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Alessandra Nilo
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Análise: Financiamento para o desenvolvimento global e nacional
Alessandra Nilo
29/5/2020 | Atualizado 10/10/2021 às 16:07
![Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM) [fotografo] Alex Pazuello/Semcom [/fotografo]
 Cemitério Público Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM) [fotografo] Alex Pazuello/Semcom [/fotografo]](https://static.congressoemfoco.com.br/2020/04/rsz_49828962208_f8206d771f_k_1.jpg) 
 
 Chegado maio, seguimos perdendo tempo e vidas e nos tornamos foco de preocupação da comunidade internacional, preocupado com as equivocadas decisões e galhofas inapropriadas da maior autoridade nacional, como embasadamente pontuou a The Lancet, a mais longeva e respeitada revista científica do mundo. Vários países da região fecharam fronteira conosco e até os Estados Unidos baniram a entrada de brasileiros/as  ou viajantes estrangeiros que tenham por aqui passado. O fato é que assistimos estarrecidos a Presidência da República disputar com a covid-19 o posto de inimigo publico nº 1 do Brasil, desviando a atenção das instituições nacionais  do objetivo maior de vencer a pandemia. 
Além do desafio político, vale lembrar que quando o Brasil decretou a calamidade pública em março, pondo todo o sistema de saúde em alerta, nós, que atuamos na área, já sabíamos o tamanho do desafio que seria enfrentar a covid-19 com o Sistema Único de Saúde longe de sua capacidade total e, assim como a OMS, sem os investimentos necessários, especialmente desde a aprovação da Emenda Constitucional 95, uma ideia de contenção fiscal antipatriótica popularizada com o nome Teto de Gastos.
Como mostra a campanha #AcabaTetoDeGastos, lançada pela Coalizão Direitos Valem Mais, do qual o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 é membro,  quando SARS-Cov-2 aqui desembarcou, talvez em uma roupa chique no aeroporto de São Paulo, o Brasil já estava com um sistema de saúde pública adoecido que a cada ano precisava atender mais pessoas, com menos recursos: nos últimos dois anos a população aumentou em 3,2 milhões de pessoas, mas, por causa da EC 95, a saúde pública perdeu, no período, investimentos da ordem de R$ 30 bilhões. 
A história é conhecida. Com o país saindo de PIBs negativos em 2015 e 2016, o governo Temer se aproveitou de um parlamento despreparado e em parte indiferente às necessidades da população brasileira, consolidando uma falsa narrativa de que este era o tipo de teto de gastos que o Brasil precisava. Já no primeiro trimestre vimos, ao contrário da narrativa do ministro Paulo Guedes, um economista de visão obsoleta e pouco capaz, o país não estava pronto para decolar, ele patinava, escorregando em um crescimento de 1,1% no PIB de 2019, apelidado de "pibinho", sem que se apresentasse nenhuma alternativa capaz de nos recuperar da recessão iniciada seis anos atrás. Neste sentido, vale ler a análise do Inesc sobre o orçamento público federal e a impossibilidade de áreas estratégicas reagirem eficazmente na batalha contra a covid-19. 
> PIB encolhe 1,5% no primeiro trimestre e volta ao patamar de 2012
Chegado maio, seguimos perdendo tempo e vidas e nos tornamos foco de preocupação da comunidade internacional, preocupado com as equivocadas decisões e galhofas inapropriadas da maior autoridade nacional, como embasadamente pontuou a The Lancet, a mais longeva e respeitada revista científica do mundo. Vários países da região fecharam fronteira conosco e até os Estados Unidos baniram a entrada de brasileiros/as  ou viajantes estrangeiros que tenham por aqui passado. O fato é que assistimos estarrecidos a Presidência da República disputar com a covid-19 o posto de inimigo publico nº 1 do Brasil, desviando a atenção das instituições nacionais  do objetivo maior de vencer a pandemia. 
Além do desafio político, vale lembrar que quando o Brasil decretou a calamidade pública em março, pondo todo o sistema de saúde em alerta, nós, que atuamos na área, já sabíamos o tamanho do desafio que seria enfrentar a covid-19 com o Sistema Único de Saúde longe de sua capacidade total e, assim como a OMS, sem os investimentos necessários, especialmente desde a aprovação da Emenda Constitucional 95, uma ideia de contenção fiscal antipatriótica popularizada com o nome Teto de Gastos.
Como mostra a campanha #AcabaTetoDeGastos, lançada pela Coalizão Direitos Valem Mais, do qual o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 é membro,  quando SARS-Cov-2 aqui desembarcou, talvez em uma roupa chique no aeroporto de São Paulo, o Brasil já estava com um sistema de saúde pública adoecido que a cada ano precisava atender mais pessoas, com menos recursos: nos últimos dois anos a população aumentou em 3,2 milhões de pessoas, mas, por causa da EC 95, a saúde pública perdeu, no período, investimentos da ordem de R$ 30 bilhões. 
A história é conhecida. Com o país saindo de PIBs negativos em 2015 e 2016, o governo Temer se aproveitou de um parlamento despreparado e em parte indiferente às necessidades da população brasileira, consolidando uma falsa narrativa de que este era o tipo de teto de gastos que o Brasil precisava. Já no primeiro trimestre vimos, ao contrário da narrativa do ministro Paulo Guedes, um economista de visão obsoleta e pouco capaz, o país não estava pronto para decolar, ele patinava, escorregando em um crescimento de 1,1% no PIB de 2019, apelidado de "pibinho", sem que se apresentasse nenhuma alternativa capaz de nos recuperar da recessão iniciada seis anos atrás. Neste sentido, vale ler a análise do Inesc sobre o orçamento público federal e a impossibilidade de áreas estratégicas reagirem eficazmente na batalha contra a covid-19. 
> PIB encolhe 1,5% no primeiro trimestre e volta ao patamar de 2012
 Com o SUS sofrendo ataques verbais e financeiros, com deficiência de pessoal, equipamentos, infraestrutura ou insumos suficientes para responder à covid-19, com o tecido social em frangalhos e a economia em queda livre, nunca foi tão necessário ao país uma gestão de bom senso, capaz de valorizar o trabalho em equipe, coordenar os entes federativos e intensificar a cooperação internacional. 
No entanto, é quase de queixos caídos que nos deparamos com um Ministério da Saúde atado e um Poder Executivo especialista em criar novos conflitos: o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril apenas tornou público o que já se sabia, que o foco do primeiro escalão do governo brasileiro não é cuidar das pessoas e do país, mas sim tirar proveito de uma terrível calamidade para desregular políticas públicas que levaram décadas para começar a responder aos imensos desafios socioambientais e econômicos que o Brasil já enfrentava antes da pandemia.
A situação agora é tão grave, tão grave que, apesar de não caber em um artigo, passou a ser registrada pelo Pacto pela Democracia, que passou a monitorar os  ataques sequenciais do governo central ao Estado de Direito e à Constituição.  Além dos interesses privados questionáveis desses agentes públicos, ali se comprova que as mais importantes autoridades nacionais, o presidente incluído, além de não acumularem capacidade cognitiva para lidar com a pandemia, atuam com irresponsabilidade e sem o mínimo decoro, empenhadas em fazer a única coisa em que são peritas: instaurar o ódio  e tramar contra as instituições públicas que tentam reagir ao novo coronavírus. 
Obviamente, ter uma nação vilipendiada pelo governo eleito seria inaceitável em qualquer país democrático. Mas ver este governo fazer isso em meio a tantas crises é surpreendente, espero, até para muitos de seus eleitores. Tal situação exige resposta à altura dos demais poderes da República. Falo do uso da força da lei que lhes compete, pois não se sana uma situação tão complexa como esta com simbólicas notas de repúdio.
Diante dessa emergência, com 211 milhões de pessoas para cuidar em território de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, a ausência de uma coordenação central do governo federal precisa ser enquadrada e as instituições que silenciarem serão cúmplices de tal desmantelo. É urgente impedir que o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros sigam atrapalhando a ciência, evitando que o país enfrente a pandemia com maior eficácia. E para isso não precisamos de golpe, a Constituição Federal do Brasil basta. Apenas sigam a lei.
No momento em que escrevo, já somos o segundo país do mundo em número de casos, com mais de  400.000 pessoas infectadas e 26.754 vidas perdidas para a covid-19. Um maio verdadeiramente sombrio.
Leia outros artigos de Alessandra Nilo
> As últimas notícias da pandemia de covid-19
Com o SUS sofrendo ataques verbais e financeiros, com deficiência de pessoal, equipamentos, infraestrutura ou insumos suficientes para responder à covid-19, com o tecido social em frangalhos e a economia em queda livre, nunca foi tão necessário ao país uma gestão de bom senso, capaz de valorizar o trabalho em equipe, coordenar os entes federativos e intensificar a cooperação internacional. 
No entanto, é quase de queixos caídos que nos deparamos com um Ministério da Saúde atado e um Poder Executivo especialista em criar novos conflitos: o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril apenas tornou público o que já se sabia, que o foco do primeiro escalão do governo brasileiro não é cuidar das pessoas e do país, mas sim tirar proveito de uma terrível calamidade para desregular políticas públicas que levaram décadas para começar a responder aos imensos desafios socioambientais e econômicos que o Brasil já enfrentava antes da pandemia.
A situação agora é tão grave, tão grave que, apesar de não caber em um artigo, passou a ser registrada pelo Pacto pela Democracia, que passou a monitorar os  ataques sequenciais do governo central ao Estado de Direito e à Constituição.  Além dos interesses privados questionáveis desses agentes públicos, ali se comprova que as mais importantes autoridades nacionais, o presidente incluído, além de não acumularem capacidade cognitiva para lidar com a pandemia, atuam com irresponsabilidade e sem o mínimo decoro, empenhadas em fazer a única coisa em que são peritas: instaurar o ódio  e tramar contra as instituições públicas que tentam reagir ao novo coronavírus. 
Obviamente, ter uma nação vilipendiada pelo governo eleito seria inaceitável em qualquer país democrático. Mas ver este governo fazer isso em meio a tantas crises é surpreendente, espero, até para muitos de seus eleitores. Tal situação exige resposta à altura dos demais poderes da República. Falo do uso da força da lei que lhes compete, pois não se sana uma situação tão complexa como esta com simbólicas notas de repúdio.
Diante dessa emergência, com 211 milhões de pessoas para cuidar em território de mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, a ausência de uma coordenação central do governo federal precisa ser enquadrada e as instituições que silenciarem serão cúmplices de tal desmantelo. É urgente impedir que o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros sigam atrapalhando a ciência, evitando que o país enfrente a pandemia com maior eficácia. E para isso não precisamos de golpe, a Constituição Federal do Brasil basta. Apenas sigam a lei.
No momento em que escrevo, já somos o segundo país do mundo em número de casos, com mais de  400.000 pessoas infectadas e 26.754 vidas perdidas para a covid-19. Um maio verdadeiramente sombrio.
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