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DESIGUALDADE RACIAL
20/11/2021 | Atualizado às 18:27
Sem representantes suficientes e com pouco engajamento de parte deste grupo, o momento atual é de impedir retrocessos - quando o próprio governo de Jair Bolsonaro tem pressionado contra políticas públicas de equidade racial. Desde o fim de 2019, se tornaram comuns as manchetes envolvendo o presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo - sempre por temas que passam longe do reconhecimento do racismo e da defesa da afro-brasilidade. Nesta semana, o ministro de Educação, Milton Ribeiro, disse a deputados ser contra cotas raciais nas universidades.
"À medida que não há legisladores negros, que não há essa representação nas casas legislativas, não há portanto pessoas com essas preocupações, pensando a formulação de políticas públicas", reconhece Leonor Costa, que também assessora o Psol na Câmara. "A ausência da representação de pessoas negras no Parlamento reflete nisso: quem pensa na formulação de políticas públicas para negros, para se tornar lei?"
"Não existe política para todas e todos, quando não somos representados", diz o senador Paulo Paim (PT-RS), um dos três autodeclarados pretos entre os integrantes do Senado. "No parlamento federal brasileiro, não é diferente."
Discussão sobre cotas ganha impulso
Bira do Pindaré, do PSB do Maranhão. Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados[/caption]
Bira do Pindaré lembra que o momento é de resistência. "Não temos como esperar grandes avanços, mas pelo menos preservar o que conseguimos conquistar até aqui", diz. Bira apresentou um projeto similar ao PL apresentado por Valmir Assunção, mas que prorroga apenas o prazo da revisão da política. O deputado maranhense sugere que o momento atual é inadequado para revisão, "seja pelo período curto de dez anos de experimentação da lei, que trouxe avanços que ainda não são suficientes, seja pelo ambiente político que é impróprio."
O parlamentar disse que nem o Ministério da Educação apresentou dados preliminares sobre os efeitos dessa política, nem o ministro Milton Ribeiro se mostra interessado na proposta.
Nesta quarta-feira (17), ao falar com deputados da Comissão de Educação, Milton Ribeiro reafirmou que não é hostil à política de cotas raciais, mas que sua visão sobre o tema é outra. "Cota pra mim tinha de ser de ordem social: ou o preto ou o branco ou o alemão ou o índio que não tem acesso social deveria ter acesso", argumentou. "É minoria, mas negros que tiveram condições de acesso e estudar em boas escolas não precisavam ter cota, ou alegar cotas. Simples assim."
Já o senador Paulo Paim enxerga no atual momento uma oportunidade de dobrar os esforços em busca de mais avanços. "Acredito que devemos, sim, lutar por conquistas raciais, pois se a população negra ainda vive em condições subumanas, não podemos crer que as exceções são as regras em nossa sociedade", disse. "Elaborar e implantar políticas públicas integradas para atender à população negra, precisa ser mais que discurso e sim a prática diária para atender uma população que sofre a cada minuto."
Nesta quinta-feira (18), o Senado aprovou uma proposta de Paim, neste sentido: alinhado com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), os senadores decidiram por igualar o crime de injúria racial a racismo. A proposta, aprovada por 63 votos sim, e nenhum contrário.
Wania Sant'anna. Foto: Reprodução[/caption]
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) - ele próprio um dos 21 deputados autodeclarado pretos - disse que a pandemia tornou nítido o fato de que a desigualdade, no Brasil, tem cor. "Se observarmos os números, é algo escandaloso - nós temos perto de 250 mortos para cada 100 mil habitantes na cidade de São Paulo para população negra, e 50% disso com a população branca", expôs o parlamentar. "Se olharmos o desemprego, o mapa da forme, o quesito cor e raça, fica nítida a desigualdade."
A historiadora Wania Sant'Anna, que é colunista do Congresso em Foco, concorda que o sofrimento infligido aos pretos e pardos durante a pandemia tem a ver com a forma como o país se forma, inclusive politicamente. "Claro que a resposta à pandemia seria absurdamente diferente se a maioria da população brasileira gozasse de outro status social econômico e político", apontou.
O desleixo com que a pandemia foi tratado no Brasil estaria ligado diretamente com a maneira como as elites veem esta população, argumentou a historiadora. "O racismo como ideologia contaminou a república brasileira, e ela ameaça a democracia brasileira. A república não atende a interesses de todos os cidadãos e cidadãs."
Wania completou: "Se nós tivéssemos um Congresso comprometido radicalmente com o enfrentamento ao racismo, nem este governo existia."
No Judiciário...
Joaquim Barbosa, do STF, em sessão em 2014. Foto: Nelson Barbosa/STF[/caption]
O STF, principal corte brasileira, não tem ministros que se declararam publicamente negros, e na história, apenas três deles foram assim identificados: Pedro Lessa, entre 1907 a 1921; Hermenegildo de Barros, entre 1917 a 1931; e Joaquim Barbosa, entre 2003 e 2014.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), 18,6% dos magistrados se declararam como pretos ou pardos. No Superior Tribunal Militar (STM), o índice chega a 21,6% - mesmo que as fotos dos ministros destes tribunais possam passar impressões distintas. Em perspectiva, os nove ministros autodeclarados negros seriam 16,1% de todos os ministros- junto a 47 brancos, ou 83,9% de todos os ministros. "Apesar do percentual de 17% como ministros, o número absoluto já demonstra que não se trata de número expressivo de pessoas", reconhece a publicação.
Em outras instâncias inferiores, a discrepância é ainda mais gritante: os desembargadores, cargo responsável por tomar decisões definitivas em tribunais de justiça estaduais e federais, tem em sua composição 138 negros, ou 8,8% de todos os desembargadores. São também 1.414 brancos, que representam 90,5% de todos os magistrados.
... e no gabinete de Bolsonaro 
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