Entrar

    Cadastro

    Notícias

    Colunas

    Artigos

    Informativo

    Estados

    Apoiadores

    Radar

    Quem Somos

    Fale Conosco

Entrar

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigos
  1. Home >
  2. Colunas >
  3. Uma borboleta batendo asas no Brasil pode causar um furacão no Texas | Congresso em Foco

Publicidade

Publicidade

Receba notícias do Congresso em Foco:

E-mail Whatsapp Telegram Google News
LEIA TAMBÉM

Paulo José Cunha

Socooorro! Os algoritmos estão soltos!

Paulo José Cunha

Liberdade de acesso à informação ou palanque midiático?

Paulo José Cunha

Cicatrizes que não param de sangrar

Paulo José Cunha

A direita pós-modernizou-se e ficou ainda mais perigosa

Paulo José Cunha

Pissigção! Pissigção!

Uma borboleta batendo asas no Brasil pode causar um furacão no Texas

Paulo José Cunha

Paulo José Cunha

17/8/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:58

A-A+
COMPARTILHE ESTA COLUNA

O primeiro homem do mundo, o Adão na tradição judaico-cristã, não nasceu num bairro, numa cidade, num estado, num país nem num continente. Nasceu num planeta que posteriormente foi dividido em países por questões políticas, econômicas e ideológicas, em meio a guerras de conquista e conflitos de terras. Mas o planeta permaneceu o mesmo, desde sempre. Nós moramos numa bola azul, solta no espaço, com 70% de sua superfície coberta de  água, por onde correm ventos, crescem florestas e savanas, nascem árvores e bichos de todo tipo. Inclusive um bicho muito estranho. Uma espécie que se diz inteligente, mas é a única que bate nos filhos e os machos maltratam e matam as próprias fêmeas, além de destruírem a natureza que lhes garante a vida. > Mortos por covid-19 superam a população de 92% dos municípios brasileiros Esta abertura propositalmente piegas é um chamariz para um fato muitas vezes desprezado quando os governos tratam das questões ambientais: o planeta Terra é um só. Por mais que tenha sido retalhado em países, muitos deles em conflito, a velha Terra continua una e indivisível. Os rios e os ventos não dão a mínima para fronteiras. O Nilo, por exemplo, nasce no rio Kagera, no Burundi, e de lá segue por Uganda, Tanzânia, Ruanda, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e Egito. O Amazonas nasce nos Andes do Peru e de lá passa pela Colômbia até chegar ao Brasil. Em sua bacia hidrográfica estão também a Bolívia, o Equador, a Venezuela e a Guiana. E então: dá para dizer a quem pertence o Nilo? Ele é do Egito? E o Amazonas é mesmo um rio do Brasil? Ou os dois são propriedade... do mundo? Os ventos também não têm o menor respeito pelas fronteiras geográficas. Sopram onde querem, vão aonde querem, aquecem ou esfriam o que querem e quando querem. O Siroco é um bom exemplo. É um vento que vem do Saara e chega a velocidades de furacão no sul da Europa e no norte da Espanha. Provoca secas na costa norte da África, tempestades no mar Mediterrâneo e tempo úmido e frio na Europa. O bater das asas de uma borboleta no Brasil pode iniciar um tornado no Texas?" Ou seja: queiram ou não os governantes de quaisquer matrizes político-ideológicas, estamos todos, em todo o mundo, irremediavelmente interconectados pelas condições naturais. Não há como falar em autonomia e soberania de países quando se trata de questões ambientais. No nosso caso, temos a obrigação de cuidar do Amazonas e da floresta amazônica não por serem nossos, mas porque pertencem a um planeta onde TODOS moramos.  Em 1963, o meteorologista Edward Lorenz do Instituto de Tecnologia de Massachussetts publicou um artigo demonstrando que uma mudança sutil numa condição atmosférica pode determinar mudanças inesperadas a milhares de quilômetros de distância. O título de uma palestra dele ficou famoso: "Previsibilidade: O bater das asas de uma borboleta no Brasil pode iniciar um tornado no Texas?". Foi um pulo para se popularizar a expressão "Efeito borboleta". A constatação do óbvio - estamos todos a bordo de uma nave que gira pelo espaço - permite a conclusão de que o retumbar dos punhos cerrados no peito dos líderes arrogantes bradando que tal rio é "nosso!" e tal floresta é "nossa!" e portanto podemos fazer com o rio e com a floresta o que nos der na telha é uma grossa e irresponsável falácia. As divisões políticas nada podem diante da natureza. Ela é uma só. Justamente por isso, variadas nações observam com enorme preocupação o quadro de devastação na floresta Amazônica, que de agosto do ano passado a agosto deste ano registrou um crescimento de 34,5% no desmatamento. Só a título de comparação, é como de um ano para outro sumisse do mapa uma área de floresta correspondente a duas vezes a área do Distrito Federal. Esse quadro da devastação, resultante principalmente de queimadas ilegais e garimpagens predatórias, vem afetando a imagem do Brasil no exterior mas, ultimamente, vem provocando sérios prejuízos comerciais ao Brasil. Empresas estrangeiras vêm anunciando boicote a produtos agropecuários brasileiros e grandes investidores anunciam a retirada de recursos de companhias que compram produtos de áreas abertas ilegalmente. Ou seja: lá fora, muita gente está de olho no "efeito borboleta". Os maiores conglomerados e os grandes fundos de investimento incorporaram aos seus protocolos de incentivo os cuidados ambientais. Não vão mais investir nem comprar produtos de quem degrada o meio ambiente. Mas o governo brasileiro, confrontado com o problema, reage de forma arrogante.  Durante evento no Aspen Institute, ao ser confrontado com os números do desmatamento, o ministro da Economia Paulo Guedes disparou contra os norte-americanos dizendo que os militares brasileiros entendem as preocupações deles porque "vocês (os americanos) desmataram suas florestas". Argumento pueril e pretensioso. Como se resolvesse alguma coisa dizer que, se a suçuarana norte-americana foi extinta, ninguém tem que se meter na falta de ação do governo brasileiro para evitar a extinção da nossa onça-pintada. Na mesma toada, o vice-presidente Hamilton Mourão, chefe do Conselho Amazônia, diante das denúncias de garimpagem ilegal na floresta, disse que os garimpeiros são os indígenas que moram lá. E defendeu um suposto direito de eles praticarem a garimpagem por meios próprios. Em momento algum o vice-presidente falou em apoio governamental para os índios praticarem o garimpo dentro do que preceitua a atual legislação. Ora, e quem garante que índios minerando ouro sem qualquer orientação técnica, não seriam tão predadores quanto não-índios realizando a mesma atividade? Além disso, diante dos números do desmatamento apontados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)  Mourão teve o desplante de colocar em dúvida os sistemas de monitoramento brasileiros, que segundo ele "não são os melhores". Claro, se o INPE apresentasse números que apontassem queda no desmatamento ele estaria era aplaudindo a precisão dos mecanismos de monitoramento. Que, aliás, lembre-se, já teve um diretor demitido por Bolsonaro, Ricardo Galvão, justamente por ter revelado números "inconvenientes" sobre áreas devastadas. Se a notícia é ruim, enforque-se o mensageiro. Numa palavra: é preciso sair do velho e batido ato reflexo de se defender arrogantemente da devastação apontando os erros dos outros. E começar a levar a sério, tratando como investimento e não como despesas os recursos e ações de governo aplicados na proteção ambiental. Área preservada não é mais sinônimo de inatividade agrícola, é  sinônimo de commodity. Vale dinheiro, muito dinheiro. Sem falar que, até por uma questão de nos reconhecer como habitantes de um único planeta, somos todos - todos, de qualquer raça, país, credo ou ideologia - responsáveis pela sua preservação. Os rios e os ventos não são do Egito, do Brasil nem de qualquer país: são propriedade do mundo. > Mais textos do colunista Paulo José Cunha  
Siga-nos noGoogle News
Compartilhar

Tags

economia desmatamento Inpe Rio Amazonas Paulo Guedes hamilton mourão ricardo galvão floresta amazônia Conselho Amazônia rio Nilo

Temas

Meio Ambiente Mundo Governo Colunistas
COLUNAS MAIS LIDAS
1

Direitos trabalhistas

Proteção desprotege?

2

Política internacional

A revanche de Trump contra o mundo e os idiotas úteis brasileiros

3

Política

Crise mostra que Tarcísio é refém eleitoral de Bolsonaro

4

Eleições e democracia

O financiamento eleitoral no Brasil em tempos de dinheiro público

5

Política econômica

Trump e o retorno do protecionismo radical: a geoeconomia à porta

Congresso em Foco
NotíciasColunasArtigosFale Conosco

CONGRESSO EM FOCO NAS REDES