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Congresso em Foco
Autoria e responsabilidade de Sylvio Costa
26/11/2018 | Atualizado às 16:08
![Bolsonaro faz o gesto que simboliza respeito à Constituição em solenidade que marcou os 30 anos da Carta Magna no Congresso[fotografo]Antonio Cruz / Agência Brasil[/fotografo] Bolsonaro faz o gesto que simboliza respeito à Constituição em solenidade que marcou os 30 anos da Carta Magna no Congresso[fotografo]Antonio Cruz / Agência Brasil[/fotografo]](https://static.congressoemfoco.com.br/2018/11/Jair-Bolsonaro-3.jpg) 
 
"A reforma da Previdência divide opiniões e deve indicar o rumo que o bolsonarismo tomará a partir do choque de três visões: o liberalismo de Paulo Guedes, o corporativismo dos militares e o pragmatismo dos políticos"Há, no entanto, um conjunto de características na agenda e nas práticas de Bolsonaro - e, de tabela, no PSL - que permitem facilmente identificá-los como extremistas. Entre elas, a defesa da ditadura de direita como forma legítima de governo (renegam-se apenas as ditaduras de esquerda); a exaltação de torturadores; o elogio da violência como arma contra os adversários e contra o crime; a ostensiva campanha contra direitos das mulheres e de outros segmentos sociais, como LGBT, negros, indígenas e quilombolas; e, sobretudo, o frágil compromisso com as regras democráticas. Quando disse que aceitaria os resultados eleitorais só em caso de vitória, Bolsonaro demonstrou pela enésima vez seu pouco apreço pela democracia. E isso tem se repetido, da parte dele, de seus seguidores e assessores, em várias situações posteriores à eleição, como nas frequentes tentativas de afrontar o trabalho dos jornalistas e no pedido para que professores sejam gravados em sala de aula. Sem falar que o vice-presidente eleito, o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), já mencionou mais de uma vez a possibilidade de intervenção militar para "garantir a ordem". Fim da era PSDB/PT Tucanos e petistas disputaram entre si, e venceram, seis eleições presidenciais sucessivas, entre 1994 e 2014, o que em geral ajudou a formar bancadas significativas para o Legislativo. Essa era, marcada pela polarização PSDB/PT, chegou ao fim. Aliás, o bolsonarismo raiz coloca os dois partidos dentro do mesmo saco ideológico, associando-os ao "esquerdismo irresponsável" que quebrou o Brasil. No caso do PSDB, os 29 deputados federais eleitos em outubro mostram que o partido mergulhou mais fundo no processo de decadência que vive desde 1998, quando elegeu 99 deputados federais e foi o partido com maior votação para a Câmara. Agora, fez a nona maior bancada, empatado com o DEM. Sob o aspecto eleitoral, também perderam força legendas grandes como o MDB e médias como PP, PR e PTB. Essas últimas, assim como outras menores de perfil conservador, tendem a compensar o que não obtiveram nas urnas com a busca de um lugar ao sol no latifúndio governista. [caption id="attachment_366390" align="alignnone" width="700"]
 "Vice-presidente eleito já mencionou mais de uma vez a possibilidade de intervenção militar para 'garantir a ordem'", lembra Sylvio Costa - Foto: Reprodução[/caption]
 
Impossível afirmar para onde estamos indo, mas é notório que a correlação de forças se deslocou para a direita. Após as eleições de 2014, os partidos com esse perfil passaram a contar com 202 deputados e 22 senadores. Agora, terão 264 cadeiras na Câmara e 37 no Senado.
Ganhar e perder posições faz parte do jogo partidário. O que está em questão aqui é algo maior. É o esgotamento de um ciclo político em que as principais forças antagônicas, PT e PSDB, e as bancadas que orbitavam em torno delas se mantinham conformadas em uma espécie de pacto que incluía a conciliação de política econômica ortodoxa com medidas compensatórias na área social, o respeito aos direitos humanos, o controle civil das Forças Armadas e o multilateralismo nas relações externas.
Basicamente, está sob risco tudo aquilo que alguns chamam de "pacto de 1988", em homenagem ao ano de promulgação da Carta constitucional em vigor. É sintomático que, depois de eleito, Bolsonaro tenha aparecido várias vezes com um exemplar da Constituição Federal nas mãos, para afastar temores estimulados pelos pendores antidemocráticos dele e de sua turma. Para seguidores do "mito" talvez seja o bastante, não para analistas independentes.
Militares voltam a ocupar postos civis, incluindo cargos-chave do ministério. As bancadas da bala, do boi e da Bíblia, tripé de sustentação do bolsonarismo no Congresso, exibem uma pauta que em vários aspectos colide com princípios constitucionais. A "escola sem partido", defendida a pretexto de impedir que professores façam doutrinação ideológica de alunos, põe em questão a liberdade de expressão e de cátedra. O Estatuto da Família proíbe o registro civil de parceiros do mesmo sexo e representa retrocesso em relação a vários direitos reconhecidos pelo Judiciário em favor das mulheres e de outros segmentos sociais.
 "Vice-presidente eleito já mencionou mais de uma vez a possibilidade de intervenção militar para 'garantir a ordem'", lembra Sylvio Costa - Foto: Reprodução[/caption]
 
Impossível afirmar para onde estamos indo, mas é notório que a correlação de forças se deslocou para a direita. Após as eleições de 2014, os partidos com esse perfil passaram a contar com 202 deputados e 22 senadores. Agora, terão 264 cadeiras na Câmara e 37 no Senado.
Ganhar e perder posições faz parte do jogo partidário. O que está em questão aqui é algo maior. É o esgotamento de um ciclo político em que as principais forças antagônicas, PT e PSDB, e as bancadas que orbitavam em torno delas se mantinham conformadas em uma espécie de pacto que incluía a conciliação de política econômica ortodoxa com medidas compensatórias na área social, o respeito aos direitos humanos, o controle civil das Forças Armadas e o multilateralismo nas relações externas.
Basicamente, está sob risco tudo aquilo que alguns chamam de "pacto de 1988", em homenagem ao ano de promulgação da Carta constitucional em vigor. É sintomático que, depois de eleito, Bolsonaro tenha aparecido várias vezes com um exemplar da Constituição Federal nas mãos, para afastar temores estimulados pelos pendores antidemocráticos dele e de sua turma. Para seguidores do "mito" talvez seja o bastante, não para analistas independentes.
Militares voltam a ocupar postos civis, incluindo cargos-chave do ministério. As bancadas da bala, do boi e da Bíblia, tripé de sustentação do bolsonarismo no Congresso, exibem uma pauta que em vários aspectos colide com princípios constitucionais. A "escola sem partido", defendida a pretexto de impedir que professores façam doutrinação ideológica de alunos, põe em questão a liberdade de expressão e de cátedra. O Estatuto da Família proíbe o registro civil de parceiros do mesmo sexo e representa retrocesso em relação a vários direitos reconhecidos pelo Judiciário em favor das mulheres e de outros segmentos sociais.
"O novo perfil do Parlamento tende a provocar um fantástico deslocamento da agenda nacional. O que está em questão é o esgotamento de um ciclo político"Juristas questionam a constitucionalidade de proposições como a redução da maioridade penal, o fim das audiências de custódia (nas quais o preso em flagrante é apresentado ao juiz em até 24 horas para que se confirme a legalidade da prisão) e outras medidas cogitadas no campo da segurança pública. No plano externo, a perspectiva é de se curvar às diretrizes de Trump. E, na esfera econômica, pergunta-se se o necessário ajuste fiscal será feito na medida dos limites humanos de uma nação em sua maioria pobre e na qual a plena realização do "Estado mínimo" pode causar verdadeira tragédia social. O que vem por aí é incerto, mas já se sabe quando e qual será a primeira grande batalha: a reforma da Previdência, que o novo governo quer aprovar no primeiro semestre de 2019 para a economia enfim sair do atoleiro em que está metida há quatro anos. O assunto divide opiniões e deve indicar o rumo que o bolsonarismo tomará a partir do choque de três visões: o liberalismo quebra-louças de Paulo Guedes, o corporativismo defensivo dos militares e policiais e o pragmatismo dos políticos fisiológicos que aderiram ao "mito". Alguns deles topam aprovar regras de aposentadoria mais rígidas desde que elas sejam aceitas pela maioria da opinião pública ou que eles sejam compensados, com cargos e outras benesses do poder, pelo desgaste eleitoral que o seu voto lhes pode trazer - o velho toma-lá-dá-cá com o qual Bolsonaro prometeu romper. Este texto foi produzido originalmente para a Revista da Abrig, que é publicada pela Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais.
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>> O que você precisa saber para entender o novo Congresso brasileiro
>> O Brasil sangra, e ninguém para de esticar a corda. Até quando?
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