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Cezar Britto
Cezar Britto
25/8/2017 | Atualizado 10/10/2021 às 15:47
[fotografo]Marcelo Camargo/Agência Brasil[/fotografo][/caption]A reflexão que trago decorre da repetição, divulgação, incentivo e apoio ao gesto agressivo praticado contra a mulher batizada Maria do Rosário. Nas redes sociais, nos debates etílicos ou em ambientes regados pelo moralismo machista, encontram-se milhares de pessoas afirmando que a deputada, por dela não se gostar, por discordar de sua atuação ou do partido político em que é filiada, merecia ser estuprada, violentada ou até mesmo assassinada.
Nas vozes estimuladoras da prática que faz uma mulher ser violentada a cada 11 minutos no Brasil, escutam-se os ruídos raivosos de milhares de mulheres. E nos gritos que procuram "justificar" o crime que ceifa a vida, física e psíquica, de infinitas crianças e adolescentes brasileiras, ouve-se vozeares de mães. E assim, Marias, Penhas, Anas, Fernandas, Adrianas, Josefas e milhões de mulheres são, diariamente, acusadas do crime de merecimento.
Este é o rosário que faz do machismo um adversário de difícil combate, até porque fecundado, gerado e criado por homens e mulheres que acreditam na superioridade natural do gênero masculino. Este é o rosário que, como série que teima em não se interromper, frequenta lares, locais de trabalho, ônibus, vans, igrejas, parlamentos, sindicatos e infinitos cantos e recantos que não cantam o respeito à pessoa humana nascida mulher. Este é o rosário que transfere para a mulher a merecida culpa de ter sido assassinada, estuprada, violentada, humilhada ou subjugada pelo machismo que ousa se dizer vítima inocente dos costumes. Este é o rosário que fez o Brasil ser forçado, por sua confessa ação-omissiva no combate à violência contra a mulher, a aprovar a Lei Maria da Penha, apontando que "tapa de desamor dói e dá cadeia".
Eis porque a decisão de Rosário, de processar o seu contumaz agressor, mesmo sendo agredida pelo violento séquito que o segue, é de importância vital para reafirmar que o grave crime de estupro não pode ser tolerado, estimulado por palavras ou reconhecido como direito natural do homem. O seu corajoso gesto, não desistindo da árdua luta, mesmo quando agredida pelas mulheres e mães que diariamente defende em sua atividade parlamentar, fez-me lembrar de Harriet Tubman, a primeira mulher a liderar uma expedição armada na Guerra de Secessão, quando comandou mais de setecentos soldados na abolicionista e humanitária estadunidense. É dela a frase como registro do rosário que se recusa a rezar o machismo: Libertei milhares de escravos. Poderia ter libertado outros tantos milhares, se eles soubessem que eram escravos.
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