe ao Congresso Nacional a responsabilidade de "garantir que a Constituição caiba no orçamento".
A teoria econômica tem mudado muito rapidamente no debate internacional. A narrativa repetitiva do Estado mínimo e outras teses neoliberais defendidas sem questionamento nos corredores do Congresso e em telas de TV já não têm mais qualquer crédito em face da necessidade imposta pela pandemia da covid-19. O Estado mostrou-se o ente mais importante de qualquer economia, o garantidor e investidor de última instância para o desenvolvimento de uma nação. Na hora do aperto, o capital privado, tão adorado em discursos, não apresentou alternativa alguma e foge para paraísos fiscais (RL 2020).
É grave que o Estado brasileiro siga tentando fugir de seus deveres, principalmente com a desculpa de falta de recursos. Não após a pandemia mostrar a facilidade com que o Banco Central abriu a torneira monetária e injetou centenas de bilhões de reais para manter o mercado de capitais funcionando, enquanto a defesa da continuidade da renda emergencial para as pessoas mais vulneráveis suscita as mais bizarras e cruéis admoestações.
Ademais, é preciso que o Congresso Nacional entenda que o Brasil é um país ainda atrasado e em desenvolvimento arrastado, que mesmo tendo acesso a tecnologias compatíveis no mundo, não produz nem cria tais tecnologias. Somos dependentes e não devia haver menor orgulho nisso. Para sair desse ciclo, só tem um jeito: investir nas pessoas e, para isso, mudar os PLOA e PLDO enviados. Já passou da hora, mas nunca é tarde para protagonizar a defesa dos princípios e direitos fundamentais da Constituição, a nossa vilipendiada aniversariante do dia.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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