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Violência

E a violência estrutural, por que não se fala dela?

O Estado, a mídia e a cultura popular reforçam, desde cedo, uma lógica de exclusão e de confronto que molda gerações.

Paulo José Cunha

Paulo José Cunha

3/11/2025 15:00

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Embora a expressão tenha sido criada há mais de meio século pelo sociólogo norueguês Johan Galtung, pouco ou nada se fala sobre a violência estrutural, que está na base de diversas outras formas de segregação, como os preconceitos de raça, classe (desigualdades sociais), gênero (sexismo/machismo), orientação sexual (homofobia/LGBTfobia), religião, idade (etarismo), aparência física (gordofobia) e nacionalidade (xenofobia), entre outras. Sem falar nos preconceitos linguístico e de deficiência. A violência se naturalizou até se tornar invisível, razão pela qual nem chega a ser lembrada quando nos deparamos, como agora, com um debate sobre as raízes da chacina policial praticada no Rio de Janeiro. Mas vale a pena lançar um olhar sobre as origens dessa violência que se insinua de forma silenciosa desde os primeiros dias de nossas vidas.

Já parou pra reparar que desde a mais tenra idade as crianças se divertem assistindo desenhos ou produções nas quais a violência está na base das relações entre os personagens? Sem exceções, nessas produções há sempre alguém "do bem" contra alguém "do mal". Nenhum herói ou super-herói busca solucionar algum conflito através da negociação, sem uso de agressão ou armamento. Desde os heróis mais antigos como Tarzan, Superman, Batman, Hulk, Capitão América, Namor (o "Príncipe Submarino"), Flash, Thor e Homem-Aranha, todos resolvem tudo à base da porrada, do tiro ou da espada. Heroínas "ingênuas" dos quadrinhos brasileiros como a Mônica de Maurício de Souza igualmente resolvem seus conflitos à base de violência. Ela não hesita em esbofetear os adversários com seu coelho de pelúcia azul, o Sansão. Além de ser um brinquedo de grande significado emocional para ela, Sansão também é "arma" contra os meninos do bairro.

Tudo isso parece algo ingênuo e inocente. Mas, se ampliarmos a busca das origens da cultura da violência em que estamos inseridos, com certeza teremos de nos referir aos "heróis" que conformaram o imaginário atual de crianças e adultos. Tente se lembrar de algum conflito numa das histórias de "heróis" ou dos personagens citados acima, que tenham sido resolvidos pelo diálogo ou negociação. É o que também ocorre com os brinquedos atuais. Em qualquer loja, os apelos mais fortes são os dos brinquedos violentos, exibidos em grande destaque: facas, espadas, revólveres, metralhadoras, tanques de guerra, canhões etc. Além deles, em qualquer loja é possível encontrar batalhões de soldados com os quais as crianças podem brincar colocando-os em confronto armado. Como exigir que depois de adultos, se tornem adeptos da não-violência e do diálogo na resolução de conflitos?

O Brasil aprendeu a resolver tudo na base da força.

O Brasil aprendeu a resolver tudo na base da força.Marcelo Oliveira/RasPress/Folhapress

Além disso, a violência estrutural se perpetua através da manutenção de desigualdades sociais, culturais, de gênero, idade e etnia. Pela geração de miséria, fome e exclusão. E o próprio Estado é, sim, agente dessa violência ao proteger direitos de uns em detrimento dos direitos de outros pela prática de segregação e/ou discriminação.

A violência estrutural está tão normalizada e naturalizada que até hoje nenhum parlamentar, de qualquer casa legislativa em qualquer ponto do país, se tocou para a importância de apresentar um projeto proibindo a venda de brinquedos ou a exibição de produções que incentivem a violência como método de solução de conflitos.

Como a violência estrutural é praticamente invisível, é muito difícil dar-se conta de seus danos atuais e futuros. Sem falar nos heróis "regionais". Só pra exemplificar, até hoje um facínora como Lampião é glamourizado no Nordeste, onde atuou ao longo de anos praticando os mais abjetos atos de violência como torturas e assassinatos. Mas lá é tratado como... herói.

Diante de tal quadro de violência estrutural e naturalizada é fácil entender porque a ampla maioria dos entrevistados na pesquisa que apontou quase 90 por cento do Rio de Janeiro a favor da operação policial - melhor seria chamá-la de chacina - que resultou em 121 mortos. A cultura do confronto como método de solução de qualquer problema está tão entranhado no imaginário que só agora, depois do leite - e do sangue - derramados é que as digníssimas autoridades começam a debater a possibilidade de combater o crime organizado em suas bases, pelo estrangulamento de seus recursos financeiros, ou por ações de educação capazes de evitar a sedução dos jovens pelas facções, além de ações preventivas e não apenas reativas, entre outras. Claro que não há como abdicar de respostas armadas, quando necessárias. Mas tendo em vista em primeiro lugar a punição, e não apenas a extinção dos marginais. Queiram ou não queiram os que entendem em sentido contrário, eles merecem, sim, depois de presos, julgamento justo e amplo direito de defesa. Fora daí saímos do âmbito disso que chamamos de civilização e caímos na mais repulsiva barbárie.


O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].

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