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Beth Veloso
Tecnologia
22/10/2025 11:00
Um estudo da Agência Pública mostrou que as big techs têm um poder que vai muito além da economia digital.
Este estudo é inédito e tem uma relevância enorme. Nós estamos falando das empresas mais ricas do mundo, como Google, Meta, Amazon, TikTok. A investigação mobilizou 18 jornalistas em 13 países e foi liderada pela Agência Pública e o Centro Latinoamericano de Investigação Periodística (CLIP) e traz elementos que nenhum outro estudo havia reunido até agora. Eu conversei com a jornalista Laura Scofield, da Agência Pública, uma das coordenadoras do projeto "A Mão Invisível das Big Techs", que revelou como essas empresas atuam em diferentes países - inclusive no Brasil - para proteger seus interesses e manter seu domínio digital, como explica Laura Scofield.
"Por quê? Porque são empresas extremamente poderosas, a gente não precisa nem falar isso, que mediam as nossas relações o tempo inteiro e que estão atuando fortemente ao redor do mundo pra impedir tentativas de regulamentar elas, de regular e de regulamentar elas. Então a gente queria entender exatamente o que existe no Brasil, e é diferente dos outros países, mas também o que é comum entre os vários países. De que forma que o discurso delas aqui no Brasil é igual ao discurso delas, enfim, nos Estados Unidos, ou o que elas adaptam, como que elas atuam, se elas olham pro sul global como olham pro norte global."
O que seria maior: o poder político ou o poder econômico dessas empresas?
Essas empresas estão no centro de praticamente todas as nossas interações - sociais, profissionais e políticas. Quando publicamos, compramos ou apenas nos comunicamos, há sempre uma big tech envolvida. Mas o que quase nunca se discute é o que você levantou na abertura desse episódio do Papo de Futuro, ou seja, o poder político que essas empresas exercem - um poder que vai muito além da economia digital.
Laura Scofield nos revela um pouco dos bastidores dessa atuação política.
"Então, enfim, uma pessoa que trabalha como políticas públicas da Meta, que é uma das empresas que a gente olhou, que é dona de Facebook, WhatsApp, Instagram, ela é lobby direto, porque ela tá lá falando pela empresa, diretamente. Ela pode fazer várias coisas, tem várias estratégias possíveis dentro do lobby direto. Fazer encontros com parlamentares, promover viagens pra fora do Brasil, pra dentro do Brasil, mesmo escrever minutas e enviar, e criar relações de formas até menos explícitas, mas assim, confiar pra um outro evento sobre um outro tema, mas isso faz parte da construção de uma proximidade com aquele parlamentar que em algum momento pode ser útil."
E qual é o impacto direto desse lobby das big techs?
A pesquisa A Mão Invisível das Big Techs revela algo essencial: as estratégias dessas empresas não são isoladas - são globais e seguem um mesmo padrão, semelhante ao que já vimos na indústria do tabaco ou na indústria farmacêutica. O discurso muda um pouco conforme o país, mas o objetivo é o mesmo: reduzir o alcance das regulações e preservar um modelo de negócio baseado na coleta massiva de dados e na monetização da atenção humana.
Para isso, as empresas contam com o apoio de organizações do terceiro setor, consultorias e até de setores da academia, como explica Laura Scofield.
"E tem ainda, dentro desse grupo, o pessoal que não diz que está representando as empresas, que é uma prática interessantíssima, que a gente chama de astroturfing, que é quando existe uma criação de uma organização que se diz da sociedade civil, mas que, na verdade, e aí a gente tem que buscar formas de provar isso, ela é uma associação que está representando ali, indiretamente, um grupo de empresas. Então, são várias as estratégias possíveis e o legal é que a gente conseguiu mapear e contar, quantificar em quais situações que elas foram aplicadas nos países que participaram do projeto. A gente criou uma base interativa bem grande em que a pessoa pode clicar e ver práticas de lobby, de quais atores voltaram-se a quais políticos e explicar qual que era a intenção, se é possível identificar e tudo mais."
O que Laura descreve é uma rede de influência complexa. O lobby direto é feito pelas próprias empresas - com encontros, viagens, reuniões e até minutas de projetos enviadas a parlamentares. Já o chamado astroturfing é mais sofisticado: parece uma mobilização da sociedade civil, mas na verdade é uma fachada para interesses corporativos.
E é por isso que precisamos discutir não apenas a criação de novas leis, mas a forma como o Estado lida com essas empresas. Laura também comenta sobre a necessidade de fortalecer a regulação, o papel do ECA Digital, a importância da transparência e de políticas públicas voltadas à proteção de crianças e adolescentes.
O que essa fala deixa claro é que regular é mais do que criar leis. É preciso que o Estado tenha autonomia técnica e política para fiscalizar e impor limites, e que o Parlamento compreenda as dinâmicas tecnológicas para não legislar sob influência. O futuro da democracia digital depende disso.
Assista ao bate-papo:
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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