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Paulo José Cunha

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6/11/2017 | Atualizado 10/10/2021 às 16:36

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Em 1920 Ray Bradbury escreveu Farenheit 451, romance distópico, ambientado numa sociedade do futuro onde tudo era proibido: livros, opiniões e pensamento crítico. 451 é a temperatura em graus Farenheit em que o papel entra em combustão. Corresponde a 233 graus Celsius. No romance, a missão dos bombeiros era queimar livros. Se a possibilidade da destruição de obras literárias já aparecia num  romance de ficção científica há quase um século, o que dizer dos dias atuais, em que a criação artística, o pensamento crítico, a opinião própria e a liberdade de expressão vêm sendo impiedosamente dinamitados pelos pontapés da intolerância? O futuro real também seria distópico? Alguns exemplos: a exposição Queermuseu foi cancelada em Porto Alegre após protesto do Movimento Brasil Livre (que de livre não tem xongas, pois apoia precisamente a castração da liberdade, e seu líder, Kim Kataguiri, é o melhor representante da vanguarda do atraso); o quadro Pedofilia, de Alessandra Cunha (que denuncia o crime que dá nome à obra) foi apreendido em Campo Grande sob a acusação de incentivar... a pedofilia!; e a performance La Bête, de Wagner Schwartz está sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo. Nela, os visitantes podem tocar o corpo nu de um homem. Uma criança, que foi à performance conduzida pelos próprios pais, tocou o braço do cara pelado. A família não viu nada demais. Muito menos pedofilia. Mas o mundo veio abaixo.
<< Juiz autoriza peça que mostra Jesus como travesti: "No popular, diríamos, irá quem quiser ver"
Arte moderna = arte degenerada Chagall, Kandisnski, Munch, Klee, Mondrian e o brasileiro Lasar Segall foram banidos das exposições em território alemão logo que Hitler assumiu, em 1933, sob a acusação de que praticavam "arte degenerada" -  denominação dada à arte moderna. Ainda outro dia, em 2001, o Talebã destruiu estátuas no Afeganistão, bombardeou a maior imagem de Buda e transformou museus e a cidade milenar de Palmira em pó. Alegação: as obras estimulariam a adoração de imagens. Aqui na capital de Pindorama,  foram depredadas e incendiadas estátuas de orixás do baiano Tatti Moreno, às margens do Lago Paranoá. No Rio, traficantes obrigaram fiéis a destruir objetos do candomblé aos gritos de "Em nome de Jesus, porra!" A burrice e a ignorância, primas-irmãs da intolerância, jogaram tanta titica no ventilador que, apesar da gravidade dos atos, tem hora que não dá pra segurar o riso. Na ditadura militar, ouvi relatos de professores da UnB que tiveram suas casas invadidas e romances como "O Vermelho e o Negro", de Sthendal foram apreendidos apenas porque a cor vermelha é associada ao comunismo. Livros sobre arte cubista foram parar nas delegacias, por suposta apologia ao regime cubano. Antes, obras de José Lins do Rego e Jorge Amado arderam na fogueira do cretinismo, durante o Estado Novo de Vargas. PQP! Ou seja: Por qual propósito? As neo-serpentes já chocaram seus ovos É bom lembrar aos neo-censores que o nu existe nas artes desde que um neandertal achou um pigmento e pintou alguma coisa numa pedra. Na Serra da Capivara, sul do Piauí, há dezenas de cenas de sexo - sexo selvagem da melhor qualidade! -  desenhadas há milhares de anos nos paredões e cavernas. Michelângelo e Donatello são responsáveis por duas obras-primas: representações escultóricas de Davi nu. Sem falar n'O Beijo e n'O Pensador (ambos de Rodin), e mais a Vênus de Milo e Hermes e Dionísio Menino (de autoria desconhecida). Todos nus. Na Grécia antiga o nu na arte não chocava. Ah, sim. Até hoje nossos índios andam nus por aí. Alguns milhares de anos depois, nisto que insistimos em chamar de  civilização, o nu provoca fechamento de exposições e discursos enfurecidos nas tribunas parlamentares.
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A onda de moralismo asqueroso vem associada ao que há de pior no autoritarismo político, no puritanismo hipócrita e no fanatismo religioso. Moralismo - patologia Conservadorismo em todas as áreas: na política, na religião, na liberdade de expressão, no avanço científico, no combate ao racismo, à homofobia, à misoginia, à pedofilia etc. Numa palavra: estamos em marcha-à-ré ladeira abaixo. Isto num momento em que se estimulam candidaturas que aplaudem ações de intolerância e os demais candidatos se calam pra não perder votos. A tentação totalitária está fazendo cócegas no eleitorado. Ainda ontem vi no gramado em frente ao Congresso um grupo de manifestantes com bandeiras do Brasil ("o patriotismo é o último refúgio dos canalhas") e faixas pregando a intervenção militar. Bergman tem um filme famoso sobre a república de Weimer, que antecedeu a ascensão do nazismo, chamado "O ovo da serpente". Numa escala de 1 a 10, o número de pessoas que apoiam atitudes autoritárias é de 8,1, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ou seja: as cobras venenosas já chocaram as neo-serpentes do nazifascismo. Elas já estão bem taludinhas e andam por aí de cabeça erguida. Têm nome, sobrenome e mandato parlamentar.
<< Do mesmo autor: Então, fica combinado assim - noções de realidade à brasileira
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Direitos humanos liberdade de expressão Porto Alegre intolerância pedofilia obras de arte Movimento Brasil Livre Grécia antiga ficção cientifica Ministério Público de São Paulo Queermuseu nu artístico arte sob censura performance La Bête Wagner Schwartz

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