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ECONOMIA
19/5/2025 | Atualizado às 10:01
Os cem primeiros dias de um governo costumam ser vistos como um marco simbólico uma espécie de batismo de fogo. No caso da administração de Donald Trump, esse período foi marcado por um episódio que ilustra, de forma emblemática, a delicada e tensa relação entre o poder político e os mercados financeiros.
A euforia inicial que cercou o chamado "Dia da Libertação" um discurso triunfante nos jardins da Casa Branca, onde Trump anunciou novas tarifas de importação foi rapidamente substituída por um pânico surdo nas entranhas de Wall Street. Em poucas horas, os índices despencaram até 20%, reacendendo memórias traumáticas das grandes crises de 2008 e 2020. O nervosismo se espalhou como pólvora: as bolsas asiáticas seguiram o mesmo caminho, com Tóquio liderando uma onda de liquidação que ameaçava contaminar o sistema financeiro global.
Foi nesse cenário de instabilidade aguda que um personagem discreto, mas influente, assumiu um papel decisivo. Scott Bessent, ex-colaborador de George Soros e profundo conhecedor dos mecanismos especulativos que movem o mercado, percebeu rapidamente o potencial destrutivo da situação. Diante do silêncio constrangedor de outras autoridades econômicas e da confiança quase cega do presidente, embarcou imediatamente rumo a Mar-a-Lago, onde Trump celebrava, ainda em clima de vitória, o que imaginava ser um marco de sua política comercial nacionalista.
A conversa entre os dois, embora pouco documentada, foi certamente tensa. Bessent sabia que o tempo era um luxo que não tinham. Conseguiu, ao que tudo indica, convencer o presidente a recuar mesmo que provisoriamente da implementação imediata das tarifas, sob pena de mergulhar o país e o mundo em uma nova crise financeira sistêmica.
A reação dos mercados foi imediata. Com o adiamento das medidas protecionistas, o governo conseguiu reorganizar sua narrativa, transformando um gesto impulsivo em uma iniciativa diplomática em busca de "novos acordos comerciais". A reversão da queda das bolsas foi tão rápida quanto a sua queda, demonstrando a sensibilidade extrema dos mercados às expectativas mais do que aos fatos.
Esse episódio, embora pontual, revelou uma característica notável da presidência Trump: a capacidade de corrigir o rumo diante de riscos reais. Apesar de seu estilo combativo e da retórica inflexível, Trump demonstrou saber modular suas ações econômicas frente à pressão do sistema financeiro. A prática de anunciar rupturas para, em seguida, recuar com teatralidade calculada, tornou-se uma marca de sua relação com o mercado, uma coreografia em que a volatilidade é utilizada como instrumento de barganha.
No entanto, como todo líder populista, Trump não conseguiria fugir, por muito tempo, das consequências de uma política econômica errática, sem eixo coerente ou ancoragem realista em um mundo globalizado. Logo após a breve recuperação dos mercados, outro movimento, desta vez mais profundo, começou a tomar forma: a tentativa de consolidar uma das bandeiras centrais de sua narrativa populista, a redução drástica de impostos sobre as classes mais ricas, sob a justificativa de que isso aumentaria a eficiência da já pujante economia americana.
O mercado, inicialmente encantado com promessas de cortes fiscais e desregulamentação, começou a vislumbrar os custos ocultos da empreitada. A realidade fiscal dos Estados Unidos, marcada por déficits crônicos que se acumulam há décadas, tornou-se impossível de ignorar. A agência de classificação de risco Moodys, cumprindo seu papel como uma das grandes auditoras externas da sustentabilidade fiscal americana, rebaixou a nota de crédito do país, retirando o cobiçado grau AAA do Tesouro dos EUA.
O doce de coco que Scott Bessent havia colocado na boca do governo foi retirado sem cerimônia e com sabor amargo. A perda da nota máxima de crédito, ainda que há muito alertada, marca simbolicamente a desconfiança estrutural do mercado em relação ao rumo fiscal do país. A notícia, escondida nos jornais durante o fim de semana, deve reverberar com força já no final da noite de domingo com a abertura dos mercados asiáticos. Juros e dólar responderão primeiro e com força - pois as Bolsas de Valores no mundo todo estão ainda anestesiadas pela porção mágica do populismo de Trump.
Com isso, o governo Trump, mais uma vez, se vê pressionado entre os limites da retórica e os imperativos da realidade. E o mundo, mais uma vez, segura a respiração.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para [email protected].
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