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Ricardo de João Braga
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12/3/2021 | Atualizado 27/7/2021 às 14:09
Bolsonaro tenta vender para a população uma imagem que não corresponde à realidade de seu governo [fotografo] J. Camargo/Pixabay[/fotografo][/caption]Para muitos, uma reeleição de Bolsonaro em 2022 seria uma catástrofe real e a continuidade de um pesadelo moral. Contudo, a realidade não se dobra aos juízos de valor. Pululam na sociedade pedidos de impeachment, mas hoje o cenário mais provável é um Bolsonaro competitivo no pleito do ano que vem, e sua estratégia consistirá em manter a dissociação entre realidade e discurso, o que é o tema do Farol desta semana.
Eleição atípica: presidenciáveis participam de debate na TV Gazeta dois dias após Bolsonaro ter recebido facada na barriga[/caption]
As eleições de 2022 devem trazer de volta, ao menos parcialmente, o cenário mais usual. Nesses casos, o eleitor se preocupa com suas necessidades mais imediatas, como emprego, renda, prestação de serviços públicos e, na presença de um candidato à reeleição, avalia se o incumbente fez um bom trabalho e merece voltar ao posto. Assim o Bolsonaro antissistema, antes vitorioso, não poderá se repetir. Agora ele é sistema, e esse é seu desafio. Ainda que, por vezes, ele queira se eximir de suas responsabilidades e jogar os fracassos ou a falta de ação de seu governo nas costas dos demais poderes.
Volta de Lula à corrida eleitoral aumenta pressão sobre Bolsonaro [fotografo]Ricardo Stuckert[/fotografo][/caption]Nesta semana, a decisão do Supremo Tribunal Federal de anular todos os processos e condenações do ex-presidente Lula relacionados à Lava Jato em Curitiba, o que, na prática, o tornou novamente elegível e forte pré-candidato ao Planalto em 2022, impôs a Bolsonaro uma oportunidade - a de polarizar ainda mais a disputa eleitoral - e um desafio - enfrentar um adversário que, a despeito de ter a imagem associada à corrupção, deixou uma série de programas sociais como legado de seus governos.
A volta de Lula ao jogo afasta Bolsonaro, ainda mais, da agenda liberal e o impele a adotar um modelo mais gastador. Mas, diante das dificuldades de caixa, aprofundadas pela pandemia, a tendência é que os acenos à população de baixa renda sejam mais retóricos do que práticos. O descumprimento dessas promessas, no entanto, tende a ser desmascarado mais facilmente pela população com a falta de dinheiro no bolso e de comida no prato.
Independentemente Da Vitoria de Lula na Justiça, Bolsonaro demonstra duas fontes potenciais de fraqueza. Por um lado, a possibilidade de queda de apoio derivada da crise econômica e de um nefasto e previsível recrudescimento da pandemia no futuro imediato.
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Manifestação, em São Paulo, pelo pagamento do auxílio emergencial até o fim da pandemia. Governo promete apenas mais quatro meses de benefício [fotografo]Elineudo Moura[/fotografo][/caption]Por outro, a construção de uma alternativa palatável de centro que atraia o eleitorado. De fato, um governo razoável tende a vencer a reeleição se postado mais ao centro do espectro ideológico. Posicionando-se na extrema, abre possibilidades para um concorrente de centro, o que é o caso potencial do pleito de 2022. Daí o desejo ardente do presidente em concorrer num segundo turno contra o candidato do PT, sua melhor chance. Ele não contava, no entanto, que esse candidato pudesse ser Lula, já que a anulação de suas condenações não era dada como certa.
De toda forma, para conseguir votos além do círculo de evangélicos fiéis aos seus projetos e da direita radical alinhada aos seus projetos armamentistas, Bolsonaro precisará contornar as críticas ao mau desempenho econômico, à crise humanitária da pandemia, à inação do governo na pauta econômica e ao desmonte de políticas de meio ambiente, direitos humanos, relações exteriores. Ele precisa convencer que governou bem.
Bolsonaro atribui aos governadores que restringem comércio por causa da pandemia números negativos da economia [fotografo]Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr[/fotografo][/caption]Soma-se agora à estratégia a nova rodada de auxílio emergencial, que contemplará a população ao menos até junho, embora haja razões e mais razões políticas para ele se estender o máximo possível. Novamente aqui, Bolsonaro aproveita-se da fortuna, pois a necessidade popular, justa e legítima, não contará com sua incúria no trato da pandemia, apenas o louvará pelo auxílio monetário.
Bolsonaro vai, assim, construindo-se como um bólido populista em direção a 2022. Procura cultivar o povo, seu esteio para uma próxima eleição, com versões da realidade e o auxílio emergencial. Não basta mais dizer que fará diferente, que redimirá o Brasil; precisa convencer que governou bem. O quanto ele conseguirá manter uma versão da realidade na qual ele é pai do bom e irresponsável pelo mau dará a medida de seu sucesso. Se demagogia precisa de definição, aí está.
No caminho, abandona as esperanças da elite econômica, destroça as expectativas moralistas dos lavajatistas, afasta governadores, prefeitos e outras autoridades, envergonha o Brasil internacionalmente, mas avança em direção à meta.
Por tudo, essa carreira nos parece uma corrida contra o tempo, como se a fachada elaborada e nutrida pelo presidente fosse despedaçar-se a qualquer momento. A dúvida apenas reside se isso acontecerá a tempo de acabar com suas chances de reeleição ou depois.
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