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Congresso em Foco
29/11/2018 | Atualizado 10/10/2021 às 17:41
![[fotografo]Reprodução[/fotografo] [fotografo]Reprodução[/fotografo]](https://static.congressoemfoco.com.br/2018/11/igualdade-racial.jpg) 
 
 Danilo Cabral ressalta importância das ações afirmativas para diminuir a desigualdade no Brasil - Foto: Divulgação[/caption]
 
A história da desigualdade é moldada pela forma como os atores políticos, sociais e econômicos enxergam o que é justo e o que não é, assim como pela influência relativa de cada um desses atores e pelas escolhas coletivas que disso decorrem. Ou seja, ela é fruto da combinação, do jogo de forças, de todos os atores envolvidos. Portanto, pode-se inferir das teses de Piketty que a presença das condições de desigualdade em determinada sociedade, ou mesmo sua superação, pressupõe intencionalidade por parte dos atores sociais que a dirigem. O desenvolvimento econômico por si só não assegura que esta condição seja suplantada.
Vejam vocês, estamos vivendo um momento político de enormes incertezas, com fortes indícios de retrocesso na agenda política de promoção da igualdade racial. Mais do que nunca se faz necessário reafirmar essas políticas, em especial as ações afirmativas, que tem sido objeto preferencial do ataque conservador. Políticas como a implementação da lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, a cota para negros em concursos públicos e acesso à universidades, assim como a criação de uma Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial com status de ministério, foram fundamentais para iniciar uma trajetória de afirmação desse tipo de política.
As políticas universais que objetivam reduzir as desigualdades sociais são importantes, porém, são insuficientes para reduzir o abismo que separam negros e brancos. Quando se analisa a evolução dos negros no mercado de trabalho como um exemplo dos benefícios e limites das políticas universais, percebe-se que há uma aproximação recente entre a renda do trabalho auferida por negros e brancos, mas longe de significar o fim das desigualdades.
Os dados levantados pelo Ipea para o Boletim Políticas Sociais nº 19 mostram que os rendimentos médios reais da população negra recebidos de todas as fontes, cresceram 56% entre 1992 e 2009, ante um aumento de 39% entre os trabalhadores brancos. No entanto, a diferença entre uns e outros continua significativa: na década de 1990, o rendimento dos negros equivalia a 50% do dos brancos; há dois anos, esta proporção passou a 57%. Os limites são evidentes quando se analisa a possibilidade de mobilidade dos negros dentro do mercado de trabalho.
As políticas gerais não afetam a maneira como os afrodescendentes chegam ao mercado, nem como são tratados dentro dele. A estrutura do vínculo com cor e raça não muda. Hoje, os negros são maioria nos setores econômicos com as piores condições laborais - agricultura, construção civil e trabalhos domésticos - e também nas posições mais precárias, sendo a maioria entre os profissionais não remunerados e assalariados sem carteira.
Esse debate precisa ser feito porque está no centro da argumentação contrária às ações afirmativas. Um dos argumentos contrários ao estabelecimento de políticas reparadoras baseadas em quesitos raciais é de que a exclusão social no Brasil não é determinada pela cor da pele, mas pela pobreza. Este é um dos pontos levantados, por exemplo, na arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), que questiona o sistema de cotas raciais no processo seletivo da Universidade de Brasília e que aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Também se deve ressaltar que existem resultados intangíveis da implementação de ações afirmativas no Brasil. Sem sombra de dúvida, elas tiveram o mérito de colocar, definitivamente, a discriminação e o preconceito na no centro da agenda pública. As desigualdades de gênero e raça são estruturantes para a desigualdade social brasileira, produzindo efeitos negativos não apenas para estes grupos específicos, mas para a sociedade como um todo. Por isso devem receber a devida atenção do poder público.
Foi isso que tentamos, na Comissão de Educação, nesta semana, com a audiência pública para debater "Os Desafios e as perspectivas sobre a Promoção da Igualdade Racial na Educação". Trouxemos para o centro da agenda desse colegiado a discussão sobre a promoção da igualdade racial. Queremos a nossa Comissão de Educação um espaço privilegiado de debate, articulação e luta!
Como nos ensinou Castro Alves: "A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor". Celebremos Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Luiz Gama, José do Patrocínio, Dragão do Mar, Castro Alves, enfim, todos os heróis do passado e do presente que nos inspiram a lutar contra a injustiça e o preconceito!
* Deputado federal pelo PSB e presidente da Comissão de Educação da Câmara.
 Danilo Cabral ressalta importância das ações afirmativas para diminuir a desigualdade no Brasil - Foto: Divulgação[/caption]
 
A história da desigualdade é moldada pela forma como os atores políticos, sociais e econômicos enxergam o que é justo e o que não é, assim como pela influência relativa de cada um desses atores e pelas escolhas coletivas que disso decorrem. Ou seja, ela é fruto da combinação, do jogo de forças, de todos os atores envolvidos. Portanto, pode-se inferir das teses de Piketty que a presença das condições de desigualdade em determinada sociedade, ou mesmo sua superação, pressupõe intencionalidade por parte dos atores sociais que a dirigem. O desenvolvimento econômico por si só não assegura que esta condição seja suplantada.
Vejam vocês, estamos vivendo um momento político de enormes incertezas, com fortes indícios de retrocesso na agenda política de promoção da igualdade racial. Mais do que nunca se faz necessário reafirmar essas políticas, em especial as ações afirmativas, que tem sido objeto preferencial do ataque conservador. Políticas como a implementação da lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, a cota para negros em concursos públicos e acesso à universidades, assim como a criação de uma Secretaria Nacional de Promoção da Igualdade Racial com status de ministério, foram fundamentais para iniciar uma trajetória de afirmação desse tipo de política.
As políticas universais que objetivam reduzir as desigualdades sociais são importantes, porém, são insuficientes para reduzir o abismo que separam negros e brancos. Quando se analisa a evolução dos negros no mercado de trabalho como um exemplo dos benefícios e limites das políticas universais, percebe-se que há uma aproximação recente entre a renda do trabalho auferida por negros e brancos, mas longe de significar o fim das desigualdades.
Os dados levantados pelo Ipea para o Boletim Políticas Sociais nº 19 mostram que os rendimentos médios reais da população negra recebidos de todas as fontes, cresceram 56% entre 1992 e 2009, ante um aumento de 39% entre os trabalhadores brancos. No entanto, a diferença entre uns e outros continua significativa: na década de 1990, o rendimento dos negros equivalia a 50% do dos brancos; há dois anos, esta proporção passou a 57%. Os limites são evidentes quando se analisa a possibilidade de mobilidade dos negros dentro do mercado de trabalho.
As políticas gerais não afetam a maneira como os afrodescendentes chegam ao mercado, nem como são tratados dentro dele. A estrutura do vínculo com cor e raça não muda. Hoje, os negros são maioria nos setores econômicos com as piores condições laborais - agricultura, construção civil e trabalhos domésticos - e também nas posições mais precárias, sendo a maioria entre os profissionais não remunerados e assalariados sem carteira.
Esse debate precisa ser feito porque está no centro da argumentação contrária às ações afirmativas. Um dos argumentos contrários ao estabelecimento de políticas reparadoras baseadas em quesitos raciais é de que a exclusão social no Brasil não é determinada pela cor da pele, mas pela pobreza. Este é um dos pontos levantados, por exemplo, na arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), que questiona o sistema de cotas raciais no processo seletivo da Universidade de Brasília e que aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Também se deve ressaltar que existem resultados intangíveis da implementação de ações afirmativas no Brasil. Sem sombra de dúvida, elas tiveram o mérito de colocar, definitivamente, a discriminação e o preconceito na no centro da agenda pública. As desigualdades de gênero e raça são estruturantes para a desigualdade social brasileira, produzindo efeitos negativos não apenas para estes grupos específicos, mas para a sociedade como um todo. Por isso devem receber a devida atenção do poder público.
Foi isso que tentamos, na Comissão de Educação, nesta semana, com a audiência pública para debater "Os Desafios e as perspectivas sobre a Promoção da Igualdade Racial na Educação". Trouxemos para o centro da agenda desse colegiado a discussão sobre a promoção da igualdade racial. Queremos a nossa Comissão de Educação um espaço privilegiado de debate, articulação e luta!
Como nos ensinou Castro Alves: "A praça! A praça é do povo Como o céu é do condor". Celebremos Zumbi, Dandara, Tereza de Benguela, Luiz Gama, José do Patrocínio, Dragão do Mar, Castro Alves, enfim, todos os heróis do passado e do presente que nos inspiram a lutar contra a injustiça e o preconceito!
* Deputado federal pelo PSB e presidente da Comissão de Educação da Câmara.
 
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